quarta-feira, 14 de julho de 2010

Editorial: A aplicação do Motu Proprio Summorum Pontificum no Brasil, um fiasco.

Com raríssimas exceções, a aplicação do motu proprio Summorum Pontificum no Brasil pode ser considerada um absoluto fiasco.

Embora o número de celebrações tenha aumentado desde a publicação do documento, as circunstâncias que envolvem as mesmas continuam sempre amordaçantes e nada favoráveis aos que amam verdadeiramente a Tradição doutrinal e litúrgica da Santa Igreja.


Um panorama geral no país indica um diagnóstico desolador, que pode ser apontado especificamente nos casos das importantes arquidioceses do Rio de Janeiro, Salvador e Olinda e Recife.

As duas primeiras, mergulhadas nas manobras das autoridades arquidiocesanas, que, com uma política de protelação, em condições degradantes, afundam os fiéis através de um menosprezo sistemático às suas necessidades espirituais e, sobretudo, à dignidade e respeito que merece o rito de São Gregório Magno.

Para piorar, a notícia desoladora do fim da Santa Missa em Recife reforça ainda mais o estado de desalento em que inelutavelmente caem os fiéis, abandonados pela hierarquia da Igreja. E essa, na realidade, é uma situação que se repete em muitas outras dioceses, onde padres piedosos, conscientes e que verdadeiramente amam a Missa de Sempre, sucumbem ao peso insuportável de intrigas e incompreensões de seus confrades ou ordinários.

Embora alguns tentem culpar sempre os ditos “tradicionalistas” pelos sucessivos naufrágios de suas naus, a situação dessas importantes arquidioceses brasileiras deve levar os católicos a uma profunda reflexão.

Quem são os padres a atender — quando isso ocorre… — à demanda pela missa tradicional?

Normalmente, são padres designados por seus ordinários; homens de confiança que possam garantir a consonância dessa nova “realidade eclesial” com toda a “pastoral” desenvolvida pelos que ocupam as posições de importância nas dioceses brasileiras.

De maneira geral, trata-se de homens de bom caráter que se dispõem a ocupar a função indesejável de cuidar do que consideram barris de pólvora: os grupos desejosos da missa tradicional. Todavia, na maioria das vezes são sacerdotes que, no máximo, consideram a situação calamitosa da Igreja como um desvio do programa de reforma proposto pelo Concílio Vaticano II, causado pela má interpretação de seu textos tanto pelos de direita quanto pelos de esquerda. Padres que têm a missa tradicional como mais um “carisma” dentro do cardápio eclesial variado que surgiu após o infeliz aggionarmento conciliar.

Enfim, padres sem idéias claras sobre a atual crise da Igreja, suas causas e seus desdobramentos; sacerdotes sem convicções sobre os problemas do novo ordinário da missa promulgado por Paulo VI e seu afastamento “impressionante, tanto no conjunto como nos detalhes, da teologia católica da santa Missa, perpetuamente definida pelo Concílio de Trento” (cf. Breve Exame do Novo Ordo da Missa, crítica enviada ao Santo Padre em 3 de setembro de 1969 pelos Cardeais Ottaviani e Bacci).

Precisamos de um novo Dom Antonio de Castro Mayer, de um outro Dom Marcel Lefebvre, de um Monsenhor Ducaud-Bourget, de um Padre Louis Demornex — padres dispostos a dar o sangue pela Santa Igreja, por sua liturgia e doutrina. Não precisamos de padres que se dignem prestar simplesmente um favor aos fiéis; precisamos de padres que nos guiem, que exerçam seu ministério de cura das almas de maneira plena, que vão à frente dos católicos defendendo-os dos lobos, especialmente os mitrados ou de batina. E isso só se dará quando esses mesmos padres tiverem absoluta convicção que a “restauração de todas as coisas em Cristo” passa única e exclusivamente por um caminho: a restauração da liturgia católica em seu rito romano tradicional e a afirmação clara e inequívoca da verdade católica, sem tergiversações.

O amor à liturgia tradicional e o empenho por ter nela a base para um apostolado para a maior glória de Deus e benefício das almas foi imprescindível para o sucesso nos poucos lugares em que as disposições do documento pontifício foram aplicadas corretamente. Enquanto a missa for objeto de curiosidade ou de mero apreço estético, histórico ou cultural, e não uma questão de fé, dificilmente pode-se esperar que as sombras sejam dissipadas.

Sancte Pie X, ora pro nobis!

Fonte: Fratres in Unum

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