Leão XIV: um papa de consenso na
esteira dos 60 anos do Vaticano II
Juliano Alves Dias[1]
Resumo:
A
eleição de Leão XIV urge refletir sobre a situação da Igreja no último século,
de modo particular após a implementação do Concílio Ecumênico Vaticano II. Para
alguns setores da Igreja, que enxergam o Vaticano II como uma ruptura com o
passado bimilenar da Igreja, certas questões já deveriam estar superadas. Mas
este Conclave trouxe à baila problemas não resolvidos e ecoou a crise
identitária da Igreja. Nesse sentido, o presente artigo, por meio de análise de
fontes primárias que vão desde documentos pontifícios até notícias de jornais,
visa apresentar os conflitos de interesse em volta dos dois predecessores de
Leão, Bento XVI e Francisco, para então apontar os desafios que cabem ao chefe
da Igreja Católica, cujas as decisões refletem em milhares de pessoas no mundo
que professam o Catolicismo.
Palavras-chave: Papado, Vaticano II, Igreja
Católica
Abstract:
The
election of Leo XIV calls for reflection on the situation of the Church in the
last century, particularly after the implementation of the Second Vatican
Ecumenical Council. For some sectors of the Church that see Vatican II as a
break with the Church's two-thousand-year past, certain issues should have
already been overcome. However, this Conclave brought to the fore unresolved
problems and echoed the Church's identity crisis. In this sense, this article,
through an analysis of primary sources ranging from pontifical documents to
newspaper reports, aims to present the conflicts of interest surrounding Leo's
two predecessors, Benedict XVI and Francis, and then point out the challenges
facing the head of the Catholic Church, whose decisions reflect on thousands of
people around the world who profess Catholicism.
Keywords: Papacy, Vatican II, Catholic
Church
[1] Doutor em História pela Unesp-Franca e docente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo - campus Barretos-SP.
A eleição de Robert Francis
Prevost, O.S.A. aos 08 de maio de 2025 fez despertar novo interesse sobre a
instituição eclesiásticas e o seu novo líder recém-eleito. Leão XIV
representaria qual setor no vasto campo eclesiológico, seria ele um conservador
ou um progressista, estaria alinhando ao pensamento e ações do último papa,
Francisco?
As questões foram colocadas antes,
durante e após o Conclave que o elegeu. Uma Igreja dividida em setores, em
crise de identidade frente ao mundo moderno vê um papa eleito ao final do
quarto escrutínio feito pelo colégio cardinalício. Ao sair na Loggia das
Bênçãos da Basílica de São Pedro, seus paramentos logo chamaram a atenção,
lembravam mais Bento XVI que Francisco. O que representavam aqueles símbolos,
quais seus posicionamentos? Todas estas questões estão em aberto no início
deste pontificado.
Para lançar algumas luzes sobre
esta temática, sobre a divisão interna no seio da Igreja, e a consequente
eleição de Prevost, é salutar uma recapitulação histórica. Comecemos por
contextualizar a escolha de seu nome, Leão XIV, uma referência, segundo o
próprio, à Leão XIII e sua resposta à questão social, por meio da Rerum
Novarum.
[...] pensei em
adotar o nome de Leão XIV. Na verdade, são várias as razões, mas a principal é
porque o Papa Leão XIII, com a histórica Encíclica Rerum novarum,
abordou a questão social no contexto da primeira grande revolução industrial;
e, hoje, a Igreja oferece a todos a riqueza de sua doutrina social para
responder a outra revolução industrial e aos desenvolvimentos da inteligência
artificial, que trazem novos desafios para a defesa da dignidade humana, da
justiça e do trabalho. (Leão XIV, Audiência aos membros do colégio
cardinalício, 10 mai 25).
O
SÉCULO XIX
Em meio à II Revolução Industrial,
Revoluções de 1930, Primavera dos Povos e o Manifesto Comunista (1948), as
ondas se agitaram não só contra a barca de Pedro, mas para todos os segmentos
cristãos ocidentais. No campo das ciências, a biologia ganhava notoriedade com
Darwin (1809-1882) ao retirar do homem o seu status de ser criado por
uma divindade e colocá-lo junto às demais espécies em um processo evolutivo
marcado por adaptações ao longo dos séculos em seu livro A Origem das
Espécies (1859).
No campo arqueológico, as
escavações feitas na Síria-Palestina mostravam que os textos sagrados do
cristianismo não condiziam com os dados levantados. A cada camada escavada,
muitas vezes patrocinadas pelo mundo protestante, novas decepções surgiam. Abraão
e os Patriarcas pareciam mitos distantes que se somariam à problemática
biológica acerca da espécie humana.
Se não existiu um Adão, não houve
uma queda; sem queda, sem necessidade de redenção. Logo, a base das teologias
cristãs estavam a ruir. As reações foram diversas. No meio protestante, houve
aqueles que aceitaram negociar, abrindo caminho para uma teologia liberal,
outros ficaram com uma neo-ortodoxia, como Karl Barth (1886-1968) buscando
separar “história” de “História da Salvação” (Berger, 2024, p. 208). Era
preciso considerar os elementos fundamentais da fé cristã e tentar
preservá-los, salvaguardando a religião, no caso protestante, tão dependente da
Bíblia.
O universo do catolicismo, contém
outras armas que foram renegadas pelos protestantes ao longo tempo, entre elas
destaca-se a Tradição: uma força que gerou e interpretou as escrituras,
considerando-as canônicas ou não, poderia simplesmente afirmar a autoridade por
meio da Sucessão Apostólica e daquele que calçava as sandálias do pescador. Do
trono de Pedro, Pio IX (1846-1878) condenaria o mundo moderno por meio de sua
encíclica Quanta Cura e seu Syllabus de erros (1864) e em um
Concílio inacabado, o Vaticano I (1869-1970), devido à Unificação Italiana e a
perda dos Estados Pontifícios, afirmaria a infalibilidade papal sob assuntos de
fé e moral. Preservara-se assim, o Catolicismo de qualquer constrangedora
descoberta arqueológica ou crítica textual às Escrituras.
É nesse cenário que se encontra
Leão XIII (1878-1903) e sua Rerum Novarum, o papa condenara as visões
socialistas como solução para o problema social, da mesma forma em que apontara
os erros da exploração capitalista e do liberalismo. Sua solução: a defesa da
propriedade privada e a cooperação entre as classes sociais pautadas na
caridade cristã:
Vede, Veneráveis
Irmãos, por quem e por que meios esta questão tão difícil demanda ser tratada e
resolvida. Tome cada um a tarefa que lhe pertence; e isto sem demora, para que
não suceda que, adiando o remédio, se tome incurável o mal, já de si tão grave.
