quarta-feira, 30 de junho de 2010

Uma questão de saúde pública?


Joga-se muito com a desatenção do povo, ou até com sua suposta ignorância. O presidente Lula, em que pese sua promessa nebulosa aos Bispos em 2005, é decididamente a favor do aborto. Acompanham-no nesta sua postura, o ministro da saúde, e é claro, sua presumida sucessora Dilma. Esta, para encantar o eleitorado católico, chegou a visitar oficialmente o Papa (sem ter convicção pessoal). O efeito foi conquistar os votos de clérigos, invadindo até seu primeiro escalão. A vitória se delineia fácil, e por isso não se vê necessidade de ocultar coisa nenhuma. Tudo é dito às claras. A resistência ao secularismo governamental é nula. É uma submissão geral. Os princípios cristãos que ainda vigem em nossa vida pública, deverão se retirar para a diáspora das consciências. Na frente de ouvintes qualificados Lula afirmou que a introdução da lei do aborto, “é uma questão de saúde pública em nosso país”. Lembramos o salmo: “Lembra-te do povo que redimiste como tua herança” (Sl 74,2).

É bom saber que existe muita manipulação de estatísticas, ao se falar sobre a taxa anual de abortos. Sobretudo são falsas as notícias sobre o número de mulheres mortas em decorrência de “abortos inseguros”. Segundo informações do DATASUS (2006), o número de mortes maternas em decorrência dessa prática, nunca passou de 163 por ano.(Ver “Faça alguma coisa pela vida” N. 96) Por isso diz-se falsamente que a legalização, “evitaria milhões de mortes maternas”. Uma vez que o governo faz apologia da interrupção da gravidez, por qualquer motivo, as grandes redes de TV precisam entrar nessa linha. Caso contrário perdem as ricas inserções de propaganda do poder público. Sem as benesses do governo até a Globo fecha. Por isso, mais do que rapidamente, foi introduzida a novela “Passione”, que procura fazer a cabeça do povo, a mando do governo. Vamos supor, por um exagero de fantasia, que o governo declarasse que o assalto às residências deve ser assunto de “saúde pública”. Para tal efeito se publicariam estatísticas incrementadas de mortes de assaltantes, cujas investidas estariam sendo feitas em condições inseguras. Para completar a hílare situação, o governo proporia legalizar o assalto, para que todo cidadão, rico ou pobre, pudesse realizar um assalto seguro. Essa é a conversa que os líderes da nação fazem ao falar de aborto.

Visto em: Fratres in Unum

sábado, 26 de junho de 2010

A curva de Padre Ratzinger a Bento XVI.


Resenha de Nicholas Lash – National Catholic Reporter

THEOLOGICAL HIGHLIGHTS OF VATICAN II [DESTAQUES TEOLÓGICOS DO VATICANO II]
Por Joseph Ratzinger
Publicado pela Paulist Press, $ 16,95

Após cada uma das quatro sessões do Concílio Vaticano II, Joseph Ratzinger, o jovem teólogo alemão que atuou como consultor perito do Cardeal Joseph Frings, de Colônia, na Alemanha, publicava um livreto informativo sobre a sessão recém concluída. Em 1966, um ano após o término do concílio, esses livretos foram recolhidos em forma de livro, tanto em inglês quanto em alemão. Agora este livro foi reeditado, com uma introdução feita pelo padre jesuíta Thomas Rausch.

Embora a primeira sessão do concílio não tenha produzido resultados concretos, de acordo com Ratzinger, ela foi excepcionalmente importante por dois motivos. Em primeiro lugar, ao recusar-se a endossar os materiais preparados pela Cúria Romana, “o colégio dos bispos” demonstrou que “era uma realidade em si”. O esquema preparatório sobre a revelação, por exemplo, foi “completamente um produto da mentalidade ‘anti-modernista’”, de acordo com Ratzinger. Será que a “negação quase neurótica de tudo o que era novo” continuaria? Ou será que a Igreja “viraria uma nova página, e seguiria em frente em um encontro novo e positivo com as suas próprias origens, com os seus irmãos, e com o mundo contemporâneo? Uma vez que uma clara maioria dos padres optaram pela segunda alternativa, podemos mesmo falar do concílio como um novo começo”.

Ao rejeitar o esquema da revelação, “o concílio tinha afirmado a sua própria autoridade magisterial. E agora, contra as congregações da Cúria, que servem a Santa Sé e as suas funções de unificação, o concílio fez com que a voz do episcopado fosse ouvida – não, a voz da Igreja universal”.

Em segundo lugar, o primeiro capítulo da Constituição sobre a Sagrada Liturgia “contém uma declaração que representa uma inovação fundamental para a Igreja latina”. A declaração em questão é a estipulação de que, dentro de certos limites, as conferências episcopais “disponham em seu próprio direito uma função legislativa definitiva”. Ratzinger enxerga isso como de importância fundamental: “Talvez se possa dizer que este pequeno parágrafo, que, pela primeira vez, atribui às conferências episcopais a sua própria autoridade canônica, seja mais importante para a teologia do episcopado e para o fortalecimento a muito desejado do poder episcopal do que qualquer coisa na própria Constituição sobre a Igreja”.

O Padre Joseph Ratzinger durante o Concílio Vaticano II em 1962 (CNS / KNA)

Pe. Ratzinger durante o Concílio Vaticano II em 1962 (CNS / KNA)

Considerando que os Papas anteriores haviam “considerado a cúria como um assunto pessoal no qual o Concílio não tinha o direito de interferir”, em razão do discurso de abertura do Papa Paulo VI na segunda sessão, “o tema da reforma da Cúria foi… no sentido oficialmente declarado aberto para o debate do concílio”. A noção de colegialidade estava no coração e no centro dos debates sobre o esquema da Igreja: “Assim como Pedro pertencia à comunidade dos Doze, para que o Papa pertença ao colégio dos bispos, independentemente do papel especial que exerce, não fora, mas dentro do colégio”. Uma discussão posterior do esquema sobre os bispos buscou de forma concreta implementar o conceito de colegialidade, descentralizando o poder para bispos e conferências episcopais, e propor formas adequadas de centralização através da criação de um “concílio episcopal em Roma”.

As reflexões de Ratzinger no que tange os debates sobre o ecumenismo, o esquema em que pode ser visto como “uma aplicação pastoral da doutrina no esquema sobre a Igreja”, contém uma interessante discussão sobre a relação entre “igrejas” e “a igreja”, na forma de uma resposta detalhada à eclesiologia protestante apresentada em outubro de 1963 em uma conferência em Roma por Edmund Schlink de Heidelberg, na Alemanha.

Esta sessão viu a promulgação dos dois primeiros textos conciliares, a Constituição sobre a Sagrada Liturgia e o Decreto sobre os Meios de Comunicação Social. A fórmula de Paulo VI de aprovação rompeu com o costume, desde o final da Idade Média, de considerar as decisões conciliares como sendo postas em vigor como lei papal: “Paulo, bispo, servo dos servos de Deus, juntamente com os padres conciliares” (o meu itálico).

Em setembro de 1964, “o capítulo sobre a colegialidade dos bispos foi aprovado logo na primeira votação por uma maioria de dois terços”. Não é de surpreender que, o capítulo de Ratzinger sobre a terceira sessão, durante o qual a Constituição sobre a Igreja foi promulgada, concentre-se sobre a doutrina da colegialidade episcopal e sobre a questão estrutural não desconexa das relações entre o Papa e o concílio.

