Cada Sacerdote que oferece o Santo Sacrifício deve recordar-se de que, durante este Sacrifício, não é só ele com a sua comunidade que está a orar, mas ora toda a Igreja, exprimindo assim, também com o uso do texto litúrgico aprovado, a sua unidade espiritual neste Sacramento. Se alguém pretendesse chamar a tal posição "uniformismo" isso comprovaria somente a ignorância das exigências objectivas da unidade autêntica e seria sintoma de um prejudicial individualismo.
A subordinação assim do ministro, do celebrante, ao "Mysterium" que lhe foi confiado pela Igreja, para o bem de todo o Povo de Deus, deve ter a sua expressão também na observância das exigências litúrgicas relativas à celebração do Santo Sacrifício. Essas exigências dizem respeito, por exemplo, ao vestuário e, em particular, aos paramentos que o celebrante reveste. É natural que tenha havido e que haja ainda hoje circunstâncias em que as prescrições não obrigam; pudemos ler, com emoção, em livros escritos por sacerdotes ex-prisioneiros dos campos de extermínio, descrições de celebrações eucarísticas sem se observarem as sobreditas regras, ou seja, sem paramentos. No entanto, se isso em tais condições era prova de heroísmo e devia suscitar uma estima profunda, em condições normais o transcurar as prescrições litúrgicas, ao contrário, pode ser interpretado como falta de respeito para com a Eucaristia, ditada talvez pelo individualismo ou por uma carência de sentido crítico quanto às opiniões correntes, ou ainda por uma certa falta de espírito de fé.
Pesa de modo particular sobre todos nós, os que somos, por graça de Deus, ministros da Eucaristia, a responsabilidade pelas ideias e pelas atitudes dos nossos irmãos e irmãs, confiados ao nosso cuidado pastoral. A nossa vocação comporta em primeiro plano o ter de suscitar, antes de mais nada com o exemplo pessoal, todas as sãs manifestações de culto para com Cristo presente e operante neste Sacramento de amor. Deus nos livre de agir diversamente, de enfraquecer um tal culto, "desabituando-nos" das várias manifestações e formas de culto eucarístico, em que se exprime uma "tradicional" mas sã piedade e, sobretudo, aquele "sentido da fé", que todo o Povo de Deus possui, como recordava o II Concílio do Vaticano (70).
Prestes a terminar estas minhas considerações, quereria antes pedir perdão — em meu nome pessoal e no de todos vós, veneráveis e amados Irmãos no Episcopado — por tudo aquilo que, por qualquer motivo e por qualquer espécie de humana fraqueza, impaciência ou negligência, em consequência também de uma aplicação algumas vezes parcial, unilateral ou errónea das prescrições do II Concílio do Vaticano, possa ter causado escândalo ou mal-estar quanto à interpretação da doutrina e à veneração devida a este grande Sacramento. E elevo as minhas preces ao Senhor Jesus para que no futuro seja evitado, no nosso modo de tratar este sagrado Mistério, aquilo que possa debilitar ou desorientar de qualquer maneira o sentido de reverência e de amor nos nossos fiéis.
E que o mesmo Cristo nos ajude a prosseguir pelas vias da verdadeira renovação, no sentido daquela plenitude de vida e de culto eucarístico, por meio do qual se constrói a Igreja naquela unidade que ela já possui e que deseja realizar ainda mais, para a glória de Deus vivo e para a salvação de todos os homens.
Carta Dominicae Cenae Vaticano, aos 24 de Fevereiro — Primeiro Domingo da Quaresma — do ano de 1980, segundo do meu Pontificado.
IOANNES PAULUS PP. II
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