Façam os
governantes uso da autoridade protetora das leis e das instituições; lembrem-se
os ricos e os patrões dos seus deveres; tratem os operários, cuja sorte está em
jogo, dos seus interesses pelas vias legítimas; e, visto que só a religião,
como dissemos no princípio, é capaz de arrancar o mal pela raiz, lembrem-se
todos de que a primeira coisa a fazer é a restauração dos costumes cristãos,
sem os quais os meios mais eficazes sugeridos pela prudência humana serão pouco
aptos para produzir salutares resultados. Quanto à Igreja, a sua ação jamais
faltará por qualquer modo, e será tanto mais fecunda, quanto mais livremente se
possa desenvolver.
Nós desejamos que
compreendam isto sobretudo aqueles cuja missão é velar pelo bem público.
Empreguem neste ponto os Ministros do Santuário toda a energia da sua alma e
generosidade do seu zelo, e guiados pela vossa autoridade e pelo vosso exemplo,
Veneráveis Irmãos, não se cansem de inculcar a todas as classes da sociedade as
máximas do Evangelho; façamos tudo quanto estiver ao nosso alcance para
salvação dos povos, e, sobretudo, alimentem em si e acendam nos outros, nos
grandes e nos pequenos a caridade, senhora e rainha de todas as virtudes.
Portanto, a salvação desejada deve ser principalmente o fruto duma grande
efusão de caridade, queremos dizer, daquela caridade que compendia em si todo o
Evangelho, e que, sempre pronta a sacrificar-se pelo próximo, é o antídoto mais
seguro contra o orgulho e o egoísmo do século. Desta virtude, descreveu S.
Paulo as feições características com as seguintes palavras: «A caridade é
paciente, é benigna, não cuida do seu interesse; tudo sofre; a tudo se resigna»
(RN, nº 35).
Aqui, encontra-se um ponto
interessante, embora a ênfase da escolha do nome, por Prevost, recaia na
questão social, Leão XIII foi também o papa que declarou as ordenações
anglicanas inválidas, que escreveu a Humanum Genus (1884), reforçando a
condenação à maçonaria e ao naturalismo; bem como, a Aeterni Patris (1879),
retomando o tomismo como filosofia oficial da Igreja, base para formação dos
padres.
O
SÉCULO XX
No entanto, as ideias, então
chamadas de liberais, também penetrariam em teologias católicas. Estas foram
fortemente combatidas, de modo particular, a partir de São Pio X (1903-1914) e
sua Pascendi Dominici Gregis (1907). Por décadas, estes rios de novos
pensamentos foram barrados pelos diques construídos pelo Santo Ofício. Mas
chegara, João XXIII (1958-1963) que desejava novos ares para a Igreja. Seu
sucessor, Paulo VI (1963-1978) percebeu que os diques haviam se rompido, a
janela aberta trouxe ares que o assustou, a ponto de declarar que fumaça de
Satanás entrara na Igreja. Quem explica essa frase de Paulo VI é o cardeal
Virgílio Noé, que foi seu mestre cerimônias, em uma entrevista dada ao site
Petrus, que já não se encontra mais on-line (fenômeno que pode ser
explicado devido à ascensão de Francisco e a perseguição que fez aos chamados
tradicionalistas), mas que foi reproduzido no livro Sacrificium laudis
(Dias, 2011, p.77):
Resta immemorabile
la denuncia di Paolo VI sulla presenza del fumo di Satana nella Chiesa. Ancora
oggi, quel discorso sembra di un’attualità incredibile. Ma, con esattezza, cosa
voleva dire il Papa?
“Voi di ‘Petrus’
avete fatto un bel colpo, perché sono in grado di rivelare, per la prima volta,
cosa intendesse denunciare Paolo VI con quella affermazione. Ecco, Papa Montini
per Satana intendeva classificare tutti quei sacerdoti o vescovi e Cardinali che
non rendevano culto al Signore mal celebrando la Santa Messa a causa di una
errata interpretazione e applicazione del Concilio Vaticano II. Parlò di fumo
di Satana perchè sosteneva che quei preti che della Santa Messa facevano paglia
in nome della creatività, in realtà erano posseduti dalla vanagloria e dalla
supervia del Maligno. Dunque, il fumo di Satana altro non era che la mentalità
che voleva stravolgere i canoni tradizionali e liturgici della cerimonia
Eucaristica”. (DIAS,
p.77)
O cardeal Noé explica, portanto,
que o papa Montini fazia referência a padres ou bispos e cardeais que não
rendem culto ao Senhor, celebrando mal a Santa Missa por causa de uma errônea
interpretação e aplicação do Concílio Vaticano II. A fumaça de Satanás diz
respeito direto a certos prelados que faziam da missa uma espécie de palha seca
em nome da criatividade, fruto da vanglória e do orgulho do Maligno, segundo o
cardeal. Dessa forma, a fumaça de Satanás, a que se referia Paulo VI, está
relacionada a uma mentalidade que distorcia os cânones tradicionais e
litúrgicos da cerimônia Eucarística.
Leão XIV foi eleito na esteira de
comemoração dos sessenta anos do Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965).
Este Concílio desperta os ânimos de diferentes grupos seja na Igreja ou em
meios acadêmicos, ao buscarem desenvolver uma narrativa histórica que legitime
posições tomadas previamente acerca do sentido, do papel e do significado da
religião católica frente a este evento. Os pontificados imediatamente
anteriores à Leão XIV são expressões antagônicas de interpretação deste
Concílio, por isso, dar-se-á ênfase, a seguir, nesses posicionamentos.
De modo geral, o Vaticano II é
instrumento para justificar ações, movimentos e posturas políticas mais
diversas enxertadas no seio da barca de Pedro. Uma questão que nasce deste
cenário, de uma multiforme interpretação do Concílio Vaticano II deve ser buscada,
no mínimo, um século antes deste, naquele cenário do século XIX, quando os
fundamentos da fé cristã foram fortemente abalados.
O que se seguiu dali, seja no meio
protestante, seja no católico, determinou os mais diversos posicionamentos
teológicos que tiveram forte efervescência na Alemanha de Ratzinger, futuro
Bento XVI (2005-2013) que participaria do Concílio como perito (Seewald, 2021,
p. 444) para o cardeal progressista de Colônia, Josef Frings (1887-1978), e,
depois, ganharia fama como teólogo e ascenderia ao episcopado, cardinalato e,
por fim, ao Papado, quando buscaria aplicar sua visão do que foi o Vaticano II.
Este, ao que parece é ponto
fundamental para entender o Pontificado de Bento XVI, como um filho do
Concílio, ele testemunhou a crise que vinha do século XIX, que se alastrara
primeiro em sua Alemanha, por meio protestante e depois por católicos, foi ele membro
do Concílio e viu seus efeitos, ou melhor sua instrumentalização por forças
antes contidas.
