terça-feira, 7 de setembro de 2010

Missa Nova: Mais Variedade para os Católicos.

Tradução de Roberto F. Santana


Por quase quatro séculos — de 1570 até o Segundo Concílio do Vaticano, em 1963 — a Missa Católica Romana era tão imutável e inalterável como o movimento da Terra. De Manila até Minneapolis, a linguagem na maior parte da Missa era o latim murmurado baixinho, pontuado por um ocasional “Dominus Vobiscum”. As mãos do sacerdote, de costas para a congregação, postas precisamente no ângulo prescrito em cada momento crítico da liturgia. Somente em pequenos enclaves de inovação litúrgica, em torno de mosteiros, colégios e nos territórios de missões, outras formas foram introduzidas delicadamente.*

Então, como se o eixo polar houvesse mudado, veio a libertação do Concílio Vaticano II. A missa foi invadida por tambores, violões, conjuntos de mariachi; liturgias experimentais foram celebradas no vernáculo. Houve comunhão sob “duas espécies”, o pão e o vinho, um privilégio que os leigos de rito latino não tinham a séculos. (Protestantes costumam receber tanto o pão e o vinho, mas os católicos acreditam que o pão, o corpo vivo de Cristo inclui o “sangue” também.) Agora, o Vaticano e as muitas conferências nacionais de bispos estão em processo de adoção de uma missa nova oficial que combina a tradição de longa data e alguns dos melhores novos experimentos.

Diferentemente da missa antiga, um produto da Contra-Reforma do Concílio de Trento, que delineou cada palavra e movimento da liturgia em meticulosas rubricas de 57.000 palavras, a missa nova é mais uma série de opções do que um conjunto de regulamentos. Quatro alternativas da “oração eucarística”, por exemplo, podem ser escolhidas para a parte mais sagrada da missa, a consagração do pão e do vinho. Embora as palavras de consagração (“Este é o meu corpo… Este é o meu sangue…”) sejam idênticas em cada versão, as quatro diferentes orações eucarísticas são concebidas, na frase do Papa Paulo, para salientar “os diferentes aspectos do mistério da salvação “. Uma versão particularmente eloquente descreve Cristo como “um homem como nós em tudo, mas sem pecado. / Para os pobres, proclamou a boa notícia da salvação, / para os presos, a liberdade, / e aos tristes, a alegria” . Desenvolvimentos na teologia eucarística também são aparentes nas instruções para a missa nova, que enfatizam o carácter de “banquete pascal,” um encontro ” do povo de Deus, para celebrar o memorial do Senhor”.

A forma de comunhão reflete a nova teologia também. A hóstia, tradicionalmente, nos EUA, um pequeno e fino disco feito de farinha, deve ser agora mais parecido com um pão, de modo que ele possa ser quebrado e partilhado por sacerdotes e pessoas em uma reedição mais vívida da Última Ceia. O vinho pode ser bebido diretamente do cálice, tomado com uma colher, tomado por “indução” (mergulhando o pão no vinho), ou mesmo sorvado através de canudos de prata.

Primeira Aliança. Outras inovações irão parecer familiares aos protestantes e judeus. No início da missa, o padre cumprimenta as pessoas com: “A graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós”, um velho favorito dos protestantes que vem de São Paulo (/ / Coríntios 13:14). A oração começa com o ofertório, a tradução da frase que tradicionalmente abre as bênçãos judaicas: “Bendito és Tu, Senhor, Deus de toda a criação.” É dada maior atenção nas leituras bíblicas na missa para a dívida do cristianismo com a primeira aliança com Deus do judaísmo. Em vez de duas leituras, a epístola familiar e o Evangelho do domingo, as missas agora irão incluir três, um do Antigo Testamento, uma das Epístolas ou outro livro do Novo Testamento, e um dos Evangelhos.