Na primeira, Ratzinger diz que a noção de que a Igreja, que consiste de comunidades adoradoras, é “consequentemente construída a partir de uma comunidade de bispos … é provavelmente a idéia central na doutrina de colegialidade do concílio”. Ele coloca o dedo sobre o que ele chama de “fraqueza real do debate sobre a colegialidade”: “Tanta energia foi concentrada na relação de colegialidade como a primazia de que os problemas intrínsecos do próprio princípio da colegialidade, sua complexidade, seus limites e suas variações históricas não eram mais vistos”.

No que tange as relações entre o Papa e o concílio, ele acredita que as intervenções papais em novembro de 1964, embora necessárias no interesse da mediação entre as forças opostas no concílio, revelou que “o Papado não tinha ainda encontrado uma forma para a formulação de sua posição”, que não seja, e não pareça ser, monárquica. Esta, ele acredita ser um problema prático e não teórico, no sentido de que a resolução vai levar tempo: “A paciência é necessária”.

A característica mais marcante do capítulo sobre a terceira sessão, no entanto, aparece em seu discurso de encerramento. Observando que “o episcopado tornou-se mais aberto, de ano para ano”, e que, à medida que os bispos, “a partir de inícios um pouco tímidos e hesitantes”, encontravam voz e coragem, faziam declarações corajosas que “há cinco anos seriam impensáveis”, Ratzinger dá a entender que o “evento verdadeiro” do concílio foi “o despertar da Igreja”. Alcançado em uma unidade de propósito mundial, “este despertar espiritual… foi o grande e irrevogável evento do concílio. Ele foi mais importante em muitos aspectos do que os textos que aprovou”.

O Papa Bento XVI chega para celebrar uma missa que marca o quinto aniversário da morte do Papa João Paulo II na Basílica de São Pedro, no Vaticano, 29 mar. (CNS / Paul Haring)

O Papa Bento XVI chega para celebrar uma missa que marca o quinto aniversário da morte do Papa João Paulo II na Basílica de São Pedro, no Vaticano, 29 mar. (CNS / Paul Haring)

Agora as coisas estão ficando realmente interessantes, pois esta é exatamente a avaliação feita pelo falecido Giuseppe Alberigo, em sua conclusão para o quinto e último volume da maciça História do Concílio Vaticano II, do qual foi editor geral. Há já vários anos, os funcionários da cúria romana vêm realizando uma campanha enérgica de polêmica e declarações errôneas contra essa história, em uma tentativa de desacreditar a história que ele diz (Examinei esta campanha nos últimos capítulos do meu livro Teologia para Peregrinos).

A pergunta surge, e é uma indagação muito mais ampla do que uma importância meramente acadêmica: Até que ponto o Papa Bento XVI concorda com o jovem padre Joseph Ratzinger?

A quarta e última sessão do concílio “teria de enfrentar os problemas mais difíceis, os problemas que tinham sido adiados por três anos” – a liberdade religiosa, o cristianismo e o judaísmo, e os problemas associados à produção de um tipo inteiramente novo de documento conciliar, o documento que se tornou Gaudium et Spes. “Apesar de todas as rejeições”, o texto da Constituição conservou “um otimismo progressista quase ingênuo que parecia ignorar a ambivalência de todo o progresso humano externo”.

É interessante observar que, ao discutir o Decreto sobre o Ministério e a Vida dos Sacerdotes, ele comenta sobre a questão do celibato sacerdotal: “Em vista da escassez de sacerdotes em muitas áreas, a Igreja não pode evitar rever esta questão silenciosamente. Esquivar-se disso é impossível, em vista da responsabilidade de pregar o Evangelho dentro do contexto do nosso tempo”. Quarenta anos mais tarde, a escassez de sacerdotes atinge o nível de crise, e ainda assim Bento parece ter conseguido continuar fugindo dela.

A Paulist Press está de parabéns por reeditar essas reflexões lúcidas, perspicazes e entusiasmadas sobre as quatro sessões conciliares. Como já mencionei mais de uma vez, eles levantam muito fortemente a questão da relação entre as opiniões do jovem peritus e àquelas do atual Papa.

Na sua introdução, o padre jesuíta Thomas Rausch afirma que “os próprios pontos de vista de Ratzinger, com algumas exceções, permaneceram notavelmente coerentes ao longo dos anos”. Sobre o qual, duas observações. A grande exceção, que ele menciona, é a liturgia. No entanto, não vejo nenhuma incoerência entre o entusiasmo de Ratzinger à Constituição sobre a Liturgia, por um lado, e, por outro lado, a sua avaliação cada vez mais crítica do que aconteceu na liturgia nas últimas décadas.

Em segundo lugar, algumas coisas se sobressaem mais fortemente deste livro que o apoio incondicional de Ratzinger para o projeto central do concílio: a saber, a elaboração e implementação da doutrina da colegialidade episcopal como a estrutura para, em suas palavras, o “fortalecimento do poder episcopal há muito tempo desejado”. Bento é obcecado pela importância de conciliar os cismáticos lefebvristas com a Igreja. É essa obsessão, creio eu, que explica dois de seus empreendimentos mais extraordinários: o motu proprio permitindo o uso geral do Missal de 1962 e a Constituição Apostólica que estabelece “ordinariatos” para anglicanos descontentes. O primeiro foi feito sem consultar os bispos, e contra os pontos de vista de um número considerável deles. O segundo foi ainda mais espantoso: uma das grandes inovações estruturais na Igreja foi promulgada sem consultar os outros bispos da Igreja Católica (para não falar de membros seniores da Comunhão Anglicana).

Parece-me que não se pode dizer que um Papa que tem capacidade para fazer essas coisas, da maneira que foram feitas, tenha um pingo de imaginação verdadeiramente colegial. Precisamos lembrar que, entre o jovem teólogo, Joseph Ratzinger, tão crítico da cúria romana e tão entusiasmado com a restauração do poder episcopal, e o Papa Bento XVI, ergue-se o Cardeal Ratzinger, há 24 anos o chefe da mais poderosa das congregações da Cúria.

[Nicholas Lash é professor emérito de teologia na Universidade de Cambridge, na Inglaterra.]

Visto em: Fratres in Unum

sábado, 19 de junho de 2010

Discurso do Papa Bento XVI aos bispos do Espírito Santo e Minas Gerais.

Queridos Irmãos no Episcopado,

«chamados a ser santos, junto com todos os que, em qualquer lugar, invocam o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso: Para vós, graça e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo» (1 Cor 1, 2-3). Com estas palavras, acolho a todos vós, amados Pastores do Regional Leste 2 em Visita ad Limina, e vos saúdo com grande afeto na consciência do laço colegial que une o Papa com os Bispos no vínculo da unidade, da caridade e da paz. Agradeço a Dom Walmor as amáveis palavras com que interpretou os vossos sentimentos de homenagem à Sé de Pedro e ilustrou os desafios e problemas que são objeto do vosso empenho a bem da grei que Deus vos confiou nos Estados do Espírito Santo e Minas Gerais.