O
PAPA RATZINGER
Antes mesmo de se tornar papa, ao
longo de sua ascensão pela hierarquia eclesiástica, Ratzinger dava sinais de
que entendera que o Vaticano II propusera uma coisa, mas sua aplicação não
ocorrera de forma adequada.
A questão litúrgica, para ele,
demonstrara uma associação direta entre oração e fé, presente no adágio latino lex
orandi, lex credenti; ou seja, a forma da oração estaria ligada diretamente
à questão da fé, sendo em sua última instância uma expressão dessa. Esse
elemento parece ter norteado cada grande gesto de seu pontificado.
O primeiro documento que foi gerado
pelo Vaticano II, dizia respeito justamente à liturgia: a Constituição
Conciliar Sacrosanctum Concilium (1963). Já em Introdução ao espírito
da liturgia (2006) Ratzinger chamava a atenção para o fato de que o
documento conciliar não fora respeitado, mas se fabricou uma liturgia nova, já
não voltada para Deus, mas centrada no homem, em um círculo fechado que
relegava a divindade à segundo plano. Observara o cardeal que as instruções do
documento conciliar não forma cumpridas, era preciso corrigir estes fatos.
Em cada paróquia, aplicações e
traduções peculiares do novo rito inaugurado por Paulo VI (1969) davam vasão a
experimentalismos que abriam caminho para a relativização dos dogmas de fé
católico e, consequentemente, sua identidade. Em sua obra Introdução ao
cristianismo, cuja primeira edição data de 1967, Ratzinger alertara para o
perigo da desmitologização, fato que
tinha testemunhado entre os protestantes alemães. No prefácio da edição do ano
2000, o então cardeal falava a respeito do rito novo e seu uso inculturado pela teologia da libertação
(Ratzinger, 2006, p. 22), uma tentativa infrutífera de conciliação entre o
cristianismo e o marxismo, e seu efeito devastador no sentido real da liturgia,
no qual Cristo era destituído de sua divindade, visto apenas como personificação
dos sofredores e oprimidos, o que deu origem a uma nova interpretação que se
configurou “[...] numa nova leitura da
Bíblia (sobretudo do Antigo Testamento) e em uma nova liturgia celebrada como
antecipação simbólica da revolução e como preparação para ela”
(Ratzinger, 2006, p.14).
A Sacrosanctum Concilium
(1963) determinou diversas coisas quanto à liturgia, mas a nova liturgia
gestada no pós-Vaticano II praticamente ignorou este documento, note-se as
ordenações conciliares abaixo:
§ 1. Salvo o
direito particular, seja conservado o uso da língua latina.
§ 2. Dado, porém,
que não raramente, o uso da língua vulgar pode ser muito útil para o povo, seja
na Missa, seja na administração dos sacramentos, seja em outras partes da
Liturgia, dê-se-lhe um lugar mais amplo, especialmente nas leituras e
admoestações, em algumas orações e cânticos, segundo as normas estabelecidas
para cada caso nos capítulos seguintes. (SC, n.36).
Essas determinações não foram
cumpridas, pelo contrário, foram ignoradas. O latim, fora abandonado e com ele
o sentido de unidade, de universalidade, própria do catolicismo que cedeu lugar
a uma verdadeira babel litúrgica. Desde o início de seu pontificado, Bento XVI
declarou que o Concílio foi interpretado como uma ruptura, era preciso,
remendar esta linha de pensamento, aceitar as mudanças sem cair nos rios
caudalosos vindos do século XIX, mas manter uma continuidade com o passado e a
tradição.
Diante dessa problemática, pode-se
entender certos aspectos do Pontificado de Bento XVI que, poucos meses após sua
eleição como papa, proferiu um discurso que marcaria sua postura frente ao
Vaticano II, a de uma Hermenêutica da Continuidade com a tradição
católica. Foi o seu primeiro discurso de final de ano para Cúria Romana, e nele
o papa condenou uma interpretação do Concílio como ruptura:
O último
acontecimento deste ano, sobre o qual gostaria de me deter nesta ocasião, é a
celebração do encerramento do Concílio Vaticano II, há quarenta anos. Tal
memória suscita a interrogação: qual foi o resultado do Concílio? Foi recebido
de modo correto? O que, na recepção do Concílio, foi bom, o que foi
insuficiente ou errado? O que ainda deve ser feito? Ninguém pode negar que, em
vastas partes da Igreja, a recepção do Concílio teve lugar de modo bastante
difícil, mesmo que não se deseje aplicar àquilo que aconteceu nestes anos a
descrição que o grande Doutor da Igreja, São Basílio, faz da situação da Igreja
depois do Concílio de Niceia: ele compara-a com uma batalha naval na escuridão
da tempestade, dizendo entre outras 92 coisas: "O grito rouco daqueles
que, pela discórdia, se levantam uns contra os outros, os palavreados
incompreensíveis e o ruído confuso dos clamores ininterruptos já encheram quase
toda a Igreja falsificando, por excesso ou por defeito, a reta doutrina da
fé..." (De Spiritu Sancto, XXX, 77; PG 32, 213 A; Sch 17 bis, pág. 524).
Não queremos aplicar exatamente esta descrição dramática à situação do
pós-Concílio, todavia alguma coisa do que aconteceu se reflete nele. Surge a
pergunta: por que a recepção do Concílio, em grandes partes da Igreja, até
agora teve lugar de modo tão difícil? Pois bem, tudo depende da justa
interpretação do Concílio ou como diríamos hoje da sua correta hermenêutica, da
justa chave de leitura e de aplicação. Os problemas da recepção derivaram do
fato de que duas hermenêuticas contrárias se embateram e disputaram entre si.
Uma causou confusão, a outra, silenciosamente mas de modo cada vez mais
visível, produziu e produz frutos. Por um lado, existe uma interpretação que
gostaria de definir "hermenêutica da descontinuidade e da ruptura";
não raro, ela pôde valer-se da simpatia dos mass media e também de uma parte da
teologia moderna. Por outro lado, há a "hermenêutica da reforma", da
renovação na continuidade do único sujeito-Igreja, que o Senhor nos concedeu; é
um sujeito que cresce no tempo e se desenvolve, permanecendo porém sempre o
mesmo, único sujeito do Povo de Deus a caminho. A hermenêutica da
descontinuidade corre o risco de terminar numa ruptura entre a Igreja
pré-conciliar e a Igreja pós-conciliar. Ela afirma que os textos do Concílio
como tais ainda não seriam a verdadeira expressão do espírito do Concílio
(Bento XVI, 22 dez. 2005).