Agradando os protestantes. Muitos não irão sentir falta das omissões do antigo rito: acabaram os repetitivos sinais da cruz, orações redundantes, genuflexões sem fim. O que foi adicionado, com uma forte ênfase na participação dos fiéis, é particularmente importante para uma Igreja em que a participação dos fiéis tem sido, por muito tempo, passiva. Os leigos agora oficialmente abrirão a missa com um cântico de entrada, irão iniciar o ofertório levando o pão e o vinho ao altar e irão compartilhar com o celebrante e uns com os outros um “sinal de paz”, pouco antes da Comunhão, um aperto de mão ou um abraço amigável.

Apesar de tais “inovações” refletirem uma prática cristã mais autêntica do que a liturgia do Concílio de Trento, com suas muitas adesões medievais, a missa nova já despertou alguma resistência. Algum tempo depois que o Papa Paulo promulgou a versão básica latina em abril passado, dois antigos conservadores do Vaticano, o Cardeal Alfredo Ottaviani, 79, e Antonio Cardeal Bacci, 84, emitiram um comunicado de imprensa próprio chamando a Missa de “ultrajante” e “um atentado claro ao dogma… moldada para agradar aos mais vanguardistas protestantes.” O pontífice respondeu que esperava que os católicos “prontamente aderissem” ao novo rito, mas estendeu o prazo para a sua utilização obrigatória para 28 de novembro de 1971 (primeiro domingo do Advento, quando começa o ano litúrgico).

A prorrogação, entretanto, não foi para apaziguar os bispos relutantes, mas para dar tempo às conferências episcopais nacionais para considerarem as opções e elaborarem traduções em vernáculo. A Itália, obediente, já está usando o novo rito, e os bispos de países de língua inglesa também serão capazes de implementarem bem antes do prazo. Enquanto o novo Missal estava em preparação, um Comitê Internacional de Inglês na Liturgia já estava no trabalho há quatro anos. Ele preparou uma tradução comum em inglês da Missa para onze países de língua inglesa e cerca de 40 outros territórios, principalmente territórios missionários, onde o inglês é usado. Nos EUA, quase todos os bispos aprovaram uma versão revisada em novembro, assim como todas as outras hierarquias de língua inglesa. Na Grã-Bretanha,a missa nova começará, em muitas dioceses, no primeiro domingo da Quaresma; nos EUA, no Domingo de Ramos, 22 de março; outros já estão usando. Na maioria dos países, o novo rito deve vir sem nenhuma surpresa, já que muitos bispos têm vindo a adotar reformas fragmentadas, permitidas pelo Vaticano.

Espaço para a mudança. A versão revisada em inglês já foi enviada para as editoras católicas nos EUA. Sua linguagem é, na maioria dos casos, nova, extraordinariamente essencial e compreensível, de um inglês internacional, direto e muitas vezes poético. Alguns países estrangeiros, como o Japão, optaram por elaborar as suas próprias traduções a partir do inglês, ao invés do texto latino.

Uma parte da tradução em inglês ainda não será oferecida aos católicos dos EUA, a nova versão ecumênica do Pai-Nosso, que diminui as diferenças existentes entre as versões protestante e católica, começará apenas com um “Nosso Pai nos céus”. Existem outras mudanças na oração: “Perdoai as nossas ofensas” (“Perdoai as nossas dívidas” na maioria das versões protestantes) torna-se simplesmente “Perdoa-nos os nossos pecados.” “Não nos deixeis cair em tentação” se torna “Não nos trazeis à prova” (prova final antes da Segunda Vinda). Bispos norte-americanos decretaram que a versão antiga ainda irá ser utilizada nas missas nos EUA, embora com uma doxologia “estilo protestante”. – “Porque o reino, o poder e a glória são teus, agora e para sempre” agora vai seguir logo depois de uma oração do celebrante.
Outras reformas litúrgicas podem muito bem vir a tempo. O prefácio do próprio Papa à “nova ordem da Missa” incentiva “legítimas variações e adaptações”, e todas as instruções dão uma ênfase notável na adaptação da liturgia para os costumes locais e necessidades. ” O espírito do novo Missal,” conclui o jesuíta CJ McNaspy “, liberta mais do que restringe.” Enquanto o Papa pretende claramente que a missa nova seja um modelo , McNaspy e outros estão confiantes que o caminho ainda está aberto para a Missa se desenvolver ainda mais.

