domingo, 27 de julho de 2025

 

Leão XIV: um papa de consenso na esteira dos 60 anos do Vaticano II

 Leo XIV: a pope of consensus in the wake of 60 years of Vatican II

Juliano Alves Dias[1]





Resumo:

A eleição de Leão XIV urge refletir sobre a situação da Igreja no último século, de modo particular após a implementação do Concílio Ecumênico Vaticano II. Para alguns setores da Igreja, que enxergam o Vaticano II como uma ruptura com o passado bimilenar da Igreja, certas questões já deveriam estar superadas. Mas este Conclave trouxe à baila problemas não resolvidos e ecoou a crise identitária da Igreja. Nesse sentido, o presente artigo, por meio de análise de fontes primárias que vão desde documentos pontifícios até notícias de jornais, visa apresentar os conflitos de interesse em volta dos dois predecessores de Leão, Bento XVI e Francisco, para então apontar os desafios que cabem ao chefe da Igreja Católica, cujas as decisões refletem em milhares de pessoas no mundo que professam o Catolicismo.

Palavras-chave: Papado, Vaticano II, Igreja Católica

 

Abstract:

The election of Leo XIV calls for reflection on the situation of the Church in the last century, particularly after the implementation of the Second Vatican Ecumenical Council. For some sectors of the Church that see Vatican II as a break with the Church's two-thousand-year past, certain issues should have already been overcome. However, this Conclave brought to the fore unresolved problems and echoed the Church's identity crisis. In this sense, this article, through an analysis of primary sources ranging from pontifical documents to newspaper reports, aims to present the conflicts of interest surrounding Leo's two predecessors, Benedict XVI and Francis, and then point out the challenges facing the head of the Catholic Church, whose decisions reflect on thousands of people around the world who profess Catholicism.

Keywords: Papacy, Vatican II, Catholic Church




[1] Doutor em História pela Unesp-Franca e docente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo - campus Barretos-SP.

 

 

A eleição de Robert Francis Prevost, O.S.A. aos 08 de maio de 2025 fez despertar novo interesse sobre a instituição eclesiásticas e o seu novo líder recém-eleito. Leão XIV representaria qual setor no vasto campo eclesiológico, seria ele um conservador ou um progressista, estaria alinhando ao pensamento e ações do último papa, Francisco?

As questões foram colocadas antes, durante e após o Conclave que o elegeu. Uma Igreja dividida em setores, em crise de identidade frente ao mundo moderno vê um papa eleito ao final do quarto escrutínio feito pelo colégio cardinalício. Ao sair na Loggia das Bênçãos da Basílica de São Pedro, seus paramentos logo chamaram a atenção, lembravam mais Bento XVI que Francisco. O que representavam aqueles símbolos, quais seus posicionamentos? Todas estas questões estão em aberto no início deste pontificado.

Para lançar algumas luzes sobre esta temática, sobre a divisão interna no seio da Igreja, e a consequente eleição de Prevost, é salutar uma recapitulação histórica. Comecemos por contextualizar a escolha de seu nome, Leão XIV, uma referência, segundo o próprio, à Leão XIII e sua resposta à questão social, por meio da Rerum Novarum.

 

[...] pensei em adotar o nome de Leão XIV. Na verdade, são várias as razões, mas a principal é porque o Papa Leão XIII, com a histórica Encíclica Rerum novarum, abordou a questão social no contexto da primeira grande revolução industrial; e, hoje, a Igreja oferece a todos a riqueza de sua doutrina social para responder a outra revolução industrial e aos desenvolvimentos da inteligência artificial, que trazem novos desafios para a defesa da dignidade humana, da justiça e do trabalho. (Leão XIV, Audiência aos membros do colégio cardinalício, 10 mai 25).

 

O SÉCULO XIX

Em meio à II Revolução Industrial, Revoluções de 1930, Primavera dos Povos e o Manifesto Comunista (1948), as ondas se agitaram não só contra a barca de Pedro, mas para todos os segmentos cristãos ocidentais. No campo das ciências, a biologia ganhava notoriedade com Darwin (1809-1882) ao retirar do homem o seu status de ser criado por uma divindade e colocá-lo junto às demais espécies em um processo evolutivo marcado por adaptações ao longo dos séculos em seu livro A Origem das Espécies (1859).

No campo arqueológico, as escavações feitas na Síria-Palestina mostravam que os textos sagrados do cristianismo não condiziam com os dados levantados. A cada camada escavada, muitas vezes patrocinadas pelo mundo protestante, novas decepções surgiam. Abraão e os Patriarcas pareciam mitos distantes que se somariam à problemática biológica acerca da espécie humana.

Se não existiu um Adão, não houve uma queda; sem queda, sem necessidade de redenção. Logo, a base das teologias cristãs estavam a ruir. As reações foram diversas. No meio protestante, houve aqueles que aceitaram negociar, abrindo caminho para uma teologia liberal, outros ficaram com uma neo-ortodoxia, como Karl Barth (1886-1968) buscando separar “história” de “História da Salvação” (Berger, 2024, p. 208). Era preciso considerar os elementos fundamentais da fé cristã e tentar preservá-los, salvaguardando a religião, no caso protestante, tão dependente da Bíblia.

O universo do catolicismo, contém outras armas que foram renegadas pelos protestantes ao longo tempo, entre elas destaca-se a Tradição: uma força que gerou e interpretou as escrituras, considerando-as canônicas ou não, poderia simplesmente afirmar a autoridade por meio da Sucessão Apostólica e daquele que calçava as sandálias do pescador. Do trono de Pedro, Pio IX (1846-1878) condenaria o mundo moderno por meio de sua encíclica Quanta Cura e seu Syllabus de erros (1864) e em um Concílio inacabado, o Vaticano I (1869-1970), devido à Unificação Italiana e a perda dos Estados Pontifícios, afirmaria a infalibilidade papal sob assuntos de fé e moral. Preservara-se assim, o Catolicismo de qualquer constrangedora descoberta arqueológica ou crítica textual às Escrituras.

É nesse cenário que se encontra Leão XIII (1878-1903) e sua Rerum Novarum, o papa condenara as visões socialistas como solução para o problema social, da mesma forma em que apontara os erros da exploração capitalista e do liberalismo. Sua solução: a defesa da propriedade privada e a cooperação entre as classes sociais pautadas na caridade cristã:

 

Vede, Veneráveis Irmãos, por quem e por que meios esta questão tão difícil demanda ser tratada e resolvida. Tome cada um a tarefa que lhe pertence; e isto sem demora, para que não suceda que, adiando o remédio, se tome incurável o mal, já de si tão grave.