Vejo que amais profundamente as vossas dioceses e também eu participo intimamente deste vosso amor, acompanhando-vos com a oração e a solicitude apostólica. A nossa é uma bela história com início palpável nas Bulas expedidas pelo Sucessor de Pedro para a ordenação episcopal e naquele «Eis-me aqui» proferido por cada um no início da cerimônia da sua sagração e conseqüente ingresso no Colégio dos Bispos. Dele começastes a fazer parte «em virtude da sagração episcopal e pela comunhão hierárquica com a Cabeça e com os membros» (Nota Explicativa Prévia, anexa à Const. dogm. Lumen gentium), tornando-vos sucessores dos Apóstolos com a tríplice função de ensinar, santificar e governar o povo de Deus.

Enquanto mestres e doutores da fé, tendes a missão de ensinar com audácia a verdade que se deve crer e viver, apresentando-a de forma autêntica. Como vos disse em Aparecida, «a Igreja tem a grande tarefa de conservar e alimentar a fé do povo de Deus, e recordar também aos fiéis (…) que, em virtude do seu batismo, são chamados a ser discípulos e missionários de Jesus Cristo» (Discurso inaugural da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, 13/V/2007, 3). Ajudai, pois, os fiéis confiados aos vossos cuidados pastorais a descobrirem a alegria da fé, a alegria de serem pessoalmente amados por Deus, que entregou o seu Filho para nossa salvação. Como bem sabeis, crer consiste sobretudo em abandonar-se a este Deus que nos conhece e ama pessoalmente, aceitando a Verdade que Ele revelou em Jesus Cristo com a atitude que nos leva a ter confiança nele como revelador do Pai. Queridos irmãos, tende grande confiança na graça e sabei infundir esta confiança no vosso povo, para que a fé sempre seja guardada, defendida e transmitida na sua pureza e integridade.

Como administradores do supremo sacerdócio, haveis de procurar que a liturgia seja verdadeiramente uma epifania do mistério, isto é, expressão da natureza genuína da Igreja, que ativamente presta culto a Deus por Cristo no Espírito Santo. De todos os deveres do vosso ministério, «o mais imperioso e importante é a responsabilidade pela celebração da Eucaristia», competindo-vos «providenciar para que os fiéis tenham a possibilidade de aceder à mesa do Senhor, sobretudo ao domingo que é o dia em que a Igreja – comunidade e família dos filhos de Deus – descobre a sua peculiar identidade cristã ao redor dos presbíteros» (João Paulo II, Exort. ap. Pastores gregis, 39). O múnus de santificar que recebestes impõe-vos ainda ser promotores e animadores da oração na cidade humana, freqüentemente agitada, rumorosa e esquecida de Deus: deveis criar lugares e ocasiões de oração, onde no silêncio, na escuta de Deus, na oração pessoal e comunitária, o homem possa encontrar e fazer a experiência viva de Jesus Cristo que revela o rosto autêntico do Pai. É preciso que as paróquias e os santuários, os ambientes de educação e sofrimento, as famílias se tornem lugares de comunhão com o Senhor.

Enfim, como guias do povo cristão, deveis promover a participação de todos os fiéis na edificação da Igreja, governando com coração de servo humilde e pastor afetuoso tendo em vista a glória de Deus e a salvação das almas. Em virtude do múnus de governar, o Bispo está chamado também a julgar e disciplinar a vida do povo de Deus confiado aos seus cuidados pastorais, através de leis, diretrizes e sugestões, como previsto na disciplina universal da Igreja. Este direito e dever é muito importante para que a comunidade diocesana permaneça unida no seu interior e caminhe em sincera comunhão de fé, de amor e de disciplina com o Bispo de Roma e com toda a Igreja. Para isso, não vos canseis de alimentar nos fiéis o sentido de pertença à Igreja e a alegria da comunhão fraterna.

Entretanto o governo do Bispo só será pastoralmente proveitoso «se gozar do apoio duma boa credibilidade moral, que deriva da sua santidade de vida. Tal credibilidade predisporá as mentes para acolherem o Evangelho anunciado por ele na sua Igreja e também as normas que ele estabelecer para o bem do povo de Deus» (Ibid., 43). Por isso, plasmado interiormente pelo Espírito Santo, cada um de vós faça-se «tudo para todos» (cf. 1 Cor 9, 22), propondo a verdade da fé, celebrando os sacramentos da nossa santificação e testemunhando a caridade do Senhor. Acolhei de coração aberto quantos batem à vossa porta: aconselhai-os, confortai-os e apoiai-os no caminho de Deus, procurando guiar a todos para aquela unidade na fé e no amor da qual, por vontade do Senhor, deveis ser princípio e fundamento visível nas vossas dioceses (cf. Const. dogm. Lumen gentium, 23).

Queridos Irmãos no Episcopado! Ao concluir este nosso encontro, desejo renovar a cada um de vós os meus sentimentos de gratidão pelo serviço que prestais à Igreja com viva dedicação e amor. Por intercessão da Virgem Maria, «exemplo daquele afeto maternal de que devem estar animados todos quantos cooperam na missão apostólica que a Igreja tem de regenerar os homens» (Ibid., 65), invoco de Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote, sobre o vosso ministério a abundância dos dons e consolações celestes e concedo-vos, extensiva aos sacerdotes e diáconos, aos consagrados e consagradas, aos seminaristas e aos fiéis leigos das vossas comunidades diocesanas, uma particular Bênção Apostólica.

Discurso do Santo Padre, o Papa Bento XVI, aos bispos da Conferência Episcopal Brasileira do Regional Leste 2 em visita Ad Limina Apostolorum – 19 de junho de 2010.

Visto em: Fratres in Unum

quinta-feira, 10 de junho de 2010

R.I.P. Professor Orlando


Faleceu hoje (09-06-10), vítima de infarto, o Professor Orlando Fedeli, presidente da associação cultural Montfort. Que o Senhor possa dar-lhe descanso eterno. Oremos pelo professor Fedeli.

Requiem aeternam dona ei, Domine,
et lux perpetua luceat ei.

Requiescat in Pace,
Amen.


quinta-feira, 3 de junho de 2010

Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec.

Queridos irmãos e irmãs!

O sacerdócio do Novo Testamento está intimamente ligado à Eucaristia. Hoje, Solenidade de Corpus Christi e próximos do fim do Ano Sacerdotal, somos convidados a meditar sobre a relação entre a Eucaristia e o sacerdócio de Cristo. … Ela é a alegria da comunidade, a alegria de toda a Igreja, que, contemplando e adorando o Santíssimo Sacramento, reconhece a presença real e permanente de Jesus, o eterno Sumo Sacerdote.


A primeira coisa que deve sempre ser tida em mente é que Jesus não foi um sacerdote conforme a tradição judaica. Sua família não era sacerdotal. Ele não pertencia aos descendentes de Aarão, mas de Judá, e, portanto, estava excluído do sacerdócio. A pessoa e a atividade de Jesus de Nazaré não se encontram no modo dos antigos sacerdotes, mas sim no dos profetas – e nesta linha, distanciou-se de uma concepção ritual de religião, criticando a abordagem que dava mais valor aos preceitos humanos ligados à pureza ritual do que à observância dos mandamentos de Deus, isto é, àquele amor a Deus e ao próximo que “vale mais que todos os holocaustos e sacrifícios” (Marcos 12:33).

