Nas últimas décadas, foram lançadas tendências orientadas a fazer prevalecer, na identidade e na missão do sacerdote, a dimensão do anúncio, separando-a daquela da santificação; frequentemente afirmou-se que seria necessário superar uma pastoral meramente sacramental. Mas é possível exercitar autenticamente o Ministério sacerdotal “superando” a pastoral sacramental? O que significa exatamente para os sacerdotes evangelizar, em que consiste o chamado primeiro do anúncio? Conforme relatam os Evangelhos, Jesus afirma que o anúncio do Reino de Deus é o objetivo de sua missão; esse anúncio, no entanto, não é apenas um “discurso”, mas inclui, ao mesmo tempo, o seu próprio agir; os sinais, milagres que Jesus realiza indicam que o Reino surge como realidade presente e que coincide, ao final, com a sua própria pessoa, com o dom de si mesmo, como ouvimos hoje na leitura do Evangelho. E o mesmo vale para o ministro ordenado: ele, o sacerdote, representa Cristo, o Enviado do Pai, continua a sua missão, mediante a “palavra” e o “sacramento”, nesta totalidade de corpo e alma, de sinal e palavra. Santo Agostinho, em uma carta ao Bispo Onorato di Thiabe, referindo-se aos sacerdotes, afirma: “Façamos, então, os servos de Cristo, ministros da Palavra e do Sacramento d’Ele, o que ele ordenou ou permitiu” (Epist. 228, 2). É necessário refletir se, em alguns casos, o ter subestimado o verdadeiro exercício do munus sanctificandi não tenha, talvez, representado um enfraquecimento da própria fé na eficácia salvífica dos Sacramentos e, em definitivo, no operar atual de Cristo e do Seu Espírito, através da Igreja, no mundo.
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Quem, então, salva o mundo e o homem? A única resposta que podemos dar é: Jesus de Nazaré, Senhor e Cristo, crucificado e ressuscitado. E onde se atualiza o Mistério da morte e ressurreição de Cristo, que traz a salvação? Na ação de Cristo através da Igreja, em particular no Sacramento da Eucaristia, que torna presente a oferta sacrifical redentora do Filho de Deus, no Sacramento da Reconciliação, em que da morte do pecado se vai à vida nova, e em todo o ato sacramental de santificação (cf. Presbyterorum Ordinis, 5). É importante, então, promover uma catequese adequada para ajudar os fiéis a compreender o valor dos Sacramentos, mas também é necessário, seguindo o exemplo do Santo Cura d’Ars, ser disponíveis, generosos e atentos no doar aos irmãos os tesouros da graça que Deus colocou em nossas mãos, e dos quais não somos os “mestres”, mas tutores e administradores. Sobretudo neste nosso tempo, em que, de um lado, parece que a fé vai enfraquecendo-se e, por outro, emerge uma profunda necessidade e uma ampla busca de espiritualidade, é necessário que todo o sacerdote recorde que, na sua missão, o anúncio missionário e o culto e adoração e os sacramentos não estão mais separados e promova uma saudável pastoral sacramental, para formar o Povo de Deus e ajudá-lo a viver plenamente a Liturgia, o culto da Igreja, os Sacramentos como dons gratuitos de Deus, atos livres e eficazes de sua ação salvadora.
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A verdade segundo a qual no sacramento “não somos nós homens a fazer qualquer coisa” diz respeito, e deve dizer respeito, também à consciência sacerdotal: cada sacerdote sabe bem que é um instrumento necessário para o agir salvífico de Deus, mas ainda assim sempre instrumento. Tal consciência deve torná-los humildes e generosos na administração dos Sacramentos, no respeito às normas canônicas, mas também na profunda convicção de que sua missão é garantir que todos os homens, unidos a Cristo, possam oferecer-se a Deus como hóstia viva e santa apreciada por Ele (cf. Rm 12,1).
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Queridos sacerdotes, vivei com alegria e amor a Liturgia e o culto: é ação que o ressuscitado realiza no poder do Espírito Santo em nós, com nós e por nós. Desejo renovar o apelo feito recentemente para “retornar para o confessionário, como lugar no qual celebrar o Sacramento da Reconciliação, mas também como lugar em que ‘habitar’ com mais frequência, para que o fiel possa encontrar misericórdia, conselho e conforto, sentir-se amado e compreendido por Deus e experimentar a presença da Misericórdia Divina, ao lado da Presença real na Eucaristia” (Discurso à Penitenciaria Apostólica, 11 de março de 2010). E desejo também convidar todo o sacerdote para celebrar e viver com intensidade a Eucaristia, que está no coração do ofício de santificar; é Jesus que deseja estar conosco, viver em nós, doar-se a si mesmo, mostrar-nos a infinita misericórdia e ternura de Deus; é o único Sacrifício de amor de Cristo que se faz presente, se realiza entre nós e leva rumo ao trono da Graça, à presença de Deus, abraça a humanidade e nos une a Ele (cf. Discurso ao Clero de Roma, 18 de fevereiro de 2010)
Catequese do Santo Padre, o Papa Bento XVI, sobre o Munus sanctificandi - 5 de maio de 2010
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