A condenação papal não foi sobre o
Vaticano II em si, mas sobre uma visão de ruptura que este teria provocado em
relação à história da Igreja. A partir dele, um processo gradual se arrastaria
em seu pontificado e levaria à questão litúrgica, tão cara à Ratzinger, como já
foi citado anteriormente.
Nesse aspecto, o pontificado de
Bento XVI (2005-2013) visou costurar uma linha histórica que parecia ter sido
rompida com o Vaticano II. Ratzinger participara do Concílio e, como papa,
procurou criar uma Hermenêutica da Continuidade, uma interpretação do
Vaticano II que o colocaria como uma continuidade com o período precedente e
não como uma ruptura.
Frente a isso, Bento XVI favoreceu
certos agrupamentos conservadores, inclusive alguns em situação irregular, como
é o caso da Fraternidade Sacerdotal São Pio X. Os efeitos foram os mais
diversos e os grupos progressistas começaram a demonstrar descontentamento.
Mesmo assim, Bento XVI, paulatinamente, foi tecendo aquilo que considerava
necessário para uma legítima interpretação do Concílio, de modo particular, em
sua liturgia. Pois esta, ligada à fé, determinaria qualquer outra interpretação
sobre os demais documentos emitidos pelo Concílio, desde aqueles que visam
determinar o papel da Igreja no mundo até aqueles que tratam das relações
ecumênicas.
Aos 13 de março de 2007 foi
publicada a exortação apostólica pós-sinodal Sacramentum Caritatis, por
meio da qual o pontífice recomendou o uso do latim e do canto gregoriano na
liturgia:
[42] [...] em
liturgia, não podemos dizer que tanto vale um cântico como outro; a propósito,
é necessário evitar a improvisação genérica ou a introdução de gêneros musicais
que não respeitem o sentido da liturgia. Enquanto elemento litúrgico, o canto
deve integrar-se na forma própria da celebração; consequentemente, tudo – no
texto, na melodia, na execução – deve corresponder ao sentido do mistério
celebrado, às várias partes do rito e aos diferentes tempos litúrgicos. Enfim,
embora tendo em conta as distintas orientações e as diferentes e amplamente
louváveis tradições, desejo – como foi pedido pelos padres sinodais – que se
valorize adequadamente o canto gregoriano, como canto próprio da liturgia
romana. (SC, n.41). [62] [...] A fim de exprimir melhor a unidade e a
universalidade da Igreja, quero recomendar o que foi sugerido pelo Sínodo dos
Bispos, em sintonia com as diretrizes do Concílio Vaticano II: excetuando as
leituras, a homilia e a oração dos fiéis, é bom que tais celebrações sejam em
língua latina [...] (Bento XVI, 2007).
Gradualmente, como um professor que
tem um longo curso pela frente, Bento XVI foi relembrando por meio de suas
ações litúrgicas, homilias, Angelus e discursos, aquela identidade
católica que parecia sufocada por diversas inovações. Seus paramentos
litúrgicos eram aqueles usados por papas do passado, seu altar, mesmo com a
missa voltada para o povo, tinha ao centro a cruz; as procissões e gestos enfatizavam
a doutrina da transubstanciação. Quando celebrava na Capela Sistina, usava o
altar original, portanto, uma missa versus Deum, sempre enriquecida pelo
latim e o canto gregoriano.
A comunhão era distribuída na boca,
sob um genuflexório para aqueles que comungavam com o papa. O Salve Regina
ou as curtas antífonas marianas eram entoadas ao final de cada missa. Aos
poucos, sua hermenêutica da continuidade ia sendo instalada no imaginário do
católico e, principalmente, do clero.
No ano de 2009, a Igreja viveu o um
ano sacerdotal. A figura escolhida de modelo para o sacerdote do pós-Vaticano II
não foi nenhum padre cantor ou algum revolucionário latino-americano, mas São
João Maria Vianney (1786-1859), no 150º aniversário de sua morte. O já
conclamado patrono dos padres diocesanos, tornava-se referencial para os
sacerdotes de hoje, O cura d’ars vivenciara os ares revolucionários
vindos da França e mantivera sua ação calcada nos sacramentos e nas verdades de
fé católicas:
[...] Na França,
no tempo do Santo Cura d’Ars, a confissão não era mais fácil nem mais frequente
do que nos nossos dias, pois a tormenta revolucionária tinha longamente
sufocado a prática religiosa. Mas ele procurou de todos os modos, com a
pregação e o conselho persuasivo, fazer os seus paroquianos redescobrirem o
significado e a beleza da Penitência sacramental, apresentando-a como uma
exigência íntima da Presença eucarística. Pôde assim dar início a um círculo
virtuoso. Com as longas permanências na igreja junto do sacrário, fez com que
os fiéis começassem a imitá-lo, indo até lá visitar Jesus, e ao mesmo tempo
estivessem seguros de que lá encontrariam o seu pároco, disponível para os
ouvir e perdoar. Em seguida, a multidão crescente dos penitentes, provenientes
de toda a França, haveria de o reter no confessionário até 16 horas por dia.
Dizia-se então que Ars se tinha tornado «o grande hospital das almas». «A graça
que ele obtinha [para a conversão dos pecadores] era tão forte que aquela ia
procurá-los sem lhes deixar um momento de trégua!»: diz o primeiro biógrafo. E
assim o pensava o Santo Cura d’Ars, quando afirmava: «Não é o pecador que
regressa a Deus para Lhe pedir perdão, mas é o próprio Deus que corre atrás do
pecador e o faz voltar para Ele». «Este bom Salvador é tão cheio de amor que
nos procura por todo o lado» (Bento XVI, 2009).
A continuidade de uma
espiritualidade ligada ao período de perseguição a que a Igreja passara parece
clara; da mesma forma, o referencial de sua história recente ganhara destaque
na busca de definição de sua identidade. Um modelo de padre para os tempos hodiernos
não é retirado do pós-Vaticano II, mas de um dos períodos mais avassaladores
para a história da Igreja, o dos ecos da Revolução Francesa: mortificação,
oração e caridade contra os ventos revolucionários que questionavam os
ensinamentos da Igreja. Os tempos e os ventos parecem outros, mas a resposta de
Bento XVI para eles é a mesma.
Bento XVI dera sequência ao reparo
daquilo que considerava uma injustiça (Ratzinger, 1996, p.141). Deu liberdade
aos padres para celebrarem a liturgia antiga, retirou as excomunhões da
Fraternidade Sacerdotal São Pio X e buscara mais uma vez barrar as ondas
liberais que ainda ecoavam da Revolução Francesa e os abalos à fé que vieram no
subsequente século XIX.
O professor tentara, gradualmente,
ir reeducando o católico no catolicismo, aplicando o que considerava ser a real
intenção do Concílio, um aggiornamento, uma atualização, uma renovação,
sem perder sua identidade, sua fé. Uma continuidade e não uma ruptura com sua
história.