Mesmo dentro do Templo de Jerusalém, lugar sagrado por excelência, Jesus cumpriu um gesto puramente profético quando expulsa os cambistas e vendedores de animais, coisas que eram usadas para os tradicionais oferecimentos de sacrifícios. Portanto, Jesus não é reconhecido como um Messias sacerdotal, mas profético e real. Mesmo sua morte, que os cristãos corretamente chamam “sacrifício”, não tem nada dos antigos sacrifícios. Na realidade, foi o oposto: uma morte das mais infamantes, por crucifixão, que ocorreu fora dos muros de Jerusalém.

Em que sentido, então, Jesus é um sacerdote? A Eucaristia nos dá a resposta precisa. Podemos começar, novamente, daquelas palavras simples que descrevem Melquisedec: “Ele ofereceu pão e vinho” (Gênesis 14:18). É o que fez Jesus na última ceia: ofereceu pão e vinho, e neste gesto resumiu a Si mesmo e toda sua missão. Naquele ato, na oração que o precede e nas palavras que o acompanham, está todo o sentido do mistério de Cristo, como a Epístola aos Hebreus expressa em um passo decisivo que deve ser mencionado: “Nos dias de Sua vida terrena,” escreve o autor referindo-se a Jesus, “Ele ofereceu orações e súplicas, com fortes gritos e lágrimas a Deus que poderia salvá-Lo da morte, e, por causa de seu completo abandono a Deus, Suas orações foram ouvidas e respondidas. Embora ele fosse filho, aprendeu a obediência daquilo que sofreu e foi designado por Deus para ser sacerdote da ordem de Melquisedec”(5.8 to 10). Neste texto, que claramente alude à agonia espiritual do Getsemani, a paixão de Cristo é apresentada como uma oração e uma oferta. Jesus encara Sua “hora”, que leva à morte em uma cruz, imerso em profunda oração, que consiste na união de Sua própria vontade com o Pai. Esta vontade dupla e única é uma vontade de amor. Vivida nesta oração, a trágica prova que Jesus enfrenta é transformada em oferta, um sacrifício vivo.

A Carta aos Hebreus diz que Jesus “foi ouvido”. Em que sentido? No sentido que Deus Pai O libertou da morte e O ressuscitou. Foi ouvido precisamente por causa de Seu completo abandono à vontade do Pai: o plano de amor de Deus pôde perfeitamente ser cumprido em Jesus, que, tendo obedecido mesmo até a morte numa cruz, tornou-se “causa de salvação” a todos aqueles que Lhe obedecem. Ele se torna o Sumo Sacerdote, tendo tomado sobre Si todos os pecados do mundo, como o “Cordeiro de Deus”. É o Pai que dá este sacerdócio a Ele no próprio momento em que Jesus atravessa a passagem de sua morte e ressurreição. Não é um sacerdócio segundo a ordem da Lei Mosaica (cf. Lev. 8-9), mas “segundo a ordem de Melquisedec” – segundo uma ordem profética, dependente apenas de seu relacionamento singular com Deus.

Retornemos à expressão da Carta aos Hebreus que diz: “Sendo filho, aprendeu a obediência daquilo que sofreu”. O sacerdócio de Cristo envolve sofrimento. Jesus realmente sofreu, e assim o fez por nós. Ele era o Filho e não precisava aprender a obediência a Deus, mas nós precisamos: nós sempre precisamos e sempre precisaremos.

Por esta razão, o Filho assumiu nossa humanidade e Se permitiu ser “educado” na prova do sofrimento, permitiu-Se ser transformado por ele, como o grão trigo que, a fim de dar frutos, deve morrer no solo. Através deste processo, Jesus foi “feito perfeito”, em grego teleiotheis. Devemos nos deter sobre este termo porque ele é muito significante. Ele mostra a culminação de uma jornada, que é precisamente o caminho de educação e transformação do Filho de Deus mediante o sofrimento, mediante uma dolorosa paixão. É graças a esta transformação que Jesus Cristo tornou-Se “sumo sacerdote” e pôde salvar a todos que Nele confiarem. O termo teleiotheis, corretamente traduzido como “feito perfeito”, pertence a uma raiz verbal que, na versão grega do Pentateuco, i.e., os cinco primeiros livros da Bíblia, é sempre usada para indicar a consagração dos sacerdotes antigos. Esta descoberta é muito importante porque ela nos conta que a paixão foi para Jesus como que uma consagração sacerdotal. Ele não era um sacerdote segundo a Lei, mas tornou-Se um sacerdote existencialmente em Sua páscoa de paixão, morte e ressurreição: oferecendo-Se em expiação – e o Pai, exaltando-O sobre todas as criaturas, constituindo-O Mediador universal da salvação.

Retornamos agora, em nossa meditação, à Eucaristia, que logo estará no centro de nossa assembléia litúrgica e posterior procissão solene. Nela, Jesus antecipou seu sacrifício, não um sacrifício ritual, mas um sacrifício pessoal. Jesus, na Última Ceia, age movido por seu “espírito eterno” com o qual Ele depois oferecerá a Si mesmo na Cruz (cf. Heb. 9:14). Dando graças e louvando, Jesus transforma o pão e vinho. É o amor Divino que transforma: o amor com o qual Jesus aceita em antecipação o ato de dar-Se inteiramente a nós. Este amor não mais do que o Espírito Santo, que Espírito do Pai e do Filho, que consagra o pão e o vinho e muda sua substância no Corpo e Sangue do Senhor, tornando presente no Sacramento o mesmo sacrifício que ocorre cruelmente na Cruz.

Podemos, portanto, concluir que Cristo é o sacerdote verdadeiro e eficaz, porque é cheio da força do Espírito Santo, cheio da plenitude do amor de Deus, e isso, precisamente “na noite em que foi traído”, precisamente na “hora da escuridão” (cf. Lc 22:53). É esse poder divino, o mesmo poder que realizou a Encarnação do Verbo, que transforma a violência extrema e a injustiça extrema em um supremo ato de amor e justiça.

Este é o trabalho do sacerdócio de Cristo, que a Igreja herdou e carregou através da história, na forma dupla do sacerdócio comum dos batizados e aquele dos ministros ordenados, a fim de transformar o mundo com o amor de Deus. Todos, padres e igualmente leigos, são alimentados pela mesma Eucaristia, nós todos nos prostramos em adoração, pois na Eucaristia está presente nosso Mestre e Senhor, o verdadeiro Corpo de Cristo, Sacerdote e Vítima, a Salvação do mundo.

Vinde, exultemos com hinos de alegria! Vinde, adoremos a Ele! Amém.

Bento XVI

Homilia da Missa de Corpus Christi

Fonte: Rorate-Caeli

Visto em: Fratres in Unum

Lauda, Sion, Salvatorem.


Quando o Papa Urbano IV (1261 – 1264) estabeleceu pela primeira vez a Festa de Corpus Christi, ele pediu a Santo Tomás de Aquino (1225-1274) que compusesse seus hinos. Este é um dos cinco belos hinos que Santo Tomás compôs em honra a Jesus no Santíssimo Sacramento. Além de ‘Lauda Sion’, Santo Tomás redigiu ‘Adoro Te Devote’, ‘Pange Lingua’, ‘Sacris Sollemnis’ e ‘Verbum Supernum’. ‘Lauda Sion’ é a sequência antes do Evangelho no Corpus Christi. Os últimos dois versos incluem o conhecido ‘Bone pastor, panis vere’.