Façam os governantes uso da autoridade protetora das leis e das instituições; lembrem-se os ricos e os patrões dos seus deveres; tratem os operários, cuja sorte está em jogo, dos seus interesses pelas vias legítimas; e, visto que só a religião, como dissemos no princípio, é capaz de arrancar o mal pela raiz, lembrem-se todos de que a primeira coisa a fazer é a restauração dos costumes cristãos, sem os quais os meios mais eficazes sugeridos pela prudência humana serão pouco aptos para produzir salutares resultados. Quanto à Igreja, a sua ação jamais faltará por qualquer modo, e será tanto mais fecunda, quanto mais livremente se possa desenvolver.

Nós desejamos que compreendam isto sobretudo aqueles cuja missão é velar pelo bem público. Empreguem neste ponto os Ministros do Santuário toda a energia da sua alma e generosidade do seu zelo, e guiados pela vossa autoridade e pelo vosso exemplo, Veneráveis Irmãos, não se cansem de inculcar a todas as classes da sociedade as máximas do Evangelho; façamos tudo quanto estiver ao nosso alcance para salvação dos povos, e, sobretudo, alimentem em si e acendam nos outros, nos grandes e nos pequenos a caridade, senhora e rainha de todas as virtudes. Portanto, a salvação desejada deve ser principalmente o fruto duma grande efusão de caridade, queremos dizer, daquela caridade que compendia em si todo o Evangelho, e que, sempre pronta a sacrificar-se pelo próximo, é o antídoto mais seguro contra o orgulho e o egoísmo do século. Desta virtude, descreveu S. Paulo as feições características com as seguintes palavras: «A caridade é paciente, é benigna, não cuida do seu interesse; tudo sofre; a tudo se resigna» (RN, nº 35).

 

Aqui, encontra-se um ponto interessante, embora a ênfase da escolha do nome, por Prevost, recaia na questão social, Leão XIII foi também o papa que declarou as ordenações anglicanas inválidas, que escreveu a Humanum Genus (1884), reforçando a condenação à maçonaria e ao naturalismo; bem como, a Aeterni Patris (1879), retomando o tomismo como filosofia oficial da Igreja, base para formação dos padres.

 

O SÉCULO XX

No entanto, as ideias, então chamadas de liberais, também penetrariam em teologias católicas. Estas foram fortemente combatidas, de modo particular, a partir de São Pio X (1903-1914) e sua Pascendi Dominici Gregis (1907). Por décadas, estes rios de novos pensamentos foram barrados pelos diques construídos pelo Santo Ofício. Mas chegara, João XXIII (1958-1963) que desejava novos ares para a Igreja. Seu sucessor, Paulo VI (1963-1978) percebeu que os diques haviam se rompido, a janela aberta trouxe ares que o assustou, a ponto de declarar que fumaça de Satanás entrara na Igreja. Quem explica essa frase de Paulo VI é o cardeal Virgílio Noé, que foi seu mestre cerimônias, em uma entrevista dada ao site Petrus, que já não se encontra mais on-line (fenômeno que pode ser explicado devido à ascensão de Francisco e a perseguição que fez aos chamados tradicionalistas), mas que foi reproduzido no livro Sacrificium laudis (Dias, 2011, p.77):

 

Resta immemorabile la denuncia di Paolo VI sulla presenza del fumo di Satana nella Chiesa. Ancora oggi, quel discorso sembra di un’attualità incredibile. Ma, con esattezza, cosa voleva dire il Papa?

“Voi di ‘Petrus’ avete fatto un bel colpo, perché sono in grado di rivelare, per la prima volta, cosa intendesse denunciare Paolo VI con quella affermazione. Ecco, Papa Montini per Satana intendeva classificare tutti quei sacerdoti o vescovi e Cardinali che non rendevano culto al Signore mal celebrando la Santa Messa a causa di una errata interpretazione e applicazione del Concilio Vaticano II. Parlò di fumo di Satana perchè sosteneva che quei preti che della Santa Messa facevano paglia in nome della creatività, in realtà erano posseduti dalla vanagloria e dalla supervia del Maligno. Dunque, il fumo di Satana altro non era che la mentalità che voleva stravolgere i canoni tradizionali e liturgici della cerimonia Eucaristica”. (DIAS, p.77)

 

O cardeal Noé explica, portanto, que o papa Montini fazia referência a padres ou bispos e cardeais que não rendem culto ao Senhor, celebrando mal a Santa Missa por causa de uma errônea interpretação e aplicação do Concílio Vaticano II. A fumaça de Satanás diz respeito direto a certos prelados que faziam da missa uma espécie de palha seca em nome da criatividade, fruto da vanglória e do orgulho do Maligno, segundo o cardeal. Dessa forma, a fumaça de Satanás, a que se referia Paulo VI, está relacionada a uma mentalidade que distorcia os cânones tradicionais e litúrgicos da cerimônia Eucarística.

Leão XIV foi eleito na esteira de comemoração dos sessenta anos do Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965). Este Concílio desperta os ânimos de diferentes grupos seja na Igreja ou em meios acadêmicos, ao buscarem desenvolver uma narrativa histórica que legitime posições tomadas previamente acerca do sentido, do papel e do significado da religião católica frente a este evento. Os pontificados imediatamente anteriores à Leão XIV são expressões antagônicas de interpretação deste Concílio, por isso, dar-se-á ênfase, a seguir, nesses posicionamentos.

De modo geral, o Vaticano II é instrumento para justificar ações, movimentos e posturas políticas mais diversas enxertadas no seio da barca de Pedro. Uma questão que nasce deste cenário, de uma multiforme interpretação do Concílio Vaticano II deve ser buscada, no mínimo, um século antes deste, naquele cenário do século XIX, quando os fundamentos da fé cristã foram fortemente abalados.

O que se seguiu dali, seja no meio protestante, seja no católico, determinou os mais diversos posicionamentos teológicos que tiveram forte efervescência na Alemanha de Ratzinger, futuro Bento XVI (2005-2013) que participaria do Concílio como perito (Seewald, 2021, p. 444) para o cardeal progressista de Colônia, Josef Frings (1887-1978), e, depois, ganharia fama como teólogo e ascenderia ao episcopado, cardinalato e, por fim, ao Papado, quando buscaria aplicar sua visão do que foi o Vaticano II.

Este, ao que parece é ponto fundamental para entender o Pontificado de Bento XVI, como um filho do Concílio, ele testemunhou a crise que vinha do século XIX, que se alastrara primeiro em sua Alemanha, por meio protestante e depois por católicos, foi ele membro do Concílio e viu seus efeitos, ou melhor sua instrumentalização por forças antes contidas.

