Pope Benedict XVI celebra a Missa da Epifania do Senhor, na Basílica de São Pedro, 6 de janeiro de 2010 (Daylife)
O Santo Padre usava para hoje, na Missa, uma casula que é um dos exemplos mais Italianate e barroco de uma casula romana que tem sido utilizado até à data.
Fontes: NLM e Daylife
A Epifania do Verbo Divino no Batismo do Jordão
de Manuel Nin
Em todas as tradições cristãs do Oriente a Epifania celebra a manifestação do Verbo de Deus encarnado, em um contexto trinitário e cristológico. Os textos litúrgicos resumem de qualquer modo os principais mistérios da fé cristã: o mistério trinitário, a encarnação do Verbo de Deus e a redenção recebida no Batismo, evento celebrado durante a grande bênção da água que recorda o batismo de Cristo e o de cada um dos cristãos. Na tradição bizantina a Epifania é uma das doze grandes festas, com uma “pré-festa” que inicia no dia 2 de janeiro e uma oitava que termina no dia 14 de janeiro. Este tempo quer mostrar como a Igreja, dócil à liturgia, se prepara para as celebrações de um grande evento da salvação e como o vive por oito dias que tornam evidente o mistério celebrado.
Os textos hinológicos da véspera e do ofício matutino estão são dos grandes hinógrafos bizantinos vividos do século VI ao IX – Romano o Melode, Sofrônio de Jerusalém, Germano de Constantinopla, André de Creta, João Damasceno, José o Hinógrafo – e sublinham o estupor e a maravilha do Batista e de toda a criação (anjos, firmamento, água do Jordão) face à manifestação humilde de Cristo que se aproxima para receber o batismo. Um dos textos mais significativos é a grande bênção da água, celebrada ao fim da véspera ou mesmo ao fim da Divina Liturgia do dia e que se realiza, como de costume, na fonte batismal da igreja. A oração, atribuída a Sofrônio de Jerusalém, é um longo texto que constitui uma celebração em si mesma, se bem que se situa sem solução de continuidade com a véspera ou com a Divina Liturgia.
Depois do canto dos tropários a celebração prossegue com diversas leituras do Antigo e do Novo Testamento: três textos proféticos de Isaías (35, 1-10; 55, 1-13; 12, 3-6), depois São Paulo (I Coríntios 10,1-4), e então o evangelho de Marcos (9, 1-11). Segue a grande litania diaconal com uma invocação do Espírito Santo para a consagração das águas, para que elas sejam fonte de perdão, de purificação e de vida nova para os batizados: “A fim de que seja santificada esta água com a virtude e o poder e a vinda do Espírito Santo . A fim de que desça sobre estas águas a ação purificadora da super-substancial Trindade. A fim de que nós possamos ser iluminados com a luz do conhecimento e da piedade pela vinda do Espírito Santo. A fim de que esta água possa tornar-se dom de santificação, banho dos pecados para a cura da alma e do corpo”.
A oração de consagração da água inicia com uma primeira parte na qual o sacerdotes louva a Trindade divina, como nas anáforas eucarísticas: “Trindade super-substancial, boníssima, diviníssima, onipotente, onisciente, invisível, incompreensível, criadora, inata bondade, luz inacessível”. A oração se dirige depois diretamente a Cristo, com títulos que indicam um contexto claramente calcedoniano: “Nós te glorificamos, Senhor, amigo dos homens, onipotente, rei eterno, Filho Unigênito, nascido da Mãe sem pai e do Pai sem mãe. Na festa precedente de fato te havíamos visto menino, nesta ao invés te vemos perfeito, manifestando-te nosso Deus perfeito”.
O texto prossegue com a enumeração dos fatos salvíficos celebrados na festa; nas vinte e quatro invocações que iniciam com a palavra “hoje”, o texto descreve não somente os fatos ocorridos na história da salvação e hoje comemorados, mas a palavra “hoje” tem uma força de atualização na celebração e na vida da Igreja: “Hoje a graça do Espírito Santo, em forma de pomba, desce sobre a água. Hoje o incriado, por sua vontade, é tocado pelas mãos da criatura. Hoje o Rio Jordão se transmuta em remédio pela presença do Senhor. Hoje somos resgatados das trevas e nos tornamos brilhantes pela luz do divino conhecimento”. Duas frases do sacerdote invocam por três vezes a santificação das águas: “Tu, Senhor, rei e amigo dos homens, sê presente também agora pela vinda do teu Espírito Santo e santifica esta água. Tu mesmo também agora, ó Senhor, santifica esta água com o teu Espírito Santo”.
Terminada a oração, o sacerdote introduz a cruz benedicional com um raminho de ervas aromáticas na água cantando, por três vezes, o tropário da festa: “No teu batismo no Jordão, Senhor, manifestou-se a adoração da Trindade: a voz do Pai te rendia de fato testemunho, chamando-te ‘Filho dileto’, e o Espírito Santo, em forma de pomba, confirmava a segura verdade desta palavra. Ó Cristo deus que te manifestaste e iluminaste o mundo, glória a ti”. Ao término os fiéis passam a beijar a cruz e são aspergidos com a água consagrada, que depois, segundo a tradição, levam para casa.
Da festa podem ser sublinhados três aspectos: em primeiro lugar, a manifestação da divindade em chave trinitária: o batismo de Cristo no Jordão manifesta sim a revelação do Verbo de Deus, mas inclui também a do Pai e do Espírito Santo. Em segundo lugar, a celebração manifesta a obra salvífica de Cristo, evidenciada no batismo e levada a cabo na sua humilhação. Em terceiro lugar, a celebração da Epifania significa também a comunicação aos homens da graça do Espírito Santo por meio da água do batismo.
Fonte: L'Osservatore Romano
Visto em: Oblatus
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