* Em um desses experimentos, na paróquia Corpus Christi de Manhattan, perto de Columbia, o padre George Barry Ford introduziu uma procissão no ofertório e teve sua congregação rezando a missa em voz alta em Inglês há 34 anos.

Nota: A foto não corresponde à edição; somente para efeito ilustrativo.

Fonte: Fratres in Unum

O grande retorno do ofertório sacrifical, uma retificação litúrgica em curso.

Por Padre Claude Barthe

Em um artigo anterior (“Uma retificação doutrinal exemplar. A propiciação na definição da missa”, Présent de 17 de julho passado), falei sobre a reafirmação do caráter propiciatório da missa (a missa é um sacrifício que reitera o sacrifício da Cruz, oferecido para a reparação dos pecados). Esta correção foi feita pela segunda edição do Catecismo da Igreja Católica, a de 1997 (1998, para a edição francesa) (1). Como recordei, esse enfraquecimento doutrinário, notável desde o último Concílio e, pois, corrigido – ao menos por uma menção – resultou na nova liturgia: dentre as deficiências da missa de Paulo VI, a diluição do caráter de sacrifício propiciatório da liturgia eucarística foi certamente o mais impressionante, manifestada especialmente pela supressão do ofertório sacrifical.

O empobrecimento mais flagrante

O fenômeno chamado de “reforma da reforma” está indicado nas entrelinhas das considerações do motu proprio Summorum Pontificum, do Papa Bento XVI, e, de maneira clara, nas obras “reformistas” do Cardeal Ratzinger sobre a nova liturgia (2). Dentro deste processo, já em curso em um número não desprezível de paróquias, especialmente na França, é patente o reaparecimento do ofertório tradicional da Missa Romana, que afirma com uma perfeita clareza esse caráter propiciatório do sacrifício eucarístico. As considerações a seguir reproduzem, essencialmente, os desenvolvimentos derivados da missa a esse respeito.

Um novo movimento litúrgico (3).

Monsenhor Nicola Bux, uma das principais figuras deste movimento de “reforma da reforma” (4), em seu livro A Reforma de Bento XVI. A liturgia entre inovação e tradição (5) comenta longamente o Breve Exame Crítico dos Cardeais Ottaviani e Bacci (6): “Eles lamentavam”, recorda ao aprová-los, “a ausência da finalidade ordinária da missa, ou seja, o sacrifício propiciatório”. O novo rito da missa tem, de fato, um efeito de redução imanente da mensagem cristã: a doutrina do sacrifício propiciatório, a adoração da presença real de Cristo, a especificidade do sacerdócio hierárquico e, de maneira geral, o caráter sagrado da celebração eucarística, encontram-se expressas de maneira muito menos sensível do que no rito tradicional. É por isso que as tentativas já antigas (7) de reintroduzir no novo missal as orações que melhor exprimem o seu valor sacrifical, a saber, as do ofertório, hoje retomam força.

Um dos elementos fundamentais — talvez o mais importante, mesmo que o menos visível, ou melhor, o menos audível — de uma correção na forma como a Missa é celebrada hoje é, sem dúvida, a reintrodução do ofertório romano. A motivação dupla de impressionante supressão da parte dos sábios liturgistas dos anos sessenta foi, por um lado, um arqueologismo que desejava saltar a Idade Média para recuperar o suposto estado da missa da Antiguidade, e, por outro, uma concessão ao espírito da época, o menos receptível possível à idéia de sacrifício oferecido pelos pecados.

Mas estes argumentos envelheceram consideravelmente. Desde a reforma de 1969, os avanços das ciências litúrgicas relativizaram muito a suposta antiguidade das bênçãos judaicas que foram trazidas para substituir as apologias (8).