 

O PAPA RATZINGER

Antes mesmo de se tornar papa, ao longo de sua ascensão pela hierarquia eclesiástica, Ratzinger dava sinais de que entendera que o Vaticano II propusera uma coisa, mas sua aplicação não ocorrera de forma adequada.

A questão litúrgica, para ele, demonstrara uma associação direta entre oração e fé, presente no adágio latino lex orandi, lex credenti; ou seja, a forma da oração estaria ligada diretamente à questão da fé, sendo em sua última instância uma expressão dessa. Esse elemento parece ter norteado cada grande gesto de seu pontificado.

O primeiro documento que foi gerado pelo Vaticano II, dizia respeito justamente à liturgia: a Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium (1963). Já em Introdução ao espírito da liturgia (2006) Ratzinger chamava a atenção para o fato de que o documento conciliar não fora respeitado, mas se fabricou uma liturgia nova, já não voltada para Deus, mas centrada no homem, em um círculo fechado que relegava a divindade à segundo plano. Observara o cardeal que as instruções do documento conciliar não forma cumpridas, era preciso corrigir estes fatos.

Em cada paróquia, aplicações e traduções peculiares do novo rito inaugurado por Paulo VI (1969) davam vasão a experimentalismos que abriam caminho para a relativização dos dogmas de fé católico e, consequentemente, sua identidade. Em sua obra Introdução ao cristianismo, cuja primeira edição data de 1967, Ratzinger alertara para o perigo da desmitologização, fato que tinha testemunhado entre os protestantes alemães. No prefácio da edição do ano 2000, o então cardeal falava a respeito do rito novo e seu uso inculturado pela teologia da libertação (Ratzinger, 2006, p. 22), uma tentativa infrutífera de conciliação entre o cristianismo e o marxismo, e seu efeito devastador no sentido real da liturgia, no qual Cristo era destituído de sua divindade, visto apenas como personificação dos sofredores e oprimidos, o que deu origem a uma nova interpretação que se configurou “[...] numa nova leitura da Bíblia (sobretudo do Antigo Testamento) e em uma nova liturgia celebrada como antecipação simbólica da revolução e como preparação para ela” (Ratzinger, 2006, p.14).

A Sacrosanctum Concilium (1963) determinou diversas coisas quanto à liturgia, mas a nova liturgia gestada no pós-Vaticano II praticamente ignorou este documento, note-se as ordenações conciliares abaixo:

 

§ 1. Salvo o direito particular, seja conservado o uso da língua latina.

§ 2. Dado, porém, que não raramente, o uso da língua vulgar pode ser muito útil para o povo, seja na Missa, seja na administração dos sacramentos, seja em outras partes da Liturgia, dê-se-lhe um lugar mais amplo, especialmente nas leituras e admoestações, em algumas orações e cânticos, segundo as normas estabelecidas para cada caso nos capítulos seguintes. (SC, n.36).

 

Essas determinações não foram cumpridas, pelo contrário, foram ignoradas. O latim, fora abandonado e com ele o sentido de unidade, de universalidade, própria do catolicismo que cedeu lugar a uma verdadeira babel litúrgica. Desde o início de seu pontificado, Bento XVI declarou que o Concílio foi interpretado como uma ruptura, era preciso, remendar esta linha de pensamento, aceitar as mudanças sem cair nos rios caudalosos vindos do século XIX, mas manter uma continuidade com o passado e a tradição.

Diante dessa problemática, pode-se entender certos aspectos do Pontificado de Bento XVI que, poucos meses após sua eleição como papa, proferiu um discurso que marcaria sua postura frente ao Vaticano II, a de uma Hermenêutica da Continuidade com a tradição católica. Foi o seu primeiro discurso de final de ano para Cúria Romana, e nele o papa condenou uma interpretação do Concílio como ruptura:

 

O último acontecimento deste ano, sobre o qual gostaria de me deter nesta ocasião, é a celebração do encerramento do Concílio Vaticano II, há quarenta anos. Tal memória suscita a interrogação: qual foi o resultado do Concílio? Foi recebido de modo correto? O que, na recepção do Concílio, foi bom, o que foi insuficiente ou errado? O que ainda deve ser feito? Ninguém pode negar que, em vastas partes da Igreja, a recepção do Concílio teve lugar de modo bastante difícil, mesmo que não se deseje aplicar àquilo que aconteceu nestes anos a descrição que o grande Doutor da Igreja, São Basílio, faz da situação da Igreja depois do Concílio de Niceia: ele compara-a com uma batalha naval na escuridão da tempestade, dizendo entre outras 92 coisas: "O grito rouco daqueles que, pela discórdia, se levantam uns contra os outros, os palavreados incompreensíveis e o ruído confuso dos clamores ininterruptos já encheram quase toda a Igreja falsificando, por excesso ou por defeito, a reta doutrina da fé..." (De Spiritu Sancto, XXX, 77; PG 32, 213 A; Sch 17 bis, pág. 524). Não queremos aplicar exatamente esta descrição dramática à situação do pós-Concílio, todavia alguma coisa do que aconteceu se reflete nele. Surge a pergunta: por que a recepção do Concílio, em grandes partes da Igreja, até agora teve lugar de modo tão difícil? Pois bem, tudo depende da justa interpretação do Concílio ou como diríamos hoje da sua correta hermenêutica, da justa chave de leitura e de aplicação. Os problemas da recepção derivaram do fato de que duas hermenêuticas contrárias se embateram e disputaram entre si. Uma causou confusão, a outra, silenciosamente mas de modo cada vez mais visível, produziu e produz frutos. Por um lado, existe uma interpretação que gostaria de definir "hermenêutica da descontinuidade e da ruptura"; não raro, ela pôde valer-se da simpatia dos mass media e também de uma parte da teologia moderna. Por outro lado, há a "hermenêutica da reforma", da renovação na continuidade do único sujeito-Igreja, que o Senhor nos concedeu; é um sujeito que cresce no tempo e se desenvolve, permanecendo porém sempre o mesmo, único sujeito do Povo de Deus a caminho. A hermenêutica da descontinuidade corre o risco de terminar numa ruptura entre a Igreja pré-conciliar e a Igreja pós-conciliar. Ela afirma que os textos do Concílio como tais ainda não seriam a verdadeira expressão do espírito do Concílio (Bento XVI, 22 dez. 2005).

 

A condenação papal não foi sobre o Vaticano II em si, mas sobre uma visão de ruptura que este teria provocado em relação à história da Igreja. A partir dele, um processo gradual se arrastaria em seu pontificado e levaria à questão litúrgica, tão cara à Ratzinger, como já foi citado anteriormente.