Fonte: Preces Latinae

LAUDA Sion Salvatorem,
lauda ducem et pastorem,
in hymnis et canticis.
Quantum potes, tantum aude:
quia maior omni laude,
nec laudare sufficis.
Louva, Sião, o Salvador,
o teu pastor e o teu guia,
com hinos e com cantares.
Louva-O o mais que puderes:
supera todo o louvor,
nem bastante O louvarás!
Laudis thema specialis,
panis vivus et vitalis
hodie proponitur.
Quem in sacrae mensa cenae,
turbae fratrum duodenae
datum non ambigitur.
Não há mais sublime assunto,
que nos possa ser proposto:
o pão vivo que dá a vida!
O mesmo que já foi dado,
ao grupo dos doze Apóstolos,
quando da última Ceia!
Sit laus plena, sit sonora,
sit iucunda, sit decora
mentis iubilatio.
Dies enim solemnis agitur,
in qua mensae prima recolitur
huius institutio.
Seja perfeito e sonoro
este louvor e alegria
que brota das nossas almas:
Porque é solene este dia
que nos lembra a instituição
deste banquete divino!
In hac mensa novi Regis,
novum Pascha novae legis,
phase vetus terminat.
Vetustatem novitas,
umbram fugat veritas,
noctem lux eliminat.
Nesta mesa de um Rei novo,
a Páscoa da Nova Lei
fez findar a Páscoa antiga,
Suplantando os velhos ritos:
Dissipa a verdade as sombras como a luz dissipa a noite!
Quod in coena Christus gessit,
faciendum hoc expressit
in sui memoriam.
Docti sacris institutis,
panem, vinum in salutis
consecramus hostiam.
O que Cristo fez na Ceia,
ordenou que se fizesse
em memória de Si mesmo:
Com tão divinas lições,
realiza o sacrifício,
consagrando o pão e o vinho.
Dogma datur christianis,
quod in carnem transit panis,
et vinum in sanguinem.
Quod non capis, quod non vides,
animosa firmat fides,
praeter rerum ordinem.
É um dogma p’ra os cristãos:
Converte-se o pão em Carne,
e o vinho passa a ser Sangue!
Não se vê nem compreende;
mas a fé viva garante-o
p’ra além das leis naturais!
Sub diversis speciebus,
signis tantum, et non rebus,
latent res eximiae.
Caro cibus, sanguis potus:
manet tamen Christus totus
sub utraque specie.
Sob aparências diversas,
simples sinais e não coisas,
grandes mistérios se ocultam!
Carne é o pão e vinho é o Sangue;
mas sob as duas espécies
palpita Jesus inteiro!
A sumente non concisus,
non confractus, non divisus:
integer accipitur.
Sumit unus, sumunt mille:
quantum isti, tantum ille:
nec sumptus consumitur.
Não se parte nem divide
por aqueles que O recebem:
É tomado tal qual é!
Quer sejam mil, quer um só,
todos recebem o mesmo,
sem por isso O consumir!
Sumunt boni, sumunt mali:
sorte tamen inaequali,
vitae vel interitus.
Mors est malis, vita bonis:
vide paris sumptionis
quam sit dispar exitus.
Recebem-No os bons e os maus,
mas com efeitos diversos:
para a vida ou para a morte!
Morte aos maus e vida aos bons:
Quão diversos os efeitos
do mesmíssimo alimento!
Fracto demum sacramento,
ne vacilles, sed memento
tantum esse sub fragmento,
quantum toto tegitur.
Nulla rei fit scissura:
signi tantum fit fractura,
qua nec status, nec statura
signati minuitur.
Quando a hóstia é dividida,
não vacile a tua fé,
pois sob cada fragmento
está tanto como o todo!
Não se corta a coisa em si,
mas a aparência do pão,
sem que em nada se lhe altere,
ou o estado, ou a estatura!
Ecce Panis Angelorum,
factus cibus viatorum:
vere panis filiorum,
non mittendus canibus.
In figuris praesignatur,
cum Isaac immolatur,
agnus Paschae deputatur,
datur manna patribus.
Eis aqui o pão dos anjos,
dado em viático aos homens;
verdadeiro pão dos filhos,
nunca jamais para os cães!
Foi já predito em figuras:
Na imolação de Isaac,
e o Cordeiro pascal;
e no maná do deserto…
Bone pastor, panis vere,
Iesu, nostri miserere:
Tu nos pasce, nos tuere,
Tu nos bona fac videre
in terra viventium.
Tu qui cuncta scis et vales,
qui nos pascis hic mortales:
tuos ibi commensales,
coheredes et sodales
fac sanctorum civium.
Amen. Alleluia.
Ó bom Pastor, pão autêntico!
Ó Jesus, que olhais por nós!
Alimentai-nos! Valei-nos!
Dai-nos ver o bem supremo,
na Terra dos que já vivem!
Tudo sabeis e podeis,
Vós que nos alimentais:
Fazei-nos vossos convivas,
herdeiros e companheiros,
na pátria de vossos santos!
Amen. Alleluia.

Visto em: Fratres in Unum

Em direção à reabilitação de Dom Lefebvre?


31/05/10 – (Sector Catolico) Segundo informa o blog italiano Messainlatino, começam a circular numerosos rumores em torno da futura reabilitação eclesial do arcebispo francês Marcel Lefebvre (na foto), fundador da Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX), que foi excomungado pelo Papa João II em 1988, ao proceder a ordenação de quatro bispos sem contar o aval de Roma. Tal decreto de excomunhão ficou sem efeito recentemente depois de que o Papa Bento XVI assim decidiu.

Messainlatino aponta que são várias as razões que dispararam estes rumores. Por um lado, a reabilitação oficiosa do teólogo Romano Amerio (levada a cabo este ano pelo L’Osservatore Romano) que era conhecido por sustentar teses próximas às de Monsenhor Lefebvre. Em segundo lugar, a iminente publicação de uma nova biografia do prelado francês. E, em terceiro lugar, o interesse pela figura deste arcebispo e de sua obra, que aumentam fora dos círculos até agora habituais e se estendem cada dia mais em diversos âmbitos católicos, são os fatores que estão contribuindo a estes falatórios.

Seja como for, a figura de Monsenhor Lefebvre mereceu e merece uma especial atenção no seio da Igreja Católica, sobretudo na medida em que aumenta a crise na qual, lamentavelmente, encontramo-nos atualmente. Soam, portanto, cada vez mais proféticas suas palavras e os avisos que lançou em muitos de seus escritos, homilias, conferências e ensinamentos que, hoje em dia, e vários anos depois de sua morte, seus filhos continuam transmitindo, a tempo e destempo. Sem dúvida, sua figura não passa despercebida e não deixa ninguém indiferente. O tempo e a autoridade da Igreja colocarão as coisas em seu lugar. Ao menos nesta terra.

Fonte: Fratres in Unum

Grandes retornos. “Iota unum” e “Stat veritas” de

Romano Amerio.

Link para o original.