É verdade que, nos anos sessenta, o ofertório aparecia tão mais desagradavelmente sacrifical quanto estavam muito em voga, então, as críticas vis-à-vis a uma teologia do sacrifício propiciatório e da “satisfação vicária”. Nesta perspectiva, o caráter muito explícito das orações do ofertório desagradavam: “Recebei, santo Pai, onipotente e eterno Deus, esta hóstia imaculada, que eu vosso indigno servo, vos ofereço, ó meu Deus, vivo e verdadeiro, por meus inumeráveis pecados, ofensas, e negligências”; “Nós vos oferecemos Senhor, o cálice da salvação”; “Recebei, ó Trindade Santíssima, esta oblação, que vos oferecemos em memória da Paixão, Ressurreição e Ascensão”; “Em espírito de humildade e coração contrito, sejamos por vós acolhidos, Senhor. E assim se faça hoje este nosso sacrifício em vossa presença, de modo que vos seja agradável”; “Orai irmãos, para que este sacrifício, que também é vosso, seja aceito e agradável a Deus Pai Onipotente”.

Uma amputação aberrante em termos de História da Liturgia

O argumento de que o ofertório constituía uma “duplicação” das orações do cânon (9) se tornou a grande justificativa para a supressão do ofertório. É de se ficar pasmo, por exemplo, ao ler um autor tão reconhecido como Robert Cabié: “O mais impressionante nestas orações é o seu aspecto de antecipação: embora sobre o altar não haja ainda mais do que pão e vinho, fala-se de ‘oferenda’ (vítima) ‘imaculada’, de ‘cálice da salvação’; é considerado de antemão aquilo que realizará consagração(10). Ora, os mais novatos dos estudantes de história da liturgia cristã sabem que uma separação das oferendas para o sacrifício é um elemento notável da lex orandi em todas as liturgias. Todos conhecem o equivalente do ofertório romano, ambrosiano ou moçárabe nas liturgias orientais. Ninguém ignora a cerimônia da “grande entrada” ao canto do Cherouvikon (hino dos Querubins), evocação da liturgia celeste na qual se traz as oferendas com honras e cantos que antecipam o sacrifício que se realizará (na liturgia galicana, as oferendas são levadas em grandes vasos em forma de torres eucarísticas, saudando-as ao denominá-las: “Mistério do corpo do Senhor”) (11). Na liturgia de São João Crisóstomo, o padre recita, então, em voz baixa, esta oração sobre as oferendas: “Senhor, Deus Onipotente, vós que sois o único santo, e que recebeis o sacrifício daqueles que vos invocam de todo coração, recebei também a nossa oração, de nós, pobres pecadores, e fazei-la aproximar de vosso santo altar; fazei-nos dignos de vos oferecer os dons e as vítimas espirituais por nossos pecados e por todas as faltas do povo”, etc. Na liturgia armênia, ele diz ao retirar o véu do cálice: “Concedais que esta oblação vos seja oferecida por mim, pecador e vosso indigno servo. Pois sois vós que ofereceis e sois oferecido, que recebeis e sois recebido, Cristo nosso Deus…

A eliminação destas orações do ofertório por especialistas tão competentes mostra a enorme influência que teve a ideologia no processo de transformação do missal. Dito isto, a questão prática que hoje se coloca mais e mais é: é possível introduzir o ofertório romano na celebração segundo o novo missal?

Note-se primeiro que, se do ponto de vista do vocabulário, “ofertório” foi substituído por “preparação dos dons” na Institutio Generalis Missalis Romani (n. 49-51), o termo permanece na possibilidade de uma procissão para trazer os dons que podem ser acompanhados pelo venerável nome “ofertório”, que tinha sido dado já no século V ao canto que o acompanhava: antiphona ad offertorium.

Acrescente-se que as orações da apresentação dos dons devem ser ditas em silêncio (rubrica 17 do Ordo Missae). Certamente é possível que elas sejam ditas em voz alta, mas isso surge de uma concessão (“se não há cântico do ofertório, o sacerdote pode — licet — dizer estas palavras em voz alta”). De fato, a inclusão no próprio ato litúrgico de orações e atos de piedade que visam, em primeiro lugar (mas não só), a preparação penitencial do principal ministro não poderia ser mais tradicional. Segundo os Ordines Romani, lembrou outrora Dom Cabrol (12), o pontífice reza e pede perdão por seus pecados sem que lhe sejam indicadas as fórmulas. Na liturgia galicana, enquanto o coro canta a entrada, o pontífice se prostra diante do altar, costume que coincide com as origens das apologias.