Nesse aspecto, o pontificado de Bento XVI (2005-2013) visou costurar uma linha histórica que parecia ter sido rompida com o Vaticano II. Ratzinger participara do Concílio e, como papa, procurou criar uma Hermenêutica da Continuidade, uma interpretação do Vaticano II que o colocaria como uma continuidade com o período precedente e não como uma ruptura.

Frente a isso, Bento XVI favoreceu certos agrupamentos conservadores, inclusive alguns em situação irregular, como é o caso da Fraternidade Sacerdotal São Pio X. Os efeitos foram os mais diversos e os grupos progressistas começaram a demonstrar descontentamento. Mesmo assim, Bento XVI, paulatinamente, foi tecendo aquilo que considerava necessário para uma legítima interpretação do Concílio, de modo particular, em sua liturgia. Pois esta, ligada à fé, determinaria qualquer outra interpretação sobre os demais documentos emitidos pelo Concílio, desde aqueles que visam determinar o papel da Igreja no mundo até aqueles que tratam das relações ecumênicas.

Aos 13 de março de 2007 foi publicada a exortação apostólica pós-sinodal Sacramentum Caritatis, por meio da qual o pontífice recomendou o uso do latim e do canto gregoriano na liturgia:

 

[42] [...] em liturgia, não podemos dizer que tanto vale um cântico como outro; a propósito, é necessário evitar a improvisação genérica ou a introdução de gêneros musicais que não respeitem o sentido da liturgia. Enquanto elemento litúrgico, o canto deve integrar-se na forma própria da celebração; consequentemente, tudo – no texto, na melodia, na execução – deve corresponder ao sentido do mistério celebrado, às várias partes do rito e aos diferentes tempos litúrgicos. Enfim, embora tendo em conta as distintas orientações e as diferentes e amplamente louváveis tradições, desejo – como foi pedido pelos padres sinodais – que se valorize adequadamente o canto gregoriano, como canto próprio da liturgia romana. (SC, n.41). [62] [...] A fim de exprimir melhor a unidade e a universalidade da Igreja, quero recomendar o que foi sugerido pelo Sínodo dos Bispos, em sintonia com as diretrizes do Concílio Vaticano II: excetuando as leituras, a homilia e a oração dos fiéis, é bom que tais celebrações sejam em língua latina [...] (Bento XVI, 2007).

 

Gradualmente, como um professor que tem um longo curso pela frente, Bento XVI foi relembrando por meio de suas ações litúrgicas, homilias, Angelus e discursos, aquela identidade católica que parecia sufocada por diversas inovações. Seus paramentos litúrgicos eram aqueles usados por papas do passado, seu altar, mesmo com a missa voltada para o povo, tinha ao centro a cruz; as procissões e gestos enfatizavam a doutrina da transubstanciação. Quando celebrava na Capela Sistina, usava o altar original, portanto, uma missa versus Deum, sempre enriquecida pelo latim e o canto gregoriano.

A comunhão era distribuída na boca, sob um genuflexório para aqueles que comungavam com o papa. O Salve Regina ou as curtas antífonas marianas eram entoadas ao final de cada missa. Aos poucos, sua hermenêutica da continuidade ia sendo instalada no imaginário do católico e, principalmente, do clero.

No ano de 2009, a Igreja viveu o um ano sacerdotal. A figura escolhida de modelo para o sacerdote do pós-Vaticano II não foi nenhum padre cantor ou algum revolucionário latino-americano, mas São João Maria Vianney (1786-1859), no 150º aniversário de sua morte. O já conclamado patrono dos padres diocesanos, tornava-se referencial para os sacerdotes de hoje, O cura d’ars vivenciara os ares revolucionários vindos da França e mantivera sua ação calcada nos sacramentos e nas verdades de fé católicas:

 

[...] Na França, no tempo do Santo Cura d’Ars, a confissão não era mais fácil nem mais frequente do que nos nossos dias, pois a tormenta revolucionária tinha longamente sufocado a prática religiosa. Mas ele procurou de todos os modos, com a pregação e o conselho persuasivo, fazer os seus paroquianos redescobrirem o significado e a beleza da Penitência sacramental, apresentando-a como uma exigência íntima da Presença eucarística. Pôde assim dar início a um círculo virtuoso. Com as longas permanências na igreja junto do sacrário, fez com que os fiéis começassem a imitá-lo, indo até lá visitar Jesus, e ao mesmo tempo estivessem seguros de que lá encontrariam o seu pároco, disponível para os ouvir e perdoar. Em seguida, a multidão crescente dos penitentes, provenientes de toda a França, haveria de o reter no confessionário até 16 horas por dia. Dizia-se então que Ars se tinha tornado «o grande hospital das almas». «A graça que ele obtinha [para a conversão dos pecadores] era tão forte que aquela ia procurá-los sem lhes deixar um momento de trégua!»: diz o primeiro biógrafo. E assim o pensava o Santo Cura d’Ars, quando afirmava: «Não é o pecador que regressa a Deus para Lhe pedir perdão, mas é o próprio Deus que corre atrás do pecador e o faz voltar para Ele». «Este bom Salvador é tão cheio de amor que nos procura por todo o lado» (Bento XVI, 2009).

 

A continuidade de uma espiritualidade ligada ao período de perseguição a que a Igreja passara parece clara; da mesma forma, o referencial de sua história recente ganhara destaque na busca de definição de sua identidade. Um modelo de padre para os tempos hodiernos não é retirado do pós-Vaticano II, mas de um dos períodos mais avassaladores para a história da Igreja, o dos ecos da Revolução Francesa: mortificação, oração e caridade contra os ventos revolucionários que questionavam os ensinamentos da Igreja. Os tempos e os ventos parecem outros, mas a resposta de Bento XVI para eles é a mesma.

Bento XVI dera sequência ao reparo daquilo que considerava uma injustiça (Ratzinger, 1996, p.141). Deu liberdade aos padres para celebrarem a liturgia antiga, retirou as excomunhões da Fraternidade Sacerdotal São Pio X e buscara mais uma vez barrar as ondas liberais que ainda ecoavam da Revolução Francesa e os abalos à fé que vieram no subsequente século XIX.

O professor tentara, gradualmente, ir reeducando o católico no catolicismo, aplicando o que considerava ser a real intenção do Concílio, um aggiornamento, uma atualização, uma renovação, sem perder sua identidade, sua fé. Uma continuidade e não uma ruptura com sua história.

