terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Dom Bernard Fellay: humanamente, os acordos com Roma são impossíveis… mas a Igreja não é humana.

Na festa da Purificação da Virgem (Candelária, 2 de fevereiro), Mons. Fellay impôs a batina a treze novos seminaristas franceses da FSSPX (por certo, um número superior aos ingressos no seminário de quaqluer diocese francesa). Durante a homilia, que pode ser escutada neste link, o Superior geral da Fraternidade tratou também do tema dos diálogos com Roma. Eis uma paráfrase dos conceitos expressos por Mons. Fellay:


“Quando se olha as tendências e pensamentos que circulam e dominam na Igreja atualmente, se tem a impressão de que nossa cerimônia de hoje não tem pontos em comum. Como é possível que tantas coisas tenham mudado? E quando escutamos, inclusive de Roma, que nada mudou, é para se ficar estupefato. Também a Missa: basta abrir os olhos para ver se é ou não sempre a mesma. Reconhece-se todavia a Jesus como Filho de Deus? O terremoto sacudiu a Igreja desde seus alicerces. E então, se pergunta, chegar-se-á a um resultado nas discussões com Roma, teremos logo um acordo? Francamente, sinceramente, humanamente falando, não vemos chegar este acordo. O que quer dizer acordo? Sobre o que estamos de acordo? Sobre o fato de que só através da Igreja temos os meios de salvação?”.

“Se nós discutimos — não negociamos, discutimos — é na esperança de que esta verdade, que proclamamos aos máximos níveis da Igreja, toque os corações: já que temos os meios para abrir a boca, temos o dever de abri-la. Isso não quer dizer malbaratar a verdade para tratar de encontrar um caminho intermediário; absolutamente não, pelo contrário. Então, humanamente, não chegaremos nunca a um acordo; sim, humanamente não chegaremos a um acordo, por como vemos as coisas agora, humanamente não serve para nada. Mas quando falandos da Igreja, não falamos humanamente. Falamos de uma realidade sobrenatural à qual Nosso Senhor prometeu que não sucumbirá, contra a qual as portas do inferno não prevalecerão. E, portanto, ainda que estejamos diante de uma realidade difícil e contraditória, nós sabemos que as coisas estão nas mãos de Deus, que tem os meios para pôr as coisas novamente em seu lugar. Seria oportuno recordar que falar e discutir é necessário, mas não basta: quando se fala de salvar as almas, quando se pensa em como Deus fez a Igreja sair de outras crises que teve no curso dos séculos, vemos que o que se necessita é santidade, com a qual se rejuvenesce e cura a Igreja. Sem a graça, e ficando apenas no nível dos homens, já se perdeu desde o começo. Todos, portanto, como católicos, devemos fazer algo, avançando na graça, no amor de Deus e na caridade”.

Este discurso, que alguns órgãos de imprensa mal interpretaram como um boicote aos diálogos em curso (o que, ademais, seria totalmente incoerente, considerando os esforços por parte da FSSPX para obter este diálogos), é , na realidade, um discurso de abertura e confiança na intervenção sobrenatural para alcançar o resultado, inalcançável contando apenas com as forças humanas. Não há necessidade de ser semiólogo para saber que a frase “humanamente é impossível, mas Deus pode tornar as coisas possíveis” tem, evidentemente, um sentido exatamente oposto a dizer: “Deus pode tudo, mas humanamente é impossível”. Isto é, a ênfase está colocada sempre na adversativa (pensai na diferença entre “É um preguiçoso, mas um bom garoto” e “é um bom garoto, mas preguiçoso”).

Unamo-nos às orações pelo bom resultado destes diálogos, conhecendo, em particular, quanto ruído o campo progressista faz por seu fracasso.

Dignos de menção são também os conceitos que o bispo lefebvrista desenvolveu na homilia para explicar o valor da batina que os treze seminaristas usaram pela primeira vez, e, esperamos, in aeternum. Esta “batina toda negra” prega, disse:

“Recorda aos homens que sois discípulos de Jesus Cristo e é um sinal de que existe algo que ultrapassa a realidade dos homens: a fé, as realidade sobrenaturais. Sim, a batina fala e prega: diante dela, os homens reagem, talvez mal, mas com frequência positivamente afetados. A gente vê uma batina e vê um sacerdote. Hoje, esta imagem já não está na realidade, salvo entre os tradicionalistas e na publicidade (quando se trata de anunciar uma marca de spaghetti, se vê sacerdotes de batina, nunca de clergyman), mas precisamente porque sabem que, na alma dos cristãos, o sacerdote é o sacerdote de batina. E quando se pensa no sacerdote, se pensa em outro Jesus, em um homem que não é como os outros homens, que está separado do mundo. O preto da batina é o preto do luto, da morte ao mundo, da renúncia a ele. A batina é já sacrifício, não pelo prazer do sacrifício como fim em si mesmo, como um estóico ou um masoquista, mas para se pôr à disposição das almas. E se essa batina se comporta bem, é uma verdadeira chama; se se comporta mal, é imediatamente um escândalo que produz um imenso mal”.

Fonte: Messa in Latino, via La Buhardilla de Jerónimo.

Visto em: Fratres in Unum

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