É possível, desta maneira, considerar por analogia: uma das principais confirmações da não supressão da missa romana tradicional afirmada pelo motu proprio Summorum Pontificum se encontra precisamente no fato de que seu elemento principal, o Cânon Romano, foi mantido como primeira Oração Eucarística pelo missal de 1969. Tratando-se de orações cujo caráter historicamente “apologético” (distinto das grandes orações sacerdotais como as orações, prefácio, a oração eucarística e o Pater) é atestado, pode-se descartar que a permanência da primeira oração eucarística tradicional inclui a permanência das palavras secretas que constituem o ofertório?

A reforma da reforma existe, é possível encontrá-la

Podemos, finalmente, e talvez mais importante, invocar o costume: desde a modificação do missal de 1969, muitos celebrantes tomaram ou conservaram o costume de rezar as orações do ofertório tradicional no momento do oferecimento das oblatas, sem que nunca a autoridade eclesiástica os proibisse.

Pois este é um ponto extremamente importante a ressaltar, como fiz no início: a reforma da reforma não está para ser inventada; ela já existe e está simplesmente se generalizando nas paróquias comuns. Seria possível, assim, fazer uma lista dos locais, na França, onde os párocos celebram segundo esta reforma da reforma que implementam, alguns há muito tempo. Nessas igrejas, os pontos mais importantes deste processo de “retorno” são todos aplicados, ou a maioria deles, ou vários deles, a saber: 1) a importante reintrodução do uso da língua litúrgica latina, especialmente pela utilização do canto gregoriano (Kyriale, Pater, se possível cantando partes do Próprio da Missa); 2) a distribuição da Comunhão segundo o modo tradicional; 3) o uso da primeira Oração Eucarística, se possível em latim, e sem elevar muito a voz; 4) a orientação da celebração em direção ao Senhor, ao menos a partir do ofertório; 5) o uso, em silêncio, do ofertório tradicional. Na maioria dos casos, com a celebração da forma extraordinária em paralelo, que vem naturalmente se integrar a uma vida litúrgica paroquial do tipo “novo movimento litúrgico” e que a apóia de maneira efetiva.

Muitas vezes, no entanto, os sacerdotes que se dedicam a este processo o fazem por etapas. No centro desse movimento de “retorno” está aquele do ofertório romano tradicional. Canonicamente, estamos incontestavelmente na presença de um costume em vias de formação sob a forma de enriquecimento, seja porque ele torna precisa a nova lei litúrgica, ou, mais exatamente, aflora-a, seja porque é como que abrangido por ela (13).

Padre Claude Barthe

(1) O nº 1367 do Catecismo da Igreja Católica, em sua nova redação, traz: “O sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia são um único sacrifício: «É uma só e mesma vítima e Aquele que agora Se oferece pelo ministério dos sacerdotes é o mesmo que outrora Se ofereceu a Si mesmo na cruz; só a maneira de oferecer é que é diferente» (192). E porque «neste divino sacrifício, que se realiza na missa, aquele mesmo Cristo, que a Si mesmo Se ofereceu outrora de modo cruento sobre o altar da cruz, agora está contido e é imolado de modo incruento [...], este sacrifício é verdadeiramente propiciatório”.

(2) Entre outras: Entretien sur la foi, Fayard, 1985 ; La célébration de la foi, Téqui, 1985 ; Ma vie (autobiographie), Fayard, 1998 ; L’Esprit de la liturgie, Ad Solem, 2001 ; Un chant nouveau pour le Seigneur, Desclée, 2002.

(3) Editions de L’Homme nouveau, collection « Hora Decima », juillet 2010, 9,00 euros.