No entanto, Chronos se fez presente, seu Kairós foi interrompido. O peso da idade fez-se sentir. Foi preciso interromper as lições, o velho professor da Baviera pedira aposentadoria. Alegando cansaço físico e espiritual, Bento XVI renunciou em meio a mais uma crise na Igreja, com o vazamento de documentos do Vaticano, escândalos de pedofilia, bem como, corrupção no Istituto per le Opere di Religione (IOR), que funciona como um banco do Vaticano.

De forma inédita, adotou o título de papa emérito, não retornando ao papel de cardeal. Um novo Conclave foi então realizado e como sucessor de Bento XVI foi eleito o cardeal argentino, Bergoglio, que assumira o nome de Francisco que, por sua vez, pouco após a fumaça branca tomar os céus da Praça de São Pedro, saiu para abençoar os féis diante da Basílica de São Pedro, mas, antes de o fazer, pediu ao povo sua benção (um gesto elogiado por muitos, mas que soa semelhante ao velho populismo peronista argentino). Seu estilo imediatamente contrastara com o do antecessor; aparentemente, surgira já ali uma mudança de curso e discurso para a Igreja Católica.

Foram retomadas notícias sobre informações vazadas do Conclave de 2005, que elegera Ratzinger e fizera Bergoglio o candidato de oposição, ficando este em segundo lugar. Agora, com a saída de Bento XVI, Bergoglio se tornara o papa. Estes dados, por segredo pontifício, deveriam ser sigilosos; portanto, não são oficiais, mas é notória uma discrepância e possíveis interesses no vazamento de tais informações.

De qualquer forma, nos idos dos sessenta anos do Vaticano II, um de seus filhos, Ratzinger, quando papa, tentou dar um sentido de continuidade histórica, barrando aquelas ondas que assolam a barca de Pedro desde as repercussões anticlericais do Iluminismo.

 

O PAPA BERGOGLIO

Não cabe aqui analisar a sequência dos atos que se seguiram a essa última ação de Bento XVI como papa, mas é notório que mal a Sedia de Pedro esfriara, com Bento XVI ainda vivo, isolado dentro dos Muros Leoninos, toda a sua atuação foi sendo desmontada. Não só aquela fumaça penetrara na Igreja, mas, agora, também aquelas turvas águas se fizeram presentes.

A atuação de Francisco (2013-2025) trouxe consigo contornos de antagonismo ao pontificado de Bento XVI, como se verá nas linhas que se seguem. Suas determinações e modus operandi produziram uma aglutinação dos setores eclesiais, o progressista e o conservador, em torno de Francisco e Bento XVI.

Ratzinger foi identificado com a tradição católica, fato expresso, de modo singular, em seu estilo sóbrio nas celebrações litúrgicas e homílias de forte embasamento teológico. Bergoglio, por sua vez, fez uso de uma linguagem mais popular e buscou transparecer uma imagem de um bispo simples em meio à Cúria Vaticana.

Para a Missa de inauguração de seu Pontificado, enviou mensagem aos fiéis de seu país natal solicitando-lhes que não fossem a Roma, mas fizessem um gesto de caridade ao invés de gastar dinheiro com passagem (Télam, 2020). Claro que este desejo foi tornado público, junto ao uso de batina velha, com mangas esfarrapadas, ou a decisão de permanecer morando na Casa Santa Marta e não no Palácio Apostólico, ou ainda, o fato de querer um anel de pescador feito de prata e não de ouro como de praxe.

Em 2014 foi realizado um Consistório sobre a família. Nele, por ação do cardeal Kasper, sob tutela de Francisco, indicou-se caminhos para readmitir à comunhão os divorciados recasados, o que alteraria a tradição e doutrina acerca deste sacramento (IHU, 2020) e colocaria Francisco em clara oposição a Bento XVI e João Paulo II (1978-2005). Desde então, ficou evidente que mais uma vez a Roda da Fortuna girou na Igreja, enquanto um setor cai o outro ascende. No caso, os conservadores começaram a perder terreno enquanto a ala progressista começara a ganhar espaço.

Os primeiros passos de Francisco na direção de uma heterodoxia e favorecimento da ala progressista da Igreja fez com houvesse questionamentos sobre a validade da renúncia de Bento XVI e, consequentemente, sobre a eleição do papa argentino. Bento XVI, de sua reclusão autoimposta, pronunciou-se afirmando não haver nenhuma dúvida da validade de sua renúncia do ministério petrino (Reuters, 2014), mas ao longo dos anos, os setores descontentes com a administração de Francisco só cresceriam e fariam questionar esses elementos.

Francisco em gestos e decisões mostrara-se alinhado às pautas progressistas, ao mesmo tempo em que se voltara contra os chamados conservadores e a Cúria Romana.

 

Assim, têm-se notícias de sacerdotes julgados muito conservadores por suas próprias ordens, aos quais não se permitiu professarem aqueles votos particulares, típicos da própria ordem; promoções – e regressões – nos dicastérios da Cúria, julgados com base no “progressismo” ou “conservadorismo” dos interessados; até de possíveis decisões em níveis muito mais altos, relativos à mudança de cardeais julgados “conservadores” para dioceses de nível médio, ao contrário de ad majora.

Uma das últimas notícias veio de Nova York, onde um sacerdote sul-africano, ligado à representação da Santa Sé junto à Nações Unidas, apaixonado pela Missa segundo o Rito antigo (a Missa na forma extraordinária), pronunciou um sermão no qual sublinhava a necessidade de haver sacerdotes que tivessem amor e sensibilidade pelo Rito antigo. A homilia apareceu na internet. Depois que o sacerdote desdisse todo o seu esforço por celebrar a missa, parece que voltará logo para a África do Sul. (Tosatti, M. 2014).

 

Ordens ligadas à Forma Extraordinária do Rito Romano sofreram constantes intervenções, como é o caso dos Franciscanos da Imaculada. Bispos, também de perfil conservador, foram afastados e destituídos de seus cargos. Um caso singular foi o de Mons. Rogelio Livieres Plano, de origem argentina, mas até então bispo de Ciudad del Este, no Paraguai. O Seminário de Livieres atraía jovens de várias partes da América Latina devido ao seu perfil alinhado à hermenêutica da continuidade de Bento XVI. O então cardeal Bergoglio já demonstrara descontentamento com esse fluxo de seminaristas para lá. Eleito papa, Bergoglio não hesitou em destituí-lo de suas funções. (Montfort, 2014).