Retornam às livrarias duas obras capitais da cultura católica e cai definitivamente o tabu sobre um dos maiores intelectuais cristãos do século XX. A questão enfatizada por ele é a mesma que está no centro do pontificado de Bento XVI: quando e de que modo pôde a Igreja mudar?

por Sandro Magister

ROMA, 15 de julho de 2009 – A partir de amanhã retornam às livrarias italianas, editados por Lindau, dois volumes situados entre os clássicos da cultura católica, cujo conteúdo está em impressionante sintonia com o título e com o fundamento da terceira encíclica de Bento XVI: “Caritas in veritate”.

Os dois volumes têm por autor Romano Amerio, literato, filósofo e teólogo suíço, falecido no ano de 1997 aos 92 anos de idade. Alguém que o estimava muito, o teólogo e místico don Divo Barsotti, sintetizou assim o conteúdo dos dois volumes:

Roma Amerio - Moribus antiquis stat res romana virisque (Ennius)

“Amerio diz em substância que os males mais graves presentes hoje no pensamento ocidental, inclusive no pensamento católico, se devem principalmente a uma desordem mental geral pela qual se põe a ‘caritas’ a frente da ‘veritas’, sem pensar que esta desordem subverte também a reta concepção que devemos ter da Santíssima Trindade”.

Com efeito, Amerio vê precisamente neste desmoronamento do primado do Logos sobre o amor – ou seja, na caridade desvinculada da verdade – a raiz de muitas “variações da Igreja católica no século XX”: as variações que ele descreveu e submeteu à crítica no primeiro e mais imponente dos dois volumes citados: “Iota unum”, escrito entre 1935 e 1985; as variações que o levaram a lançar a questão se com elas a Igreja não se converteu em algo diferente de si mesma.

Muitas das variações analisadas em “Iota unum” – mas bastaria uma só, um “iota” que está em Mateus 5, 18 e que dá o título ao livro – impulsionariam o leitor a pensar que na Igreja se produziu uma mutação da essência. Mas Amerio analisa, não julga. Melhor dizendo, como cristão íntegro que é, deixa o juízo para Deus, e recorda que “portae inferi non praevalebunt”, as portas do inferno não prevalecerão, isto é, para a fé é impossível pensar que a Igreja possa perder a si mesma. Sempre haverá uma continuidade com a Tradição, também dentro das turbulências que a obscurecem e fazem pensar o contrário.

Há um estreito vínculo entre as questões lançadas em “Iota unum” e o discurso de Bento XVI de 22 de dezembro de 2005 à cúria romana, discurso capital, já que remete à interpretação do Concílio Vaticano II e sua relação com a Tradição…

Isso não muda o fato de que o estado da Igreja descrito por Amerio de maneira alguma seja pacífico.

No discurso de 22 de dezembro de 2005, Bento XVI comparou a babel da Igreja contemporânea com o marasmo que no século IV seguiu o Concílio de Nicéia, descrito por São Basílio, testemunha da época, como “uma batalha naval na escuridão da uma tempestade”

No epílogo que Enrico Maria Radaelli, fiel discípulo de Amerio, publica no final desta edição de “Iota unum”, a situação atual é, por sua vez, comparada com o cisma do Ocidente, ou seja, com os quarenta anos transcorridos entre os séculos XIV e XV que precederam o Concílio de Constança, com a cristandade sem guia e sem uma “regra da fé” segura, dividida contemporaneamente entre dois ou até três Papas.

Em todo caso, reeditado hoje depois de vários anos, “Iota unum” se confirma como um livro não só extraordinariamente atual, mas “construtivamente católico”, em harmonia com o magistério da Igreja. No epílogo, Radaelli o mostra de forma irrefutável. A conclusão do epílogo está reproduzida logo abaixo.

Quanto ao segundo livro, “Stat veritas”, publicado por Amerio em 1985, está em continuidade linear com o anterior. Nele compara a doutrina da Tradição católica com as “variações” que o autor reconhece em dois textos do magistério de João Paulo II: a carta apostólica “Tertio millennio adveniente”, de 10 de novembro de 1994, e o discurso ao Collegium Leoninum de Paderborn, de 24 de junho de 1996.

O retorno de “Iota unum” e “Stat veritas” às livrarias faz justiça tanto a seu autor como à censura de fato que se abateu durante longos anos entre ambos livros capitais do autor. Na Itália, a primeira edição de “Iota unum” foi reimpressa três vezes, com uma tiragem total de sete mil exemplares, apesar de suas quase setecentas páginas que obrigam uma leitura atenta. Logo foi traduzido para o francês, inglês, espanhol, português [nota do Fratres in Unum: não é de nosso conhecimento nenhuma tradução portuguesa de Iota Unum], alemão e holandês. Reuniu dezenas de milhares de leitores em todo o mundo. Mas era tabu para os órgãos católicos oficiais e para a autoridade da Igreja, assim como naturalmente era para os adversários. Caso mais único que raro, este livro foi um “long seller” clandestino. Continuou sendo pedido mesmo quando se esgotou nas livrarias.

O rompimento do tabu é recente, em congressos, comentários e revisões. “La Civiltà Cattolica” e “L’Osservatore Romano” também despertaram. No começo do ano de 2009 apareceu na Itália uma primeira reedição de “Iota unum”, junto aos textos clássicos de “Fè & Cultura”. Mas esta nova edição do livro, a cargo de Lindau, junto à de “Stat veritas”, tem além disso o valor do cuidado filológico por parte de Radaelli, o máximo conhecedor e herdeiro intelectual de Amerio. Seus dois vastos epílogos são verdadeira e realmente ensaios, indispensáveis para compreender não apenas o sentido profundo dos dois livros, mas também sua permanente atualidade. Lindau, com Radaelli a cargo da obra, tem a intenção de publicar nos próximos anos a imponente “opera omnia” de Amerio.

A seguir, apresentamos uma brevíssima degustação do epílogo a “Iota unum”: as considerações finais.

Toda a Igreja é um “iota”.

por Enrico Maria Radaelli

[...] A conclusão é que Romano Amerio se revela como o pensador mais atual e estimulante do momento. Com a elegância intelectual que distinguiu todos os seus escritos, com “Iota unum” ele oferece um pensamento muito construtivamente católico, preenchendo um espaço filosófico e teológico de outra forma incerto a respeito de questões sérias.

Ele identifica e indica que na Igreja há uma crise, uma crise que parece dominar a Igreja, embora mostre que não a dominou; que parece derrubá-la, embora não tenha derrubado.

Identifica logo e indica com clareza a causa primeira desta crise numa variação antropológica, e sobretudo, metafísica.

Identifica e indica por último os instrumentos lógicos (inscritos no Logos) necessários e suficientes (heroicamente suficientes, mas suficientes) para superá-la.

Amerio faz tudo isso desenvolvendo um “modelo de continuidade” com a Tradição, de ordenada e por isso perfeita obediência ao Papa, de íntima adesão à regra próxima da fé, que pareceria ilustrar totalmente como se compreende esta “hermenêutica da continuidade” pedida pelo Papa Bento XVI no discurso à cúria romana, de 22 de dezembro de 2005, para manter-se seguro no caminho da razão, o que significa dizer sobre o caminho da salvação, isto é, sobre o caminho da Igreja para alcançar a vida.