(4) Ao qual damos, mais e mais freqüentemente, o nome de “Novo Movimento Litúrgico”, como o Motu Proprio de 2007 aplicou as denominações de “forma extraordinária” e “forma ordinária”, respectivamente a liturgia tradicional e a liturgia transformada por Paulo VI.

(5) Tempora, 2009.

(6) Alfredo Ottaviani, Antonio Bacci, Bref examen critique du nouvel Ordo missae, Renaissance catholique, 2005.

(7) Ver já em 1985: Paul Tirot, osb, Histoire des prières d’offertoire dans la liturgie romaine du VIIe au XVIe siècle, Edizioni Liturgiche, Rome

(8) “Bendito sejais, senhor, Deus do Universo,pelo pão que recebemos da Vossa bondade,fruto da terra e do trabalho do homem: que hoje Vos apresentamos e que para nós se vai tornar Pão da vida”, “Bendito sejais, Senhor, Deus do universo, pelo vinho que recebemos da Vossa bondade, fruto da videira e do trabalho do homem: que hoje Vos apresentamos e que para nós se vai tornar Vinho da Salvação”.

(9) Joseph André Jungmann, Missarum solemnia, Aubier, 1951.

(10) « L’Eucharistie », dans L’Eglise en prière, Desclée, nouvelle édition, 1983.

(11) Além disso, seria possível, talvez mais apropriadamente, afirmar que o ofertório romano, com a sua incensação sacrifical das oferendas, é igualmente uma “duplicação” da celebração do Evangelho, e vice-versa, da mesma forma como no rito bizantino a “grande entrada” das oferendas seria uma “duplicação” da “pequena entrada” do Evangelho, e vice-versa. Mas não há espaço suficiente aqui para desenvolver esse ponto.

(12) Fernand Cabrol, « Ordines romani », Dictionnaire d’archéologie chrétienne et de liturgie, Letouzey et Ané, 1907-1953.

(13) Os costumes são considerados “contra a lei” quando retificam, contra legem; ou também “além da lei”, quando a tornam precisa, praeter legem. A nova liturgia oferece tantas possibilidades de escolhas, coleções de variações e diversidades de interpretações, que se poderia antes falar aqui de costume “por dentro da lei”, intra legem, podendo se encontrar também os elementos tradicionais, e, portanto, ser favorecido, dentro da fragmentação da norma despedaçada.

Artigo extraído da edição 7162 de Présent de sábado, 21 de agosto de 2010; Tradução e Fonte: Fratres in Unum – agradecimento ao leitor Luciano Padrão pela indicação do artigo.

Um novo livro sobre Dom Marcel Lefebvre. As relações entre Fraternidade São Pio X e Franciscanos da Imaculada.

Relatamos a gravação em áudio de uma conferência de apresentação do livro “Monsignor Lefebvre. Nel nome della verità” [Dom Lefebvre. Em nome da verdade], edições Sugarco, realizada pela autora Cristina Siccardi, em San Sicario (Turim), em 15 de agosto último. A importância deste documento está no fato que dele emerge, de forma claríssima e concisa, a posição atual da Fraternidade São Pio X e as suas perspectivas de desenvolvimento e ações futuras, bem como sua estratégia a médio prazo.

Dom Marcel Lefebvre

Dom Marcel Lefebvre

Tudo isso não só não desmente, mas demonstra, com autoridade, o apoio dos próprios altos expoentes atuais da Fraternidade; apoio tornado mais evidente pelo fato de que esta gravação foi publicada no site italiano dos filhos de Monsenhor Lefebvre (http://www.sanpiox.it/ ). Muito comovente e praticamente inédito, pois, é o modo como trata a relação entre o bispo francês e Paulo VI.

Entre outras coisas, ouvindo atentamente as palavras de encerramento da conferência, proferida pelo Pe. Emmanuel Du Chalard, tomamos conhecimento de que está previsto, para os próximos meses, um encontro entre o Padre Mannelli, fundador e superior dos Franciscanos da Imaculada, e Dom Bernard Fellay.

Na verdade, os contatos entre estas duas ordens religiosas remontam já há tempos e traçam algumas convergências significativas que, à primeira vista, podem surpreender.