No entanto, Chronos se fez
presente, seu Kairós foi interrompido. O peso da idade fez-se sentir.
Foi preciso interromper as lições, o velho professor da Baviera pedira
aposentadoria. Alegando cansaço físico e espiritual, Bento XVI renunciou em
meio a mais uma crise na Igreja, com o vazamento de documentos do Vaticano,
escândalos de pedofilia, bem como, corrupção no Istituto per le Opere di
Religione (IOR), que funciona como um banco do Vaticano.
De forma inédita, adotou o título
de papa emérito, não retornando ao papel de cardeal. Um novo Conclave foi então
realizado e como sucessor de Bento XVI foi eleito o cardeal argentino,
Bergoglio, que assumira o nome de Francisco que, por sua vez, pouco após a
fumaça branca tomar os céus da Praça de São Pedro, saiu para abençoar os féis
diante da Basílica de São Pedro, mas, antes de o fazer, pediu ao povo sua
benção (um gesto elogiado por muitos, mas que soa semelhante ao velho populismo
peronista argentino). Seu estilo imediatamente contrastara com o do antecessor;
aparentemente, surgira já ali uma mudança de curso e discurso para a Igreja
Católica.
Foram retomadas notícias sobre
informações vazadas do Conclave de 2005, que elegera Ratzinger e fizera
Bergoglio o candidato de oposição, ficando este em segundo lugar. Agora, com a
saída de Bento XVI, Bergoglio se tornara o papa. Estes dados, por segredo
pontifício, deveriam ser sigilosos; portanto, não são oficiais, mas é notória
uma discrepância e possíveis interesses no vazamento de tais informações.
De qualquer forma, nos idos dos
sessenta anos do Vaticano II, um de seus filhos, Ratzinger, quando papa, tentou
dar um sentido de continuidade histórica, barrando aquelas ondas que assolam a
barca de Pedro desde as repercussões anticlericais do Iluminismo.
O
PAPA BERGOGLIO
Não cabe aqui analisar a sequência
dos atos que se seguiram a essa última ação de Bento XVI como papa, mas é
notório que mal a Sedia de Pedro esfriara, com Bento XVI ainda vivo,
isolado dentro dos Muros Leoninos, toda a sua atuação foi sendo desmontada. Não
só aquela fumaça penetrara na Igreja, mas, agora, também aquelas turvas águas
se fizeram presentes.
A atuação de Francisco (2013-2025)
trouxe consigo contornos de antagonismo ao pontificado de Bento XVI, como se
verá nas linhas que se seguem. Suas determinações e modus operandi produziram
uma aglutinação dos setores eclesiais, o progressista e o conservador, em torno
de Francisco e Bento XVI.
Ratzinger foi identificado com a
tradição católica, fato expresso, de modo singular, em seu estilo sóbrio nas
celebrações litúrgicas e homílias de forte embasamento teológico. Bergoglio,
por sua vez, fez uso de uma linguagem mais popular e buscou transparecer uma
imagem de um bispo simples em meio à Cúria Vaticana.
Para a Missa de inauguração de seu
Pontificado, enviou mensagem aos fiéis de seu país natal solicitando-lhes que
não fossem a Roma, mas fizessem um gesto de caridade ao invés de gastar
dinheiro com passagem (Télam, 2020). Claro que este desejo foi tornado público,
junto ao uso de batina velha, com mangas esfarrapadas, ou a decisão de
permanecer morando na Casa Santa Marta e não no Palácio Apostólico, ou ainda, o
fato de querer um anel de pescador feito de prata e não de ouro como de praxe.
Em 2014 foi realizado um
Consistório sobre a família. Nele, por ação do cardeal Kasper, sob tutela de
Francisco, indicou-se caminhos para readmitir à comunhão os divorciados
recasados, o que alteraria a tradição e doutrina acerca deste sacramento (IHU,
2020) e colocaria Francisco em clara oposição a Bento XVI e João Paulo II
(1978-2005). Desde então, ficou evidente que mais uma vez a Roda da Fortuna
girou na Igreja, enquanto um setor cai o outro ascende. No caso, os
conservadores começaram a perder terreno enquanto a ala progressista começara a
ganhar espaço.
Os primeiros passos de Francisco na
direção de uma heterodoxia e favorecimento da ala progressista da Igreja fez
com houvesse questionamentos sobre a validade da renúncia de Bento XVI e,
consequentemente, sobre a eleição do papa argentino. Bento XVI, de sua reclusão
autoimposta, pronunciou-se afirmando não haver nenhuma dúvida da validade de
sua renúncia do ministério petrino (Reuters, 2014), mas ao longo dos anos, os
setores descontentes com a administração de Francisco só cresceriam e fariam
questionar esses elementos.
Francisco em gestos e decisões
mostrara-se alinhado às pautas progressistas, ao mesmo tempo em que se voltara
contra os chamados conservadores e a Cúria Romana.
Assim, têm-se
notícias de sacerdotes julgados muito conservadores por suas próprias ordens,
aos quais não se permitiu professarem aqueles votos particulares, típicos da
própria ordem; promoções – e regressões – nos dicastérios da Cúria, julgados
com base no “progressismo” ou “conservadorismo” dos interessados; até de
possíveis decisões em níveis muito mais altos, relativos à mudança de cardeais
julgados “conservadores” para dioceses de nível médio, ao contrário de ad
majora.
Uma das últimas
notícias veio de Nova York, onde um sacerdote sul-africano, ligado à
representação da Santa Sé junto à Nações Unidas, apaixonado pela Missa segundo
o Rito antigo (a Missa na forma extraordinária), pronunciou um sermão no qual
sublinhava a necessidade de haver sacerdotes que tivessem amor e sensibilidade
pelo Rito antigo. A homilia apareceu na internet. Depois que o sacerdote
desdisse todo o seu esforço por celebrar a missa, parece que voltará logo para
a África do Sul. (Tosatti, M. 2014).
Ordens ligadas à Forma
Extraordinária do Rito Romano sofreram constantes intervenções, como é o caso
dos Franciscanos da Imaculada. Bispos, também de perfil conservador, foram afastados
e destituídos de seus cargos. Um caso singular foi o de Mons. Rogelio Livieres
Plano, de origem argentina, mas até então bispo de Ciudad del Este, no
Paraguai. O Seminário de Livieres atraía jovens de várias partes da América
Latina devido ao seu perfil alinhado à hermenêutica da continuidade de Bento
XVI. O então cardeal Bergoglio já demonstrara descontentamento com esse fluxo
de seminaristas para lá. Eleito papa, Bergoglio não hesitou em destituí-lo de
suas funções. (Montfort, 2014).