Romano Amerio: crítico sim, mas jamais descontinuador. Este “modelo de continuidade” totalmente ameriano espera hoje ser finalmente reconhecido, e por isso finalmente apreciado. Quem sabe, quiçá, também seguido, para o bem comum (teórico e prático, filosófico e ético, doutrinal e litúrgico) da Cidade de Deus, com a simplicidade e valores necessários.

Se com o uso da ambigüidade a da contradição se chegou a concluir uma revolução antropológica a favor das fantasias mais vãs, quanto mais se poderá concluir, a com menos esforço, uma ainda mais sã revolução antropológica a favor da Realidade, já que é mais fácil ser simples que complicado.

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Os livros:

Romano Amerio, “Iota unum. Studio delle variazioni della Chiesa cattolica nel secolo XX”, a cura di Enrico Maria Radaelli, prefazione del card. Darío Castrillón Hoyos, Lindau, Torino, 2009.

Romano Amerio, “Stat veritas. Séguito a Iota unum”, a cura di Enrico Maria Radaelli, Lindau, Torino, 2009.

Além da italiana, está disponível também a versão inglesa de “Iota unum”:

Romano Amerio, “Iota unum. A Study of Changes in the Catholic Church in the Twentieth Century”, Sarto House, Kansas City, MO, 1996.

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Os serviços anteriores de www.chiesa sobre Romano Amerio:

> Grandes retornos: Romano Amerio y las variaciones de la Iglesia católica
(15.11.2007)

> “La Civiltà Cattolica” rompe el silencio. Sobre Romano Amerio (23.4.2007)

> Fine di un tabù: anche Romano Amerio è “un vero cristiano”
(6.2.2006)

> Un filosofo, un mistico, un teologo suonano l’allarme alla Chiesa (7.2.2005)

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Sobre Enrico Maria Radaelli, discípulo de Amerio, e sobre seu livro “Ingresso alla bellezza”:

> Todos a ver el “sagrado teatro celestial”. Un teólogo hace de guía (15.2.2008)

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Recentemente apareceram na Itália outros dois livros que afronta desde o ponto de vista tradicionalista a questão das “variações” da Igreja católica durante o Concílio Vaticano II e depois deste.

O primeiro é uma tradução de um volume publicado nos Estados Unidos, escrito por um renomado filósofo católico da escola tomista, professor na Universidade de Notre Dame e membro da Pontifícia Academia Santo Tomás de Aquino:


Ralph McInerny, “Vaticano II. Che cosa è andato storto?”, Fede & Cultura, Verona, 2009.

O segundo tem por autor Monsenhor Brunero Gherardini, de 84 anos de idade, ex decano da Faculdade de Teologia da Pontifícia Universidade Lateranense e diretor da revista “Divinitas”. Este livro é aberto com dois prefácios de caráter elogioso: um escrito pelo bispo de Albenga, Mario Oliveri, e o outro pelo arcebispo de Colombo, Sri Lanka, Albert Malcolm Ranjith, até poucos meses secretário da Congregação vaticana para o Culto Divino.

O autor sustenta que nos documentos – não infalíveis – do Concílio Vaticano II se produziu aqui e acolá rupturas efetivas com a Tradição. E conclui com uma súplica a Bento XVI para que restaure a doutrina autêntica:

Brunero Gherardini, “Concilio Ecumenico Vaticano II. Un discorso da fare”, Casa Mariana Editrice, Frigento (Avellino), 2009.

Fonte: Fratres in Unum

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Papa fala sobre Santo Tomás de Aquino: catequese desta quarta-feira

Caros irmãos e irmãs,

depois de algumas catequeses sobre o sacerdócio e de minhas últimas viagens, retornamos hoje ao nosso tema principal, isto é, à meditação sobre alguns dos grandes pensadores da Idade Média. Havíamos visto, na última vez, a grande figura de São Boaventura, franciscano, e hoje desejo falar daquele que a Igreja chama Doctor communis: isto é, Santo Tomás de Aquino. O meu venerado Predecessor, o Papa João Paulo II, na sua Encíclica Fides et ratio, recordou que Santo Tomás “foi sempre proposto pela Igreja como mestre de pensamento e modelo quanto ao reto modo de fazer teologia” (n. 43). Não surpreende que, depois de Santo Agostinho, entre os escritores eclesiásticos mencionados no Catecismo da Igreja Católica, Santo Tomás venha citado mais que qualquer outro, precisamente sessenta e uma vezes! Ele foi chamado também Doctor Angelicus, provavelmente por suas virtudes, em particular a sublimidade do pensamento e a pureza de vida.

Tomás nasceu entre 1224 e 1225 no castelo que a sua família, nobre e abastada, possuía em Roccasecca, nas proximidades de Aquino, vizinho à célebre abadia de Montecassino, aonde foi enviado pelos pais a fim de receber os primeiros elementos de sua instrução. Alguns anos depois se transferiu para a capital do Reino da Sicília, Nápoles, onde Frederico II fundara uma prestigiosa universidade. Ali era ensinado, sem as limitações vigentes alhures, o pensamento do filósofo grego Aristóteles, no qual o jovem Tomás foi introduzido, e cujo grande valor subitamente intuiu. Mas sobretudo, naqueles anos transcorridos em Nápoles, nasceu a sua vocação dominicana. Tomás foi, na verdade, atraído pelo ideal da Ordem fundada poucos anos antes por São Domingos. Todavia, quando revestiu o hábito dominicano, a sua família se opôs a esta escolha e ele foi constrangido a deixar o convento e a passar algum tempo com a família.

Em 1245, já maior de idade, pode retomar o seu caminho de resposta ao chamado de Deus. Foi enviado a Paris para estudar teologia sob a direção de um outro santo, Alberto Magno, sobre o qual falei recentemente. Alberto e Tomás cultivaram uma verdadeira e profunda amizade e aprenderam a estimar-se e a se querer bem, a ponto de Santo Alberto querer que seu discípulo o seguisse a Colônia, aonde o próprio Alberto fora enviado pelos Superiores da Ordem a fundar uma escola de teologia. Tomás teve então contato com todas as obras de Aristóteles e de seus comentadores árabes, que Alberto esclarecia e explicava.

Naquele período, a cultura do mundo latino fora profundamente estimulada pelo encontro com as obras de Aristóteles, que permaneceram desconhecidas por muito tempo. Tratava-se de escritos sobre a natureza do conhecimento, sobre ciências naturais, sobre metafísica, sobre a alma e sobre a ética, ricos de informações e de intuições que pareciam válidas e convincentes. Era toda uma visão completa do mundo desenvolvida sem Cristo e antes d’Ele, somente com a razão, e parecia impor-se à razão como “a” própria visão; despertava, pois, um incrível fascínio nos jovens ver e conhecer esta filosofia. Muitos acolheram com entusiasmo, até mesmo com entusiasmo acrítico, esta enorme bagagem do saber antigo, que parecia poder renovar vantajosamente a cultura, abrir totalmente novos horizontes. Outros, porém, temiam que o pensamento pagão de Aristóteles estivesse em oposição à fé cristã e se recusavam a estudá-lo. Encontraram-se duas culturas: a cultura pré-cristã de Aristóteles, com sua radical racionalidade, e a clássica cultura cristã. Certos ambientes foram levados à rejeição de Aristóteles também pela apresentação que de tal filósofo fora feita pelos comentadores árabes Avicena e Averróis. De fato, foram eles que transmitiram ao mundo latino a filosofia aristotélica. Por exemplo, estes comentadores haviam ensinado que os homens não dispõem de uma inteligência pessoal, mas que neles há um único intelecto universal, uma substância espiritual comum a todos, que opera em todos como “única”: portanto uma despersonalização do homem. Um outro ponto discutível veiculado pelos comentadores árabes era aquele segundo o qual o mundo é eterno como Deus. Compreensivelmente surgiram, no mundo universitário e no eclesiástico, disputas sem fim. A filosofia aristotélica estava sendo difundida inclusive entre o povo simples.

