O Cardeal Dom Marc Ouellet, nomeado novo prefeito da Congregação para os Bispos, é uma figura praticamente desconhecida no Brasil. Em novembro de 2003, Sua Eminência concedeu uma entrevista à revista 30 Giorni, que traça um perfil do então recém-criado Cardeal: “durante muitos anos [trabalhou] na América Latina espanhola, e defendeu, também em alemão, a sua tese de graduação em Teologia [sobre a obra de Hans Urs von Balthasar]. Fala perfeitamente italiano, pois lecionou também em Roma, onde teve uma breve, porém intensa, experiência na Cúria como número dois no dicastério preposto ao diálogo ecumênico”. Por muito tempo foi membro do quadro editorial da revista Communio, representante do progressismo moderado apegado à letra do Concílio Vaticano II, em oposição à revista Concilium, que pretende estar aliada a seu “espírito”.
Caos.
Ordenado em 1968 no que considera “clima meio caótico”, o Cardeal lembra que no dia de sua ordenação um dos seus “familiares mais próximos disse-lhe: deverás mudar de idéia, pois parece que a Igreja a que darás a tua vida está desmoronando, parece não ter futuro. E dizia isso seriamente, não por brincadeira”.
Moderação.
Sobre liturgia, Sua Eminência diz que “depois do Concílio Vaticano II houve um movimento progressista litúrgico muito exagerado, que fez com que desaparecessem os tesouros da tradição como, por exemplo, o canto gregoriano. Tesouros que deveriam ser recuperados. Mas, como afirma o cardeal Joseph Ratzinger, deve-se recuperar principalmente o sentido sagrado da liturgia, ou seja, a percepção de que a liturgia não é algo que fabricamos, que podemos recompor segundo os nossos gostos passageiros, mas sim algo que se recebe, que nos é legado. Portanto, as objetividades das reformas litúrgicas têm a sua importância. Creio que as chamadas do cardeal Ratzinger sejam muito importantes. Penso que o Concílio Vaticano II tenha feito uma boa constituição sobre a sagrada liturgia, a Sacrosanctum Concilium. Mas a atuação da reforma litúrgica não foi – sempre – à altura. Seria preciso voltar à essência da Sacrosanctum Concilium”.
Tempo.
Para o Cardeal, depois do “Concílio Vaticano II a Igreja Católica entrou de modo decisivo e irreversível no movimento ecumênico. E isso é um grande fato pentecostal do nosso tempo, a ser avaliado de modo muito positivo. Mas a separação vivida por mil anos com a ortodoxia e por quinhentos com as comunidades nascidas da Reforma não pode ser restaurada imediatamente. Precisa-se de tempo”.
Para o sucesso do diálogo, Ouellet espera uma mudança de rumos: “a orientação ecumênica é centralizada demais no episcopado, nas relações entre colegialidade e papado e insuficiente sobre os fundamentos da fé e, portanto, sobre o papel de Maria”.
Rumos traçados já pelo Concílio Vaticano II, que deixou de aprovar o esquema exclusivamente dedicado à Santíssima Virgem, “fonte de vivas preocupações” para os peritos conciliares (cf. O Reno se lança no Tibre, ed. Permanência, pag. 96), para inseri-lo como um capítulo no esquema sobre a Igreja. Segundo os comentários do Padre Karl Rahner, a aprovaçã de um esquema separado “causaria um mal incalculável, em relação tanto aos Orientais como aos Protestantes”, pois “todos os resultados conquistados no domínio do ecumenismo, graças ao Concílio e em relação ao Concílio, seriam reduzidos a nada com a aprovação do esquema na forma em que estava”. (ibid).
Fonte: Fratres in Unum
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