Na mesma linha ratzingeriana de
Livieres, o cardeal Raymond Leo Burke também despertou a atenção de Francisco e
recebeu do papa uma série de ações: de prefeito do Tribunal Supremo da
Assinatura Apostólica, foi degradado ao rol puramente honorífico de patrono de
uma ordem de cavalaria, a Ordem de Malta, que, por sua vez, passou a receber
ingerências diretas da Santa Sé. (Magister, S. 2014).
Após a Queda do Muro de Berlim em
1989, e o fim da URSS em 1991, as alas políticas ligadas ao pensamento de esquerda
redefiniram a relação dialética oprimido-opressor (proletariado-burguesia) para
uma pauta ecológica; a Terra/Mãe Natureza/Casa Comum ganhou contornos de
vítima. Esse dado é sentido também nos expoentes da Teologia da Libertação,
como é caso de Leonardo Boff, que igualmente seguiu nessa linha discursiva
(BOFF, 2020).
Francisco embarcou nessa onda e
publicou uma encíclica chamada Laudato Si’ sobre o tema (FRANCISCO,
2015), na qual os elementos da fé católica foram relegados a segundo plano
frente às preocupações com a poluição e mudanças climáticas. Um olhar mais
acurado poderia destacar nuanças de um panteísmo cosmológico nas entrelinhas do
documento ao sugerir constantemente a conexão de toda a criação nos moldes
opostos à dissociação do homem em relação a sua casa comum ou da natureza.
Destruir a natureza ganhou graus de equivalência à destruição do homem,
portanto, mais um pecado para o fiel católico se abster, um pecado ecológico.
Defendendo uma ecologia integral, Francisco abarcou todos os temas da agenda
socioambiental progressista.
Em termos doutrinais e morais,
seguindo o que havia sido iniciado em 2014, no Consistório de fevereiro, com o
cardeal Kasper, realizou-se um Sínodo sobre a família entre 2014 e 2015, o que
levou à publicação da Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris laetitia
(FRANCISCO, 2016), aos oito de abril de 2016. O papa Bergoglio pronunciou-se
oficialmente sobre problemas de moral conjugal, em discussão há dois anos, de
modo particular abrindo, mesmo que não declaradamente, a possibilidade para a
comunhão para os divorciados recasados. O critério do acesso à comunhão foi
deixado ao “discernimento pessoal” do indivíduo, feito através do “diálogo com
o sacerdote, no foro interno” (AL §300).
Intelectuais católicos escreveram
ao papa solicitando esclarecimento sobre aspectos heterodoxos da Amoris
Laetitia, mas foram ignorados. Quatro cardeais (Walter Brandmüller, Joachim
Meisner, Carlo Cafarra e Raymond Burke.), então, aos dezenove de setembro de
2016, escreveram ao papa Francisco uma carta na qual pediam que esclarecesse
cinco pontos desta exortação apostólica. Foram solenemente ignorados. Em
novembro do mesmo ano a missiva foi divulgada pelo vaticanista italiano Sandro
Magister (Magister, 2016).
Os purpurados assinalaram que a
carta “nasce de uma profunda preocupação pastoral” frente ao encontro de “um
grave desconcerto em muitos fiéis e uma grande confusão a respeito de questões
muito importantes para a vida da Igreja”. Agiram, portanto, norteados pelo
direito canônico e em conformidade com a missão cardinalícia de colaborar com o
ministério petrino. Por isso, dirigiram os dubia (do latim, dúvidas),
questões formais, ao papa e à Congregação para a Doutrina da Fé, pedindo uma
clarificação acerca de temas particulares relativos à doutrina ou a sua
prática.
Foi a primeira vez que se
levantaram vozes fortes contra Francisco, contra o que fora chamado de confusão
doutrinal presente em um documento papal, mas não apenas nele. Ao final de
2016, Francisco havia se encontrado com Luteranos para comemorar os Quinhentos
anos do Cisma Protestante de 1517, o Vaticano chegou emitir selo com a figura
de Lutero e o papa, ao receber uma delegação de luteranos na sala Paulo VI, deixou-se
fotografar ao lado de uma imagem daquele que deu início ao protestantismo (Rádio
Vaticana, 2016).
Os quinhentos anos do Cisma
Luterano ganharam mais atenção do papa que o centenário dos eventos de Fátima
(1917), tão caro para os católicos de todo o mundo. O ano de 2017 começou
deixando claro o antagonismo do papa Francisco não apenas em relação a seu
predecessor, mas também em relação a uma grande parcela da Igreja que governara.
No início de fevereiro, apareceram vários cartazes afixados pelas ruas de Roma
com um recado ao papa Francisco: “Você comissariou congregações, removeu
sacerdotes, decapitou a Ordem de Malta e os Franciscanos da Imaculada, ignorou
Cardeais… mas cadê a tua misericórdia?” (G1, 2017). A citação à misericórdia é
a ironia do cartaz, já que o papa havia proposto um Ano da Misericórdia e
tentou cunhar sua imagem em torno desse carisma.
O papa Bergóglio chegou a receber
uma Correção Filial, algo que não era visto na história da Igreja desde João
XXII, em 1333, quando os fiéis católicos corrigiram o seu Sumo Pontífice que
ensinara opiniões heréticas. O documento afirmara que o papa, por meio da
Exortação Apostólica Amoris laetitia e por outros atos magisteriais, havia
declarado sete proposições heréticas acerca do casamento, da vida moral e da
recepção dos sacramentos, facilitando a propagação de heresias na Igreja
Católica (Correctio Filialis, 2017).
O silêncio de Francisco a todos os
levantes contra ele foi algo que marcou 2017 e foi quebrando apenas quando ele
anunciou um novo Sínodo, desta vez, para a Pan-Amazônia, a se realizar no ano
de 2019. Não respondeu aos dubia ou à correção filial, mas criou um novo
foco para seu Pontificado, desta vez marcado pelo questionamento ao celibato
sacerdotal: uma possível experiência de Viri probati, homens provados na
fé, algo que já existe para o primeiro grau da ordem (o diaconato) desde o
Vaticano II, poderia ser estendido para padres em situações particulares, como
é caso da região amazônica.
Enquanto isso, o número de fiéis a
visitar o Vaticano e ver o seu papa entrara em declínio, o que evidenciava que
Francisco falava cada vez mais para um número reduzido de pessoas, geralmente,
os que lhe são próximos e de semelhante progressismo. João Paulo II teve um
comparecimento médio de 32 mil pessoas e Bento XVI de 33 mil. De janeiro de
2015 a dezembro de 2017, Francisco alcançou apenas 9.041 (En News, 2018).