Tomás de Aquino, na escola de Alberto Magno, desenvolveu uma operação de fundamental importância para a história da filosofia e da teologia, eu diria, para a história da cultura:estudou a fundo Aristóteles e os seus intérpretes, buscando novas traduções latinas dos textos originais gregos. Assim não se apoiava mais somente nos comentadores árabes, mas podia ler pessoalmente os textos originais, e comentou grande parte das obras aristotélicas, distinguindo nelas o que era válido daquilo que era dúbio ou que devesse ser recusado totalmente, mostrando a consonância com os dados da Revelação cristã e utilizando ampla e agudamente o pensamento aristotélico na exposição dos escritos teológicos que compôs. Em definitivo, Tomás de Aquino mostrou que entre a fé cristã e a razão existe uma natural harmonia. E esta foi a grande obra de Tomás, que naquele momento de conflito entre duas culturas – momento no qual parecia que a fé devia dobrar-se diante da razão – mostrou que ambas caminham juntas, que quando aparecia uma razão não compatível com a fé não era razão, e quando aparecia uma fé não era fé, enquanto oposta a uma verdadeira racionalidade; assim ele criou uma nova síntese que formou a cultura dos séculos seguintes.

Por seus excelentes dotes intelectuais, Tomás foi chamado a Paris como professor de teologia na cátedra dominicana. Ali também deu início a sua produção literária, que prosseguiu até a morte, e que há algo de prodigioso:comentários à Sagrada Escritura, porque o professor de teologia era sobretudo intérprete da Escritura, comentários aos escritos de Aristóteles, obras sistemáticas poderosas, entre as quais se destaca a Summa Theologiae, tratados e discursos sobre vários temas. Para a composição de seus escritos era coadjuvado por alguns secretários, entre os quais o confrade Reginaldo de Piperno, que o seguiu fielmente e ao qual se ligou por uma profunda e sincera amizade, caracterizada por uma grande familiaridade e confiança. Esta é uma característica dos santos: cultivam a amizade, porque ela é uma das manifestações mais nobres do coração humano e que tem em si algo de divino, como o próprio Tomás explicou em algumas quaestiones da Summa Theologiae, na qual escreve: “A caridade é a amizade do homem com Deus principalmente, e com os seres que a Ele pertencem” (II, q. 23, a. 1).

Não permanece muito tempo e estavelmente em Paris. Em 1259 participou do Capítulo Geral dos Dominicanos em Valenciennes, onde foi membro de uma comissão que estabeleceu o programa de estudos na Ordem. Depois, de 1261 a 1265, Tomás estava em Orvieto. O Papa Urbano IV, que nutria por ele uma grande estima, lhe confiou a composição dos textos litúrgicos para a festa de Corpus Christi, que celebramos amanhã, instituída em seguida ao milagre eucarístico de Bolsena. Tomás teve uma alma autenticamente eucarística. Os belíssimos hinos que a liturgia da Igreja canta para celebrar o mistério da presença rela do Corpo e do Sangue do Senhor na Eucaristia são atribuídos à sua fé e à sua sabedoria teológica. De 1265 até 1268 Tomás residiu em Roma, onde, provavelmente, dirigia um Studium, isto é, uma Casa de estudos da Ordem, e onde começou a escrever a sua Summa Theologiae (cf. Jean-Pierre Torrell, Tommaso d’Aquino. L’uomo e il teologo, Casale Monf., 1994, pp. 118-184).

Em 1269 foi novamente chamado a Paris para um segundo ciclo de magistério. Os estudantes – compreende-se bem – eram entusiastas de suas aulas. Um ex-aluno seu declarou que uma grande multidão de estudantes seguia os cursos de Tomás, tanto que as salas mal podiam comportá-los e acrescentava, com uma anotação pessoal, que “escutá-lo era para ele uma felicidade profunda”. A interpretação de Aristóteles dada por Tomás não era aceita por todos, mas mesmo os seus adversários no campo acadêmico, como Godofredo de Fontaines, por exemplo, admitiam que a doutrina de frei Tomás fosse superior às outras por utilidade e valor e servia como corretivo às de todos os outros doutores. Talvez também a fim de subtraí-lo às intensas discussões em curso, os Superiores o enviaram uma vez mais a Nápoles, à disposição do rei Carlos I, que pretendia reorganizar os estudos universitários.

Além do estudo e do ensino, Tomás se dedicou também à pregação ao povo. E também o povo, de boa vontade, ia escutá-lo. Eu diria que é verdadeiramente uma grande graça quando os teólogos sabem falar com simplicidade e fervor aos fiéis. O ministério da pregação, por outro lado, ajuda os próprios estudiosos de teologia com um saudável realismo pastoral, e enriquece de vivos estímulos suas pesquisas.

Os últimos meses de vida terrena de Tomás permanecem circundados por uma atmosfera particular, diria até misteriosa. Em dezembro de 1273 chamou o seu amigo e secretário Reginaldo para comunicar-lhe a decisão de interromper todo trabalho, porque, durante a celebração da Missa, havia compreendido, em seguida a uma revelação sobrenatural, que tudo quanto havia escrito até então era somente “um monte de palha”. É um episódio misterioso que nos ajuda a compreender não somente a humildade pessoal de Tomás, mas também o fato de que tudo aquilo que conseguimos pensar e dizer sobre a fé, não obstante elevado e puro, é infinitamente superado pela grandeza e pela beleza de Deus, que nos será revelada em plenitude no Paraíso. Alguns meses depois, sempre mais absorvido em uma profunda meditação, Tomás morreu enquanto viajava para Lyon, para onde se dirigia a fim de tomar parte no Concílio Ecumênico convocado pelo Papa Gregório X. Expirou na Abadia cisterciense de Fossanova, depois de ter recebido o Viático com sentimentos de grande piedade.

A vida e a doutrina de Santo Tomás de Aquino se poderia resumir em um episódio transmitido pelos antigos biógrafos. Enquanto o Santo, como seu costume, estava em oração diante do Crucifixo, logo pela manhã na Capela de São Nicolau, em Nápoles, Domingos de Caserta, o sacristão da igreja, ouviu desenvolver-se um diálogo. Tomás perguntava, preocupado, se tudo o que havia escrito sobre os mistérios da fé cristã estava correto. E o Crucifixo responde: “Tu falaste bem de mim, Tomás. Qual será a tua recompensa?”. E a resposta que Tomás deu é aquela que também nós, amigos e discípulos de Jesus, queremos sempre dar-lhe: “Nada além de Ti, Senhor!” (Ibid., p. 320).

BENEDICTUS PP. XVI

Visto em: Oblatus