Dentro da FSSPX, de fato, em geral, ouve-se opiniões positivas sobre os Franciscanos da Imaculada, ao contrário do que acontece com as congregações chamadas “Ecclesia Dei”. Freqüentemente são louvadas a profunda espiritualidade e vida de penitência desses religiosos.

Não nos esqueçamos, além disso, que foi a própria editora dos Franciscanos da Imaculada que publicou o livro “Concilio Vaticano II, um discorso da fare”, de Monsenhor Brunero Gherardini, texto comentado com tom quase entusiasta na última edição de “La Tradizione Cattolica”, revista oficial da FSSPX na Itália.

Acrescentamos a este respeito que vozes críticas (de “direita”) dentro da Fraternidade São Pio X contra o texto de Gherardini foram refreadas pelo próprio Dom Fellay numa das últimas edições de Cor Unum, a publicação interna da Fraternidade.

Com efeito, enquanto as outras ordens “Ecclesia Dei” nasceram, algumas mais outras menos, de fraturas internas da FSSPX, e fraturas, infelizmente, sempre deixam feridas difíceis de cicatrizar, o mesmo não se pode dizer com relação aos Franciscanos da Imaculada.

O tempo dirá. Certamente, para o bem da Tradição, será necessário procurar algum tipo de harmonização dentro do mundo católico tradicionalista. Não é justo que as divisões e rivalidades internas, por vezes, pesem mais do que os próprios ataques dos modernistas. Mas ao mesmo tempo, uma certa concorrência ‘intrabrand’ é um sinal de vitalidade e riqueza e não se pode esquecer, a esse respeito, as ácidas disputas que – testemunha Dante Alighieri – opunham franciscanos e dominicanos.

Acrescente-se a isso que a autora do texto sobre Lefebvre, Cristina Siccardi, é próxima à Alleanza Cattolica (outra entidade cujas relações com a Fraternidade São Pio X tem sido historicamente difíceis), não podemos senão nos alegrar com estes sinais de ‘tradi-ecumenismo’ .

É possível ouvir a gravação nos site Sanpiox.it ou Maranatha

Esta, por sua vez, é a apresentação da edição de Siccardi, que recomendamos e à qual nos referimos neste post:

Dom Marcel Lefebvre (1905-1991), um nome que quase sempre faz estremecer, impronunciável, exceto em alguns ambientes restritos, onde é muito amado e reverenciado. Boa parte da opinião pública, católica e não-católica, o pintou como um “herege”, como um “cismático”, alguém que desejava criar uma igreja inteiramente sua…

Quantos erros, quantas fábulas se construíram em torno de pessoas que pensam, que raciocinam, que alegam verdades incômodas e por isso tornam-se elas mesmas incômodas. Incômodas como Lefebvre.

Conhecido na maior parte das vezes como o Bispo rebelde, Dom Lefebvre foi até agora colocado sob um faixo de luz difamatório, não pela sua conduta de vida, exemplar e altamente virtuosa, por todos verificável, mas pela sua forte tomada de posição contra um Concílio pastoral, o Vaticano II, cujos ditames via e denunciava as conseqüências descristianizantes e relativistas que dele surgiam.

Hoje, após quase vinte anos após sua morte e quarenta e cinco do encerramento do próprio Concílio, podemos nos aproximar historicamente dele com maior serenidade e sem ressentimentos, considerando este homem, melhor, este sacerdote, não como o inimigo de alguém, mas como um soldado corajoso e perspicaz de Cristo, paladino da integridade da Fé e da Santa Igreja Romana, do Primado Petrino e da Eucaristia.

Dom Lefebvre, graças também aos filhos que deixou, os padres da Fraternidade São Pio X, ainda está aí para indicar que a tradição, na doutrina Católica, na celebração do Santo Sacrifício da Missa de Sempre, na santidade sacerdotal, são as respostas aos problemas de um mundo que se perdeu em seu orgulho e em sua vaidade, destronando Cristo Rei.

Fonte: Messa in Latino

Visto em: Fratres in Unum