Na mesma linha ratzingeriana de Livieres, o cardeal Raymond Leo Burke também despertou a atenção de Francisco e recebeu do papa uma série de ações: de prefeito do Tribunal Supremo da Assinatura Apostólica, foi degradado ao rol puramente honorífico de patrono de uma ordem de cavalaria, a Ordem de Malta, que, por sua vez, passou a receber ingerências diretas da Santa Sé. (Magister, S. 2014).

Após a Queda do Muro de Berlim em 1989, e o fim da URSS em 1991, as alas políticas ligadas ao pensamento de esquerda redefiniram a relação dialética oprimido-opressor (proletariado-burguesia) para uma pauta ecológica; a Terra/Mãe Natureza/Casa Comum ganhou contornos de vítima. Esse dado é sentido também nos expoentes da Teologia da Libertação, como é caso de Leonardo Boff, que igualmente seguiu nessa linha discursiva (BOFF, 2020).

Francisco embarcou nessa onda e publicou uma encíclica chamada Laudato Si’ sobre o tema (FRANCISCO, 2015), na qual os elementos da fé católica foram relegados a segundo plano frente às preocupações com a poluição e mudanças climáticas. Um olhar mais acurado poderia destacar nuanças de um panteísmo cosmológico nas entrelinhas do documento ao sugerir constantemente a conexão de toda a criação nos moldes opostos à dissociação do homem em relação a sua casa comum ou da natureza. Destruir a natureza ganhou graus de equivalência à destruição do homem, portanto, mais um pecado para o fiel católico se abster, um pecado ecológico. Defendendo uma ecologia integral, Francisco abarcou todos os temas da agenda socioambiental progressista.

Em termos doutrinais e morais, seguindo o que havia sido iniciado em 2014, no Consistório de fevereiro, com o cardeal Kasper, realizou-se um Sínodo sobre a família entre 2014 e 2015, o que levou à publicação da Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris laetitia (FRANCISCO, 2016), aos oito de abril de 2016. O papa Bergoglio pronunciou-se oficialmente sobre problemas de moral conjugal, em discussão há dois anos, de modo particular abrindo, mesmo que não declaradamente, a possibilidade para a comunhão para os divorciados recasados. O critério do acesso à comunhão foi deixado ao “discernimento pessoal” do indivíduo, feito através do “diálogo com o sacerdote, no foro interno” (AL §300).

Intelectuais católicos escreveram ao papa solicitando esclarecimento sobre aspectos heterodoxos da Amoris Laetitia, mas foram ignorados. Quatro cardeais (Walter Brandmüller, Joachim Meisner, Carlo Cafarra e Raymond Burke.), então, aos dezenove de setembro de 2016, escreveram ao papa Francisco uma carta na qual pediam que esclarecesse cinco pontos desta exortação apostólica. Foram solenemente ignorados. Em novembro do mesmo ano a missiva foi divulgada pelo vaticanista italiano Sandro Magister (Magister, 2016).

Os purpurados assinalaram que a carta “nasce de uma profunda preocupação pastoral” frente ao encontro de “um grave desconcerto em muitos fiéis e uma grande confusão a respeito de questões muito importantes para a vida da Igreja”. Agiram, portanto, norteados pelo direito canônico e em conformidade com a missão cardinalícia de colaborar com o ministério petrino. Por isso, dirigiram os dubia (do latim, dúvidas), questões formais, ao papa e à Congregação para a Doutrina da Fé, pedindo uma clarificação acerca de temas particulares relativos à doutrina ou a sua prática.

Foi a primeira vez que se levantaram vozes fortes contra Francisco, contra o que fora chamado de confusão doutrinal presente em um documento papal, mas não apenas nele. Ao final de 2016, Francisco havia se encontrado com Luteranos para comemorar os Quinhentos anos do Cisma Protestante de 1517, o Vaticano chegou emitir selo com a figura de Lutero e o papa, ao receber uma delegação de luteranos na sala Paulo VI, deixou-se fotografar ao lado de uma imagem daquele que deu início ao protestantismo (Rádio Vaticana, 2016).

Os quinhentos anos do Cisma Luterano ganharam mais atenção do papa que o centenário dos eventos de Fátima (1917), tão caro para os católicos de todo o mundo. O ano de 2017 começou deixando claro o antagonismo do papa Francisco não apenas em relação a seu predecessor, mas também em relação a uma grande parcela da Igreja que governara. No início de fevereiro, apareceram vários cartazes afixados pelas ruas de Roma com um recado ao papa Francisco: “Você comissariou congregações, removeu sacerdotes, decapitou a Ordem de Malta e os Franciscanos da Imaculada, ignorou Cardeais… mas cadê a tua misericórdia?” (G1, 2017). A citação à misericórdia é a ironia do cartaz, já que o papa havia proposto um Ano da Misericórdia e tentou cunhar sua imagem em torno desse carisma.

O papa Bergóglio chegou a receber uma Correção Filial, algo que não era visto na história da Igreja desde João XXII, em 1333, quando os fiéis católicos corrigiram o seu Sumo Pontífice que ensinara opiniões heréticas. O documento afirmara que o papa, por meio da Exortação Apostólica Amoris laetitia e por outros atos magisteriais, havia declarado sete proposições heréticas acerca do casamento, da vida moral e da recepção dos sacramentos, facilitando a propagação de heresias na Igreja Católica (Correctio Filialis, 2017).

O silêncio de Francisco a todos os levantes contra ele foi algo que marcou 2017 e foi quebrando apenas quando ele anunciou um novo Sínodo, desta vez, para a Pan-Amazônia, a se realizar no ano de 2019. Não respondeu aos dubia ou à correção filial, mas criou um novo foco para seu Pontificado, desta vez marcado pelo questionamento ao celibato sacerdotal: uma possível experiência de Viri probati, homens provados na fé, algo que já existe para o primeiro grau da ordem (o diaconato) desde o Vaticano II, poderia ser estendido para padres em situações particulares, como é caso da região amazônica.

Enquanto isso, o número de fiéis a visitar o Vaticano e ver o seu papa entrara em declínio, o que evidenciava que Francisco falava cada vez mais para um número reduzido de pessoas, geralmente, os que lhe são próximos e de semelhante progressismo. João Paulo II teve um comparecimento médio de 32 mil pessoas e Bento XVI de 33 mil. De janeiro de 2015 a dezembro de 2017, Francisco alcançou apenas 9.041 (En News, 2018).

A visita que realizou ao Chile e ao Peru ficou marcada pela baixa assistência às cerimônias presididas pelo Pontífice e pela polêmica envolvendo suas declarações acerca do caso do bispo Juan de la Cruz Barros Madrid. Francisco, em intervenção considerada extremamente rude, chamou de calúnias as acusações de que o bispo teria participado de atos abusivos, o que causou enorme repercussão, levando o Cardeal Sean O’Malley, responsável pela Pontifícia Comissão para Tutela de Menores, afirmar que o papa “causou muito sofrimento às vítimas” (IHU, 2018).