A visita que realizou ao Chile e ao
Peru ficou marcada pela baixa assistência às cerimônias presididas pelo
Pontífice e pela polêmica envolvendo suas declarações acerca do caso do bispo Juan de la Cruz Barros Madrid. Francisco, em intervenção
considerada extremamente rude, chamou de calúnias as acusações de que o bispo
teria participado de atos abusivos, o que causou enorme repercussão, levando o Cardeal Sean O’Malley, responsável pela Pontifícia
Comissão para Tutela de Menores,
afirmar que o papa “causou muito sofrimento às vítimas” (IHU, 2018).
Já em 2018, o Pontificado de
Francisco sofreu outro grande abalo, que foi respondido, mais uma vez, com o
silêncio. Conhecido como o Caso Viganò, uma série de declarações do
antigo núncio apostólico nos Estados Unidos, o Arcebispo Carlo Maria Viganò,
que teve por cume o pedido para que o papa Bergoglio renunciasse (VIGANÒ,
2018). Entre as declarações do ex-núncio, está a denúncia de que Bento XVI
tentou punir o ex-Cardeal McCarrick (arcebispo emérito de Washington
envolvido em casos de abusos sexuais nos EUA), mas o papa Francisco e o Cardeal
Wuerl, embora cientes das sanções e razões, promoveram-no e honraram-no.
O Papado de Francisco a cada dia
demonstrava sinais de desgaste, o Sínodo da Amazônia parece ter sido o ponto
nefrálgico para constituição de um processo de organização para um próximo
Conclave, os setores da Igreja apresentam-se claramente divididos frente ao que
foi ali realizado. Polêmicas em torno de uma imagem da deusa latino-americana
Pachamama, os avanços nas discussões sobre o celibato clerical e a renovação do
Pacto das Catacumbas, conduziram a respostas cada vez mais graves por parte da
ala conservadora e o Vaticano pareceu ter ficado pequeno demais para dois papas.
A Pachamama, estátua de madeira que
representa uma mulher grávida e simboliza a mãe terra dos povos andinos foi
usada, no dia 4 de outubro de 2019, em ritual indígena que contou com a
presença do papa Francisco, em meio aos trabalhos do Sínodo. Posteriormente,
imagens da divindade pagã foram colocadas dentro de Igrejas em Roma. Fiéis
católicos, sentindo-se incomodados pelo desrespeito ao primeiro mandamento,
adentram à Igreja, pegaram as imagens e as lançaram no Tibre. As imagens foram
recuperadas e o papa Francisco chegou a falar em apresentá-las na Basílica de
São Pedro no encerramento do Sínodo, mas deve ter sido aconselhado a não o
fazer, pois elas não apareceram por lá (Acidigital, 2019).
Para além da tendência panteísta do
Instrumentum Laboris do Sínodo, da exaltação, de vertente rousseuniana,
do indígena como bom selavagem (IL n.75), o questionamento do celibato
clerical por meio da proposta dos viri probati foi o que deu o norte
midiático sobre este encontro de bispos da região Pan-Amazônica (IL n.
43).
A proposta de um clero não
celibatário foi acompanhada do destaque dado à ala progressista da Igreja com
os signatários da Teologia da Libertação. Dom Cláudio Hummes, arcebispo emérito
de São Paulo, usando a estola que pertencera à Dom Helder Câmara, presidiu a
renovação, nas Catacumbas de Domitila, do gesto feito ainda durante o Vaticano
II, por um determinado número de clérigos sob a liderança de Dom Helder (A12,
2019). Desta vez, não foi apenas em nome de uma opção para com os pobres, mas
em nome da casa comum, o que corrobora o fenômeno comum aos grupos de esquerda
após a Queda do Muro de Berlim, como fora mencionado anteriormente.
Eis a questão, o papa emérito Bento
XVI quebrara o silêncio. Duas vozes dissonantes, a do papa reinante e daquele
que abdicou do ministério petrino e se propôs à reclusão, mas que era
constantemente chamado a se manifestar. É de fato uma situação ímpar na
história da Igreja e que tende a minar a autoridade do Papado independente de
quem lá esteja ocupando a Cátedra de Pedro.
Anteriormente ao Sínodo, Bento XVI
lançou um breve escrito com o título A Igreja e o escândalo do abuso sexual
(APA, 2019), no qual apontou os seguintes pontos para essa situação: a
revolução sexual e o relativismo moral que penetraram na formação dos
candidatos ao sacerdócio, sob o ativismo de grupos homossexuais no clero. Esses
elementos nunca foram tratados por Francisco, que preferia sempre culpar um
suposto clericalismo por esses atos.
Na questão do celibato clerical e
dos viri probati, o lançamento do livro do cardeal Oullet, Amigos do
Esposo: por uma visão renovada do celibato sacerdotal, foi uma resposta ao
desejo dos padres sinodais em questionar a tradição da Igreja Ocidental. E,
logo após o Sínodo, o lançamento do livro do Cardeal Sarah, Do fundo de nossos
corações [em tradução livre], veio demonstrar bem a crise do Papado, com seus
dois papas, o reinante e o emérito. Ambos os livros são defesas do celibato
clerical, mas o do cardeal Sarah veio acompanhado da polêmica coautoria de
Bento XVI.
O cardeal Sarah chegou a mostrar as
cartas trocadas com Bento XVI e os textos escritos pelo papa emérito, pois o
secretário pessoal do papa Ratzinger, mons. Gänswein, veio a público explicar
que houve uma solicitação para que o cardeal retirasse a coautoria, mas
mantivesse os textos, que tudo não teria passado de um mal entendido por parte
do cardeal. (Aciprensa, 2020). O que teria feito Bento XVI recuar? Esta
pergunta permanecerá aberta, mas o conflito interno na Igreja é evidente.
Deste imbróglio, que teve início
com a publicação do livro do cardeal Sarah e que culminou na apresentação da
exortação pós-sinodal, ao menos uma vítima pôde ser vista, ou melhor,
desaparecida. Mons. Georg Gänswein, o arcebispo entre dois papas, o
secretário pessoal de Bento XVI e prefeito da Casa Pontifícia, foi afastado da
presença de Francisco. Oficialmente, ganhou uma licença indefinida para se
dedicar mais à Bento XVI e desde o fim de janeiro já não era mais visto nas
audiências públicas de Francisco (Die Tagespost, 2020).
Quanto à questão litúrgica, houve
um verdadeiro desmonte das ações de Bento XVI. O Pontificado do papa Francisco caracterizou-se
por uma série de medidas normativas e disciplinares que resultaram em
significativas restrições à celebração da Missa Tridentina. A promulgação do motu
proprio Traditionis custodes, em 16 de julho de 2021, pode ser considerado
o marco decisivo. Por meio dele, Francisco revogou as disposições do Summorum
Pontificum, de Bento XVI (2007), que apresentava o rito romano em duas
formas.
