“Cardeal contra cardeal” e a
“A apostasia virá do alto, do cimo da Igreja” são duas frases que não saem da
minha cabeça ultimamente.
Quanto do Vaticano II não
foi decidido diante de interpretações empolgadas da mídia que, por sua vez, levou
consigo um grande número de bispos, também empolgado com “novidades”? Essa
palavra, às vezes, causa-me temor só de ouvi-la. Na esteira do Concílio, as
novidades foram sendo incorporadas ao sabor de ventos estranhos ao catolicismo,
de modo particular na liturgia, que expressa de forma externa o que a Igreja
professa enquanto fé. Dom Aloísio Roque Oppermann, scj, arcebispo de Uberaba desde
1996 e falecido este ano, fala de uma falta de preparo disciplinar e
desobediência na aplicação do que era discutido no Concílio e propagado pela
imprensa muito antes de ser aprovado.
“Durante a sessão do Concílio
Vaticano II, em outubro de 1963, a maioria dos Padres novos (entre os
quais eu me encontrava), procurou aplicar na prática o que se aprovava em Roma.
Nós líamos no jornal hoje, o que tinha sido votado pelos Bispos, a respeito da
Liturgia, e amanhã já aplicávamos. Era uma grande falta de preparo disciplinar.
Não esperávamos a aprovação do Papa , nem a promulgação da “Sacrossanctum
Concilium”, nem muito menos a sua regulamentação. Posso, no entanto, garantir
que fazíamos isso, não movidos pela má fé. Naquela época vigia uma
espécie de “vácuo” de regras claras [...]” (Fonte: CNBB).
E, agora, temos o Sínodo,
que além de empolgação midiática tem evidenciado muito mais problemáticas. Os
cardeis africanos que alertaram para o perigo de um afrouxamento moral são ridicularizados por Kasper, há a nomeação apenas de cardeais “progressistas” (palavra estranha
que é usada definir muita coisa, mas muita mesmo) para estar à frente do relatório,
há suspeitas de que os documentos apresentados à imprensa sobre as discussões do
Sínodo já estavam previamente preparados, há um claro distanciamento, para
dizer o mínimo, sobre a doutrina da Igreja acerca da família e das relações “homoafetivas”.
Todo magistério de são João
Paulo II, juntamente com o de Bento XVI, acerca destes temas parece ter sido
esquecido. Vozes daqueles que são fiéis à doutrina se levantam (cardeal x
cardeal), pedem intervenção do papa, o Sumo Pontífice, aquele que deve confirmar
os irmãos na fé. Que fé? Ele se cala... O papa que tanto fala, não fala, se
cala... Em nome de “misericórdia”, de “pastoral”, se cala. Daqui à pouco as
pedras começam a gritar...
O vaticanista Sandro Magister fez o seguinte relato: Sob disparos de cerca de 41 intervenções, os
cardeais Pell [Prefeito da Secretaria para a Economia], Ouellet [Prefeito da
Congregação para os Bispos], Filoni [Prefeito da Congregação para a
Evangelização dos Povos (Propaganda Fide)], Dolan [de Nova York], Vingt-Trois
[de Paris], Burke [Prefeito da Assinatura Apostólica], Rylko [Presidente do
Pontifício Conselho para os Leigos], Müller [Prefeito da Congregação para a
Doutrina da Fé], Scola [de Milão], Caffarra [de Bolonha] dentre outros,
soltaram o verbo, todos contra uma abertura a segundos matrimônios, conforme
proposto pelo Cardeal Kasper, que também interveio.
Daqui a pouco lhes cortam o
direito à palavra no Sínodo, já que isso lhes tem sido retirado nos
comunicados à imprensa, até mesmo o cardeal Gerhard Müller teria se manifestado mostrando como isso é vergonhoso, fato desmentido, para variar, pelo porta voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, quanto às expressões citadas, mais precisamente no se refere ao adjetivo "vergonhoso". Este fato me remeteu ao passado, de novo: Durante o
Concílio, o Cardeal Ottaviani, Prefeito do Santo Ofício, exprimiu um dia em seu
discurso sua inquietação quanto a algumas inovações. Falava sem texto, por
estar quase cego e ultrapassou seu tempo para falar. Então, o microfone
simplesmente lhe foi cortado. O “teólogo progressista” Rahner comentou o
acontecimento em uma carta escrita a Vorgrimler, em 5 de novembro de 1962:
“Você já deve ter sabido que Alfrink, de novo, simplesmente cortou a
palavra a Ottaviani, por que ele falava por muito tempo. Começou-se a aplaudir
(o que não é habitual). Moral: A alegria sádica é a alegria mais pura.”
(Deutsche Tagespost, 10 de outubro de 1992).
O Ocidente, que nega a si mesmo, ganha força dentro da Igreja. Como historiador, fico procurando no
passado uma crise semelhante a esta, lembro-me dos arianos... Complicado, qual
a identidade da Igreja? Ela também se nega.