Já em 2018, o Pontificado de Francisco sofreu outro grande abalo, que foi respondido, mais uma vez, com o silêncio. Conhecido como o Caso Viganò, uma série de declarações do antigo núncio apostólico nos Estados Unidos, o Arcebispo Carlo Maria Viganò, que teve por cume o pedido para que o papa Bergoglio renunciasse (VIGANÒ, 2018). Entre as declarações do ex-núncio, está a denúncia de que Bento XVI tentou punir o ex-Cardeal McCarrick (arcebispo emérito de Washington envolvido em casos de abusos sexuais nos EUA), mas o papa Francisco e o Cardeal Wuerl, embora cientes das sanções e razões, promoveram-no e honraram-no.

O Papado de Francisco a cada dia demonstrava sinais de desgaste, o Sínodo da Amazônia parece ter sido o ponto nefrálgico para constituição de um processo de organização para um próximo Conclave, os setores da Igreja apresentam-se claramente divididos frente ao que foi ali realizado. Polêmicas em torno de uma imagem da deusa latino-americana Pachamama, os avanços nas discussões sobre o celibato clerical e a renovação do Pacto das Catacumbas, conduziram a respostas cada vez mais graves por parte da ala conservadora e o Vaticano pareceu ter ficado pequeno demais para dois papas.

A Pachamama, estátua de madeira que representa uma mulher grávida e simboliza a mãe terra dos povos andinos foi usada, no dia 4 de outubro de 2019, em ritual indígena que contou com a presença do papa Francisco, em meio aos trabalhos do Sínodo. Posteriormente, imagens da divindade pagã foram colocadas dentro de Igrejas em Roma. Fiéis católicos, sentindo-se incomodados pelo desrespeito ao primeiro mandamento, adentram à Igreja, pegaram as imagens e as lançaram no Tibre. As imagens foram recuperadas e o papa Francisco chegou a falar em apresentá-las na Basílica de São Pedro no encerramento do Sínodo, mas deve ter sido aconselhado a não o fazer, pois elas não apareceram por lá (Acidigital, 2019).

Para além da tendência panteísta do Instrumentum Laboris do Sínodo, da exaltação, de vertente rousseuniana, do indígena como bom selavagem (IL n.75), o questionamento do celibato clerical por meio da proposta dos viri probati foi o que deu o norte midiático sobre este encontro de bispos da região Pan-Amazônica (IL n. 43).

A proposta de um clero não celibatário foi acompanhada do destaque dado à ala progressista da Igreja com os signatários da Teologia da Libertação. Dom Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo, usando a estola que pertencera à Dom Helder Câmara, presidiu a renovação, nas Catacumbas de Domitila, do gesto feito ainda durante o Vaticano II, por um determinado número de clérigos sob a liderança de Dom Helder (A12, 2019). Desta vez, não foi apenas em nome de uma opção para com os pobres, mas em nome da casa comum, o que corrobora o fenômeno comum aos grupos de esquerda após a Queda do Muro de Berlim, como fora mencionado anteriormente.

Eis a questão, o papa emérito Bento XVI quebrara o silêncio. Duas vozes dissonantes, a do papa reinante e daquele que abdicou do ministério petrino e se propôs à reclusão, mas que era constantemente chamado a se manifestar. É de fato uma situação ímpar na história da Igreja e que tende a minar a autoridade do Papado independente de quem lá esteja ocupando a Cátedra de Pedro.

Anteriormente ao Sínodo, Bento XVI lançou um breve escrito com o título A Igreja e o escândalo do abuso sexual (APA, 2019), no qual apontou os seguintes pontos para essa situação: a revolução sexual e o relativismo moral que penetraram na formação dos candidatos ao sacerdócio, sob o ativismo de grupos homossexuais no clero. Esses elementos nunca foram tratados por Francisco, que preferia sempre culpar um suposto clericalismo por esses atos.

Na questão do celibato clerical e dos viri probati, o lançamento do livro do cardeal Oullet, Amigos do Esposo: por uma visão renovada do celibato sacerdotal, foi uma resposta ao desejo dos padres sinodais em questionar a tradição da Igreja Ocidental. E, logo após o Sínodo, o lançamento do livro do Cardeal Sarah, Do fundo de nossos corações [em tradução livre], veio demonstrar bem a crise do Papado, com seus dois papas, o reinante e o emérito. Ambos os livros são defesas do celibato clerical, mas o do cardeal Sarah veio acompanhado da polêmica coautoria de Bento XVI.

O cardeal Sarah chegou a mostrar as cartas trocadas com Bento XVI e os textos escritos pelo papa emérito, pois o secretário pessoal do papa Ratzinger, mons. Gänswein, veio a público explicar que houve uma solicitação para que o cardeal retirasse a coautoria, mas mantivesse os textos, que tudo não teria passado de um mal entendido por parte do cardeal. (Aciprensa, 2020). O que teria feito Bento XVI recuar? Esta pergunta permanecerá aberta, mas o conflito interno na Igreja é evidente.

Deste imbróglio, que teve início com a publicação do livro do cardeal Sarah e que culminou na apresentação da exortação pós-sinodal, ao menos uma vítima pôde ser vista, ou melhor, desaparecida. Mons. Georg Gänswein, o arcebispo entre dois papas, o secretário pessoal de Bento XVI e prefeito da Casa Pontifícia, foi afastado da presença de Francisco. Oficialmente, ganhou uma licença indefinida para se dedicar mais à Bento XVI e desde o fim de janeiro já não era mais visto nas audiências públicas de Francisco (Die Tagespost, 2020).

Quanto à questão litúrgica, houve um verdadeiro desmonte das ações de Bento XVI. O Pontificado do papa Francisco caracterizou-se por uma série de medidas normativas e disciplinares que resultaram em significativas restrições à celebração da Missa Tridentina. A promulgação do motu proprio Traditionis custodes, em 16 de julho de 2021, pode ser considerado o marco decisivo. Por meio dele, Francisco revogou as disposições do Summorum Pontificum, de Bento XVI (2007), que apresentava o rito romano em duas formas.

Francisco, por meio do novo documento, restringiu severamente o uso do Missal de 1962, declarando que a única expressão da lex orandi do rito romano passa a ser o Missal promulgado por Paulo VI e revisto por João Paulo II (Francisco, 2021a). A celebração da liturgia tridentina, portanto, fica condicionada à autorização do bispo diocesano, que deve consultar previamente a Santa Sé e garantir que tais celebrações não ocorram em igrejas paroquiais nem deem origem a novos grupos ligados a essa forma litúrgica (Catholic News Agency, 2021).