Francisco, por meio do novo
documento, restringiu severamente o uso do Missal de 1962, declarando que a
única expressão da lex orandi do rito romano passa a ser o Missal
promulgado por Paulo VI e revisto por João Paulo II (Francisco, 2021a). A
celebração da liturgia tridentina, portanto, fica condicionada à autorização do
bispo diocesano, que deve consultar previamente a Santa Sé e garantir que tais
celebrações não ocorram em igrejas paroquiais nem deem origem a novos grupos
ligados a essa forma litúrgica (Catholic News Agency, 2021).
Acompanhando esse motu proprio,
Francisco publicou uma carta aos bispos, na qual afirma que a ampliação do uso
da forma extraordinária, nos termos de Summorum Pontificum, contribuiu
para acentuar divisões internas, fomentar oposições ao Concílio Vaticano II e
criar tensões eclesiais (FRANCISCO, 2021b). O papa observava ainda que a
liturgia tradicional vem sendo instrumentalizada por setores que rejeitam o
magistério conciliar e dificultam a comunhão eclesial. Nesse contexto, as novas
restrições são justificadas como meio de preservar a unidade da Igreja e de
reafirmar a autoridade do concílio e da reforma litúrgica por ele impulsionada.
Esse ponto é de suma importância, pois recentemente, já sob o pontificado de
Leão, vieram a público documentos que desmentem esta justificativa, conforme
documento vazado, divulgado pela vaticanista Diane Montagna (Montagna, 2025), a maioria dos
bispos que responderam a um questionário, enviado pela Santa Sé, declarou que
fazer mudanças legislativas no Summorum Pontificum causaria mais mal do
que bem.
Francisco, desconsiderando os
pontos positivos apontados pelos questionários, implementou uma ação litúrgica
de centralização e uniformização, fato reforçado por meio de outro documento: o
Desiderio desideravi, por meio do qual o papa Bergóglio insistiu em uma
leitura da reforma litúrgica pós-conciliar que tende à ruptura com a tradição
bimilenar da Igreja. O papa reafirmou que não há retorno ao passado e que o
Missal de 1962 não pode ser considerado um caminho legítimo para a vida
litúrgica da Igreja atual (Francisco, 2022).
Além dos documentos doutrinais e
disciplinares, ações institucionais reforçaram essa reorientação. Em janeiro de
2019, foi extinta a Pontifícia Comissão Ecclesia Dei, órgão criado por
João Paulo II em 1988 para facilitar a reconciliação com os grupos
tradicionalistas. Suas competências foram absorvidas pela Congregação para a
Doutrina da Fé (CDF), reduzindo o espaço institucional dedicado ao diálogo com
os fiéis ligados à Missa Tridentina (Mickens, 2019).
A política de restrição foi
reafirmada com o rescrito de 21 de fevereiro de 2023, que determinou que todas
as autorizações futuras para a celebração da liturgia tridentina, inclusive
para padres ordenados após a promulgação do Traditionis custodes,
deverão receber aprovação direta da Sé Apostólica, por meio do Dicastério para
o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos (AP News, 2023). Essa medida
consolidou a centralização das decisões litúrgicas no Vaticano, enfraquecendo a
autonomia dos bispos diocesanos.
Essas ações refletem uma inflexão
importante na expressão litúrgica da Igreja, revertendo a liberdade
implementada por Bento XVI e consolidando uma posição afrontosa em relação ao
movimento tradicionalista. Expressa ainda um fato corriqueiro no pontificado de
Francisco, o fato de governar por meio de motu próprio: em seu
Pontificado, de pouco mais de 12 anos, foram mais de 90, como se pode constatar
em consulta ao site do Vaticano, contrastando com Bento XVI, que emitiu 13 em
seus 8 anos à frente da Igreja, e João Paulo II que emitiu apenas 29 em seus
mais de 26 anos de pontificado.
As ações de Francisco só aumentaram
a tensão entre essas comunidades e a Santa Sé, fato que permanece como um
desafio pastoral e teológico não resolvido, evidenciando os limites da atual
política de centralização litúrgica.
Some-se a isso ainda o fato de, no crepúsculo
de seu Pontificado, Francisco nomear o arcebispo Víctor Manuel Fernández para
liderar o Dicastério para a Doutrina da Fé. Em dezembro 2023, o Dicastério, sob
a liderança de Fernández, publicou a declaração Fiducia Supplicans: sobre
o sentido pastoral das bênçãos, que autorizou a possibilidade de padres
conferirem bênçãos a casais em situação irregular, inclusive pares do mesmo
sexo, desde que não sejam confundidas com reconhecimento matrimonial. O
documento esclarece que tais bênçãos não devem fazer parte de ritos litúrgicos
nem assumir formações que equiparem tais uniões ao matrimônio cristão (Catholic
News Agency, 2023).
A repercussão mais contundente
contra o Fiducia Supplicans veio de diversas conferências episcopais
africanas. Os bispos de países como Nigéria, Zâmbia, Malawi, República
Democrática do Congo e outros anunciaram que não aplicariam o documento em suas
jurisdições. Em carta coletiva, bispos africanos afirmaram que o conteúdo do
documento é incompreensível para a maioria dos fiéis e incompatível com a
cultura africana, que considera as uniões homossexuais como inaceitáveis. (African
Synodality, 2024). Mais um problema a ser resolvido pelo novo papa eleito, Leão
XIV.
CONCLUSÃO:
Leão XIV, uma incógnita.
Ao encerrar as escritas dessas
linhas, o papa recém-eleito encontra-se no seu terceiro mês de Pontificado, acabara
de voltar de suas férias de verão em Castel Gandolfo, o que expressa a retomada
de uma tradição descontinuada por Francisco, que havia abandonado esse costume.
Nesses três meses, muitos discursos
foram feitos pelo papa que sempre retoma algo dito por Francisco, mas lhe dá novos
contornos. Suas formas litúrgicas já não lembram tanto Francisco, nem Bento
XVI, mas ecoam muito de João Paulo II.
Ainda é muito cedo para entendermos
a real persona de Leão. A memória de Francisco ainda é forte, os conflitos
entre os setores eclesiais apareceram em meio às reuniões de cardeais que
antecederam o Conclave que o elegeu. Ao que tudo indica, um papa de consenso,
um papa de compromisso entre os grupos, alguém que pudesse manter uma imagem de
unidade em uma Igreja em crise identitária, foi a escolha do Colégio de cardeais.
Fato que casa bem com seu lema: “In Illo uno unum”, lema esse que reflete
a doutrina agostiniana da unidade em Cristo, onde, apesar de haver muitos
membros, a Igreja é uma só em Cristo. Caberá ao novo papa, matemático, saber
somar as diferenças e resolver a equação espelhada no Vaticano II e suas
interpretações feitas nos últimos sessenta anos.
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