Bento XVI, aos 22 de setembro de
2011, proferiu um discurso no Palácio Reichstag de Berlim, concluindo o
mesmo com a seguinte ideia:
“A cultura da Europa nasceu do encontro entre Jerusalém, Atenas e Roma,
do encontro entre a fé no Deus de Israel, a razão filosófica dos Gregos e o
pensamento jurídico de Roma. Este tríplice encontro forma a identidade íntima
da Europa. Na consciência da responsabilidade do homem diante de Deus e no
reconhecimento da dignidade inviolável do homem, de cada homem, este encontro
fixou critérios do direito, cuja defesa é nossa tarefa neste momento histórico...”.
(Bento XVI, 22 set 2011)
Bem, o que Bento XVI fala da origem
da cultura europeia pode-se dizer de todo o Ocidente. Os fatos históricos são
inegáveis, a cultura europeia veio para a América e outras áreas ao longo dos
processos coloniais. Mesmo aqueles valores iluministas, maçônicos, possuem
raízes na laicização do pensamento cristão, ou na deturpação da “fraternidade, igualdade
e liberdade”. A estirpe desta ‘sagrada trindade maçônica’, está na deformação antropocêntrica
dos ideais teocêntricos cristãos.
A ‘fraternidade cristã’ está
ligada à perspectiva da adoção amorosa de Deus para com a criatura humana; da
mesma forma, a ‘igualdade’, só é real diante do Pai que nos adota, todos iguais
em dignidade, mas não em talentos, virtudes etc. A ‘liberdade’ também tem sua explicação
no ato criador e amoroso de Deus, fazendo-nos livres para escolher.
A modernidade e seu antropocentrismo
culminaram, do Renascimento ao Iluminismo, na laicização e na adulteração
do pensamento teocêntrico cristão. Com isso, a fraternidade ganhou novo sentido
com os filhos que mataram o pai da nação (o rei Luís XVI) na Revolução
Francesa, um irmão que precisa cuidar do outro, o sentido maçônico de ajuda mútua foi ganhando força nas concepções deístas que entendiam o “.’. Grande .’. Arquiteto
.’. Do .’. Universo .’.” como um ser ausente, uma deidade que abandonara sua
criação.
De forma semelhante, a concepção
de ‘igualdade’ ganhou aspectos políticos e materialistas. Os filhos da Revolução, o
Iluminismo e o Socialismo, passaram a pregar a igualdade, claro, dentro suas
próprias interpretações. Por um lado, o liberalismo apregoou uma igualdade de
direitos para que, diante da não-interferência do Estado, por um suposto mérito
pessoal, as pessoas egoisticamente pudessem buscar a riqueza e com isso uma ‘mão
invisível’ conduziria a todos para um mundo melhor. No oposto, o Socialismo
apregoou uma ditadura do proletariado, um Estado totalitário, para concretizar
uma expropriação e uma utópica igualdade promovida por este, que ao final de
seus objetivos se imolaria como um cordeiro redentor da humanidade, do
Comunismo.
A ‘liberdade’, por sua vez, foi a
pedra de toque do Iluminismo e até hoje ecoa, com o seu novo sentido, presente
em diversas Constituições: “Todo homem é livre para ir e vir”. O problema é:
quem pode ir e vir? A sociedade, também utópica, iluminista não conduziu todos
com a ‘mão invisível’, de Adam Smith, ao mesmo patamar de ‘igualdade’ para que
todos possam ir e vir.
Enfim, o Ocidente parece sempre
negar suas raízes, laicizá-las, deturpá-las. Daquele tripé mencionado por Bento
XVI, o mais atacado é Jerusalém, o Cristianismo.
Nietzsche, Sartre e Foucault são os
mais lembrados, mas não apenas estes, na Contemporaneidade, são os combatentes
intelectuais do Cristianismo. Liguem a televisão, leiam os jornais, o ataque é
sempre contra tudo o que o Ocidente representa. Loas são feitas a qualquer
coisa, a qualquer um, e os ataques se dirigem sempre àqueles que defendem as
raízes cristãs.
Bento XVI foi vítima constante destes
ataques, desde a época em que era chamado de “cardeal panzer” e claro, principalmente,
como papa. Ainda carrego comigo a ideia de que sua renúncia, ligada ao seu
desgaste físico e espiritual, está diretamente imbricada à forte oposição que
teve de enfrentar. É interessante ver como o enfoque dado aos escândalos de
pedofilia cessou na mídia com o “populismo de Francisco” e seu quase silêncio doutrinal.
Esta mesma mídia deveria, no mínimo,
repensar o que já escreveu acerca de Bento XVI. Como, neste momento histórico
de perseguição aos cristãos em alguns países islâmicos, não se recordar de mais
um pronunciamento de Bento XVI?
“No sétimo colóquio (διάλεξις – controvérsia) publicado pelo Prof.
Khoury, o imperador aborda o tema da jihād, da guerra santa. O imperador sabia seguramente que, na sura 2, 256, lê-se: «Nenhuma coacção nas coisas
de fé». Esta é provavelmente uma das suras do período inicial – segundo uma parte dos peritos –
quando o próprio Maomé se encontrava ainda sem poder e ameaçado. Naturalmente,
sobre a guerra santa, o imperador conhecia também as disposições que se foram
desenvolvendo posteriormente e se fixaram no Alcorão. Sem se deter em
pormenores como a diferença de tratamento entre os que possuem o «Livro» e os
«incrédulos», ele, de modo surpreendentemente brusco – tão brusco que para nós
é inaceitável –, dirige-se ao seu interlocutor simplesmente com a pergunta central
sobre a relação entre religião e violência em geral, dizendo: «Mostra-me também
o que trouxe de novo Maomé, e encontrarás apenas coisas más e desumanas tais
como a sua norma de propagar, através da espada, a fé que pregava»”.
(Bento XVI, 12 set 2006).
Os meios de comunicação social,
acompanhados de teólogos midiáticos, que adoram falar em ‘cadeira de Galileu
Galilei’ etc, fizeram ecoar jargões para qualificar o então papa como “retrógrado”; “destruidor do ecumenismo”, “cometedor
de gafes” etc. Toda a Aula Magna apresentada na Universidade de
Regensburg, aos 12 de Setembro de 2006, em seu encontro com os
representantes das ciências, fora resumida em uma citação. As repercussões só
cresciam com o estardalhaço jornalístico. Era como se o Ocidente culpasse a um
de seus mais notórios representantes por um fiasco e legitimassem um possível
atendado terrorista contra o mesmo.
Bem, e agora? As palavras de Bento
XVI saíram do campo do discurso e ganharam conotação quase que de ‘profecia’.
Cadê a mídia? Cobrindo uma possível ação dos EUA e seu presidente. Os EUA devem ou não intervir?
Se não o fazem, serão culpados por omissão, se o fazem, serão culpados por intervirem
e, claro, irão buscar qualquer ‘abuso’.