Acompanhando esse motu proprio, Francisco publicou uma carta aos bispos, na qual afirma que a ampliação do uso da forma extraordinária, nos termos de Summorum Pontificum, contribuiu para acentuar divisões internas, fomentar oposições ao Concílio Vaticano II e criar tensões eclesiais (FRANCISCO, 2021b). O papa observava ainda que a liturgia tradicional vem sendo instrumentalizada por setores que rejeitam o magistério conciliar e dificultam a comunhão eclesial. Nesse contexto, as novas restrições são justificadas como meio de preservar a unidade da Igreja e de reafirmar a autoridade do concílio e da reforma litúrgica por ele impulsionada. Esse ponto é de suma importância, pois recentemente, já sob o pontificado de Leão, vieram a público documentos que desmentem esta justificativa, conforme documento vazado, divulgado pela vaticanista Diane Montagna (Montagna, 2025), a maioria dos bispos que responderam a um questionário, enviado pela Santa Sé, declarou que fazer mudanças legislativas no Summorum Pontificum causaria mais mal do que bem.

Francisco, desconsiderando os pontos positivos apontados pelos questionários, implementou uma ação litúrgica de centralização e uniformização, fato reforçado por meio de outro documento: o Desiderio desideravi, por meio do qual o papa Bergóglio insistiu em uma leitura da reforma litúrgica pós-conciliar que tende à ruptura com a tradição bimilenar da Igreja. O papa reafirmou que não há retorno ao passado e que o Missal de 1962 não pode ser considerado um caminho legítimo para a vida litúrgica da Igreja atual (Francisco, 2022).

Além dos documentos doutrinais e disciplinares, ações institucionais reforçaram essa reorientação. Em janeiro de 2019, foi extinta a Pontifícia Comissão Ecclesia Dei, órgão criado por João Paulo II em 1988 para facilitar a reconciliação com os grupos tradicionalistas. Suas competências foram absorvidas pela Congregação para a Doutrina da Fé (CDF), reduzindo o espaço institucional dedicado ao diálogo com os fiéis ligados à Missa Tridentina (Mickens, 2019).

A política de restrição foi reafirmada com o rescrito de 21 de fevereiro de 2023, que determinou que todas as autorizações futuras para a celebração da liturgia tridentina, inclusive para padres ordenados após a promulgação do Traditionis custodes, deverão receber aprovação direta da Sé Apostólica, por meio do Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos (AP News, 2023). Essa medida consolidou a centralização das decisões litúrgicas no Vaticano, enfraquecendo a autonomia dos bispos diocesanos.

Essas ações refletem uma inflexão importante na expressão litúrgica da Igreja, revertendo a liberdade implementada por Bento XVI e consolidando uma posição afrontosa em relação ao movimento tradicionalista. Expressa ainda um fato corriqueiro no pontificado de Francisco, o fato de governar por meio de motu próprio: em seu Pontificado, de pouco mais de 12 anos, foram mais de 90, como se pode constatar em consulta ao site do Vaticano, contrastando com Bento XVI, que emitiu 13 em seus 8 anos à frente da Igreja, e João Paulo II que emitiu apenas 29 em seus mais de 26 anos de pontificado.

As ações de Francisco só aumentaram a tensão entre essas comunidades e a Santa Sé, fato que permanece como um desafio pastoral e teológico não resolvido, evidenciando os limites da atual política de centralização litúrgica.

Some-se a isso ainda o fato de, no crepúsculo de seu Pontificado, Francisco nomear o arcebispo Víctor Manuel Fernández para liderar o Dicastério para a Doutrina da Fé. Em dezembro 2023, o Dicastério, sob a liderança de Fernández, publicou a declaração Fiducia Supplicans: sobre o sentido pastoral das bênçãos, que autorizou a possibilidade de padres conferirem bênçãos a casais em situação irregular, inclusive pares do mesmo sexo, desde que não sejam confundidas com reconhecimento matrimonial. O documento esclarece que tais bênçãos não devem fazer parte de ritos litúrgicos nem assumir formações que equiparem tais uniões ao matrimônio cristão (Catholic News Agency, 2023).

A repercussão mais contundente contra o Fiducia Supplicans veio de diversas conferências episcopais africanas. Os bispos de países como Nigéria, Zâmbia, Malawi, República Democrática do Congo e outros anunciaram que não aplicariam o documento em suas jurisdições. Em carta coletiva, bispos africanos afirmaram que o conteúdo do documento é incompreensível para a maioria dos fiéis e incompatível com a cultura africana, que considera as uniões homossexuais como inaceitáveis. (African Synodality, 2024). Mais um problema a ser resolvido pelo novo papa eleito, Leão XIV.

 

CONCLUSÃO: Leão XIV, uma incógnita.

 Esse cenário, de confronto entre setores diversos presentes no seio da Igreja, de modo particular entre as alas conservadora e progressista, parece ter sido a tônica do Conclave que elegeria Prevost. O Pontificado de Francisco acirrara os ânimos e seria necessário alguém de consenso que conseguisse acalmar a barca de Pedro

Ao encerrar as escritas dessas linhas, o papa recém-eleito encontra-se no seu terceiro mês de Pontificado, acabara de voltar de suas férias de verão em Castel Gandolfo, o que expressa a retomada de uma tradição descontinuada por Francisco, que havia abandonado esse costume.

Nesses três meses, muitos discursos foram feitos pelo papa que sempre retoma algo dito por Francisco, mas lhe dá novos contornos. Suas formas litúrgicas já não lembram tanto Francisco, nem Bento XVI, mas ecoam muito de João Paulo II.

Ainda é muito cedo para entendermos a real persona de Leão. A memória de Francisco ainda é forte, os conflitos entre os setores eclesiais apareceram em meio às reuniões de cardeais que antecederam o Conclave que o elegeu. Ao que tudo indica, um papa de consenso, um papa de compromisso entre os grupos, alguém que pudesse manter uma imagem de unidade em uma Igreja em crise identitária, foi a escolha do Colégio de cardeais. Fato que casa bem com seu lema: “In Illo uno unum”, lema esse que reflete a doutrina agostiniana da unidade em Cristo, onde, apesar de haver muitos membros, a Igreja é uma só em Cristo. Caberá ao novo papa, matemático, saber somar as diferenças e resolver a equação espelhada no Vaticano II e suas interpretações feitas nos últimos sessenta anos.

 

REFERÊNCIAS

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